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Clássica

Um olhar histórico e afetivo da música erudita brasileira

Pianista Eudóxia de Barros faz recital no Teatro da Caixa hoje, com obras de Ernesto Nazareth e do marido Osvaldo Lacerda, morto em 2011

A pianista é integrante da Academia Brasileira de Música | Divulgação
A pianista é integrante da Academia Brasileira de Música (Foto: Divulgação)

Convidada da Série Solo Música, que promove recitais de instrumentistas proeminentes, a pianista Eudóxia de Barros se apresenta hoje, no Teatro da Caixa.

A musicista paulistana, integrante da Academia Brasileira de Música, montou um programa com obras de Ernesto Nazareth e de Osvaldo Lacerda, com quem foi casada de 1982 até a sua morte, em 2011. "São compositores que adoro e que toco muito", conta a pianista, em entrevista para a Gazeta do Povo.

Eudóxia escolheu algumas das peças mais conhecidas de Nazareth (1863-1934), como "Odeon", "Apanhei-te Cavaquinho", "Brejeiro" e "Ouro Sobre Azul" – peça que dá nome ao primeiro LP integralmente dedicado à obra do compositor em suas partituras originais, gravado pela pianista em 1963.

"Fui muito pichada pelo pessoal da música erudita por estar tocando música popular, o que Nazareth não era. Se fosse, seria da boa. Mas é uma música semierudita – diria que um clássico da música popular", diz Eudóxia. "Ele foi fixador do nacionalismo musical brasileiro e influenciou vários compositores depois dele", explica.

Escolhas afetivas

Já o recorte da obra de Lacerda (1927-2011) revela uma série de memórias da união entre a pianista e o compositor – para Eudóxia, um dos maiores compositores brasileiros ao lado de Edino Krieger.

Sonata para Cravo ou Piano foi a peça que aproximou o casal. "Graças a essa música, deu namoro e, três meses depois, casamos", relembra Eudóxia.

A terceira peça de Cromos 4.° Caderno (1975) foi dedicada a Ximbica, uma cadelinha que precisou ser sacrificada. "Depois de voltar do veterinário, ele escreveu esta pequena peça de apenas duas páginas, mas ultrassensível, que me emociona muito", fala.

Há ainda valsas escritas para um médico e uma prima de Lacerda, além de Estudo N.º 12, dedicada à própria Eudóxia. "Ela já havia sido impressa. Mas ele achava que eu a tocava muito bem, e que se algum dia fosse feita uma reimpressão, ele a dedicaria a mim."

Segundo a musicista, Lacerda gostava de escrever músicas apenas para intérpretes que tocavam sua obra. "Alguns pianistas de carreira internacional tinham vergonha de apresentar obras de brasileiros. Havia uma certa mágoa do Osvaldo quanto a isso", recorda Eudóxia, para quem este cenário melhorou graças a iniciativas como o Centro de Música Brasileira, entidade dedicada à divulgação da música erudita do país que fundou ao lado do marido, em 1984.

"Infelizmente isso vale para a música sinfônica e para a ópera, mas os recitais estão em desuso. Por isso é louvável a atitude do [produtor] Alvaro Collaço ao bolar essa série [Solo Música], que ajuda a reabilitar este gênero", defende.

Além do concerto de hoje, Eudóxia ministra uma palestra com entrada franca amanhã, às 20 horas.

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