
O acervo pessoal de Poty Lazzarotto (1924-1998) aguarda em um apartamento no Cristo Rei, onde o artista curitibano viveu seus últimos anos, enquanto João Lazzarotto tenta viabilizar os planos para a criação de um espaço de exposições dedicado ao irmão.
São mais de 4 mil obras, pelas contas da amiga da família e restauradora Maria Ester Teixeira Cruz, que há dez anos cuida da conservação e do restauro desse material, auxiliada pela irmã Carmem Sílvia.
"Poty fazia muitas exposições e vendia muitas obras. O que ele guardou, desde estudante, está aqui", diz Maria Ester, referindo-se ao apartamento, aonde vai duas vezes por semana para tratar das obras deixadas pelo artista algumas danificadas pela umidade, com sinais do tempo irreparáveis.
No local, desenhos, gravuras e estudos em papel, madeira e azulejo obras de pequeno porte do artista consagrado pelos grandiosos painéis que adornam a cidade (como o que ilustra esta página) descansam sobre mesas e prateleiras, encostados na parede ou, a maior parte, arquivados. Estão à disposição do público, mas apenas em visitas agendadas, poucas pessoas por vez.
"O Poty deixou em seu comodato que uma das obrigações era a exposição permanente das suas obras. Ele não admitia obra engavetada", diz o irmão.
Em 2003, uma casa na Rua Souza Naves foi comprada com a intenção de abrigar a Fundação Poty Lazzarotto e cumprir a vontade do artista. A residência, construída em 1915, era de propriedade da família Giraldi, padrinhos de João e Poty. Por ser preservada como unidade histórica, a autorização da prefeitura para reformá-la tardou três anos, segundo afirma João Lazzarotto. "A gente encontra mais dificuldades do que apoio", diz o cartorário, que não conta com incentivo público para a empreitada.
A residência, de alvenaria, estava com a parte interna de madeira comprometida. Nos últimos dois anos, foi restaurada do assoalho ao forro. Seria transformada em uma casa de artes, onde funcionaria uma escola de arte. "Mas, vendo a realidade, uma fundação tem uma série de burocracias que envolvem o Ministério Público, a Receita Federal, então, pensamos em fazer um memorial, que a família pode administrar", diz Lazzarotto.
Ainda não é certo se o memorial, que manterá o acervo de Poty aberto à visitação, será instalado na residência histórica do bairro do Cristo Rei. A casa apresenta problemas para sua manutenção e segurança, por ter várias entradas. Diante das dificuldades, o cartorário estuda outra possibilidade: a construção do memorial em outro terreno do bairro, atendendo desde o início às necessidades para receber em segurança as obras e a visitação do público. O projeto está nas mãos do arquiteto Rodolfo Doubek.
O Vagão do Armistício
Antes de decidir o destino das obras do irmão, porém, João Lazzarotto quer reaver outra memória de família. As lembranças do antigo restaurante O Vagão do Armistício, de propriedade dos pais deles, Issac e Júlia Lazzarotto.
O local, situado no Cristo Rei, foi um tradicional ponto de encontro gastronômico dos notáveis da política e das artes que passavam pela capital paranaense por volta dos anos 1940, como o interventor Manoel Ribas e os atores Procópio Ferreira e Tônia Carreiro.
O acervo de fotografias e objetos ficou em poder da Fundação Cultural de Curitiba. "Estava na reserva técnica do Museu de Arte Metropolitana, no Portão, que agora está fechado", diz Maria Ester.
Lazzarotto pretende recuperá-lo para que faça parte do memorial, que se somará a dois outros espaços culturais privados dedicados à preservação da obra de artistas curitibanos: o Centro Cultural e Gastronômico Alberto Massuda, aberto recentemente, e o Centro Cultural Guido Viaro, que deve ser inaugurado até o fim do ano.





