
O Dia em Que Sam Morreu, espetáculo que a Armazém Cia. de Teatro estreia hoje dentro da programação da mostra principal do Festival de Curitiba 2014, pretende levar ao palco do Guairinha uma discussão bastante urgente no mundo contemporâneo: até onde as pessoas podem chegar, na defesa de pontos de vistas profundamente arraigados, ainda que por vezes equivocados, na tentativa de marcar posições? Segundo o diretor da montagem, Paulo de Moraes, a proposta do texto, escrito por ele em parceria com Maurício Arruda Mendonça, surgiu depois de o grupo participar, ano passado, do Festival de Edimburgo, na Escócia, onde foi premiado com a peça A Marca dÁgua (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).
"Queríamos trabalhar a questão do poder, o seu significado para quem o detém, e como esse poder pode interferir nas vidas de outras pessoas." Moraes acrescenta que, embora essa reflexão possa ter ligações com o momento atual no Brasil, trata-se de uma discussão mais ampla, universal, que passa pela ética.
A montagem da Armazém companhia teatral nascida em Londrina e hoje radicada no Rio de Janeiro se passa no interior de um hospital, em cujos corredores seis personagens têm seus caminhos cruzados. A estrutura do espetáculo é construída a partir das perspectivas dessas pessoas, divididas em duplas. As suas vozes, alternadas, conduzem a trama, marcadas por recomeços, nos quais as situações se reconfiguram a partir dessas subjetividades que se contrastam, e se confrontam.
Segundo Moraes, a escolha por um hospital se deu por se tratar de um espaço de poder. Da morte sobre a vida, ou vice-versa. Dentro de uma estrutura organizacional que prima pela assepsia e, teoricamente, por uma ética bastante rígida, mas passível de ser desafiada a qualquer momento. Com frequência, são tomadas decisões sobre quem merece, ou deve receber mais atenção médica e, portanto, ter direito à vida.
Na trama, o personagem do cirurgião-chefe crê ter poder sobre o destino dos pacientes, e tem nas mãos decisões que atingem a sua equipe ele não mede esforços para chegar aonde pretende. Até o dia em que um jovem armado invade o hospital. Nesse momento, duas visões de mundo parecem colidir, a partir de referências e experiências de vida muito diversas, conflitantes.
A dramaturgia desenvolvida pelo Armazém se caracteriza pela investigação do tempo dramático. As histórias costumam ser contadas dentro de uma estrutura na qual o conteúdo costuma estar, orgânica e dialeticamente, ligado à forma.
O Dia em Que Sam Morreu faz a estreia nacional no Festival de Curitiba, segue para o Rio de Janeiro, e parte para os Festivais de Avignon (França) e Edimburgo.
Cariocas trazem experimentos e peça premiada
Helena Carnieri
Conhecida do público curitibano de outros festivais, a carioca Cia. dos Atores, que completa 25 anos, apresenta a partir de hoje no Sesc da Esquina dois espetáculos experimentais e outro, premiado, mais político e baseado em diálogos.
LaborAtorial e Como Estou Hoje, que estreiam às 19 horas e 21h30, respectivamente, são monólogos que usam formas e apelos sensoriais diferentes. O primeiro, com atuação de Marcelo Valle, usa projeções e outras tecnologias para abordar hábitos e valores contemporâneos tudo a partir da vida do ator e de suas reflexões. Noções científicas e uma atmosfera futurista contribuem para a introspecção.
Já Como Estou Hoje é um solo baseado na ação física, com muito movimento na coreografia de Marcelo Olinto, com texto e direção do coreógrafo João Saldanha. O espetáculo fala das artes e de moda, manifestando também inquietações contemporâneas.
Uma das peças mais aguardadas desta mostra principal, Conselho de Classe (ingressos esgotados) traz cinco atores (homens) na pele de professores e professoras da rede pública do Rio de Janeiro. O espetáculo recebeu o Prêmio Shell-RJ pelo cenário de Aurora dos Campos. Aqui se faz presente a linguagem da companhia, baseada em improvisações e no equilíbrio entre drama e humor.




