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Entrevista

Um filme sobre deuses e homens

Xavier Beauvois: cinema humanista | Fotos: Divulgação
Xavier Beauvois: cinema humanista (Foto: Fotos: Divulgação)
Des Hommes et des Dieux recria o os últimos meses de vida de religiosos franceses assassinados na Argélia |

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Des Hommes et des Dieux recria o os últimos meses de vida de religiosos franceses assassinados na Argélia

Entrevista com Xavier Beauvois, cineasta francês

Nova York - Embora com forte cunho político Des Hommes et des Dieux (Sobre homens e Deuses, em tradução livre), de Xavier Beauvois não deixa de lado o foco no ser humano. O filme foi destaque nes­­ta semana das sessões de imprensa da 48.ª edição do Festival de Nova York, evento que prima por privilegiar cinematografias que levantam questões relevantes.

O enredo, escolhido pela França para representar o país na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, é inspirado no massacre de monges católicos em Tibhirine, na Argélia, em 1996, supostamente por terroristas islâmicos, recriando o que teriam sido os últimos meses de vida dos religiosos, que prestavam socorro espiritual e médico à comunidade que se formou em torno do mosteiro.

Protagonizado por Lambert Wilson e Michael Lonsdale, entre outros, o filme detalha o cotidiano dos monges e o sentimento de angústia crescente que toma conta dos religiosos à medida que os extremistas e o Exército argelino se enfrentam.

Alguns monges querem abandonar o monastério, mas o monge Christian de Chergé – que foi um dos mártires do massacre – pede que eles reflitam, destacando a importância que a decisão seja coletiva. Uma cena extraordinária, com a câmera fechada no rosto de velhos atores, faz uma alusão ao quadro A Última Ceia, ao som de O Lago dos Cisnes, de Tchaikowsky.

O produtor e roteirista Etienne Comar se valeu dos arquivos de imprensa, dos jornais escritos pelos monges e das anotações de Chergé, caracterizadas por uma sólida vocação em favor do outro, em particular do irmão muçulmano.

O filme ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano e o Troféu Ecumênico, destinado a produções com cunho social e humanístico.

Na coletiva após a projeção, Beauvois acompanhado de sua equipe, explicou a motivação para realizar o filme.

Qual a inspiração e o foco de Des Hommes et des Dieux?

Desde que tomei conhecimento do que aconteceu em Tibhirine, queria contar essa história. Mas ao lado da religião, eu quis falar principalmente das pessoas e da beleza do relacionamento entre elas.

Como foi a pesquisa para fazer o filme?

Para reunir todos os elementos do filme, precisei construir um retrato monástico detalhado dos princípios seguidos pelos monges. A tensão que eles estavam vivendo, por exemplo, se reflete nas letras das inúmeras orações reproduzidas no filme.

O senhor crê que o filme levantará discussões sobre esse e outros episódios semelhantes?

Acredito que sim. Questões im­­portantes, como as tratadas no filme estão sendo deixadas de la­­do, enquanto outros assuntos, que julgo até secundários, ocupam as manchetes diárias dos jornais e são prioritários na cabeça dos governantes. Hoje, na França, há um debate constante sobre o uso da burca pelas mulheres muçulmanas. Certamente eles são provocados por políticos usando a religião para os seus propósitos.

Como criar o clima de uma comunidade de religiosos como aquela, tão crente de sua missão?

O ser humano que tem fé ganha a liberdade, pratica a fraternidade e assume a igualdade. Mostrar a fé daqueles homens foi a chave do ambiente visto no filme..

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