
Parem para pensar. O que Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Cinderela (1950) e A Bela Adormecida (1959), três desenhos animados clássicos de Walt Disney, têm em comum? Todos são filmes cujas protagonistas são jovens em perigo, que já são ou se tornarão princesas. Mas não sem antes ganhar um beijo, ou um sapato de cristal, de um príncipe. "Encantado", de preferência.
De uns tempos para cá, a Disney andou mudando a toada, buscando produzir filmes que dialogassem melhor com o tempo presente. Se em Mulan (1998), a heroína, uma menina chinesa, se fazia passar por rapaz e, em A Princesa e o Sapo (2009), inovou com uma protagonista negra, Frozen Uma Aventura Congelante, que está sendo lançado em DVD e Blu-ray, altera o rumo da conversa, embora, na superfície, a história se pareça bastante com um produto tradicional dos estúdios do Mickey Mouse.
Empoderamento
O filme não apenas se tornou a animação de maior bilheteria de todos os tempos, com uma renda mundial acumulada de mais de US$ 1,1 bilhão, como também venceu dois Oscars: melhor longa-metragem de animação e canção original, para "Let It Go" ("Livre Estou"), que pode ser descrita como uma balada de empoderamento de uma das protagonistas, a princesa, e depois rainha, Elsa.
Baseado livremente no conto "A Rainha da Neve", do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, Frozen, assinado pelos diretores Chris Buck e Jennifer Lee, tem em comum com sua matriz o fato de a personagem central ter o poder de manipular a neve. E só.
Na versão da Disney, a história é focada na relação entre duas irmãs, Elsa e Anna, ambas princesas. A primeira, mais velha e sucessora legítima do trono, é amaldiçoada com o dom de, involuntariamente, transformar tudo que toca em gelo. A segunda, que desconhece o problema da mais velha, sofre um grande choque quando a afastam de Elsa. Por conta de seu segredo, vista como uma anomalia, a herdeira da coroa primeiro é mantida reclusa em seus aposentos e, mais tarde, depois de uma trágica tentativa de voltar a interagir com o mundo, se isola num castelo de gelo, distante de seu reino.
Anna, desolada, parte, sozinha e sem o auxílio masculino, em uma jornada para trazer a irmã de volta.
Musical
Frozen parece ter sido feito para ganhar uma segunda vida nos palcos, como um espetáculo musical. Tanto que sua trilha sonora também é um fenômeno comercial apenas nos Estados Unidos vendeu 1,8 milhão de cópias, metade das quais em formato digital, o que a torna recordista do gênero nesse formato. De autoria do casal Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, as canções se encaixam como uma luva na trama do filme. A música vencedora do Oscar é um grito de independência de Elsa, quando percebe que sua alteridade a impede que conviver em sociedade.
O roteiro de Frozen, embora pareça seguir à risca a cartilha Disney, se diferencia pelos personagens ambíguos que embaralham a compreensão do público e estimulam, sobretudo as crianças, a refletir sobre a história, e a concluir que as aparências são enganosas. O príncipe, por exemplo, apenas parece heroico e perfeito. O plebeu, um camponês tosco e atrapalhado, se revela muito mais corajoso, mas também não é o salvador da pátria. E o boneco de gelo, que tem a função de alívio cômico, não é exatamente apenas fofo: não consegue conter seu senso de humor algo ferino. E as protagonistas são autossuficientes do princípio ao final (feliz). GGG1/2




