
No século 19, Paris não tinha apenas uma "luz maravilhosa", mas uma "vida frenética" propícia para atrair artistas de todos os tipos. A cidade e sua sociedade tornaram-se tema de pinturas. "Ruas e pontes animados por um movimento incessante, jardins públicos, vibrantes mercados cobertos e a céu aberto, retraçados sob o céu cinza, bem como grandes lojas e vitrines, iluminadas a gás ou eletricidade, estações de trem, cafés, teatros e circos, corridas, sem falar dos bailes e noitadas mundanas", diz a curadora-chefe do Museu dOrsay de Paris, Caroline Mathieu, revelando o espírito de um momento no qual os pintores também avançaram para os arredores de Paris, levados pelo ensejo de pintar outras luzes.
É com esse resumo rápido que a curadora define o percurso da mostra Impressionismo: Paris e a Modernidade Obras-Primas do Acervo do Museu dOrsay, inaugurada no último sábado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo.
Uma das principais exposições do ano, reúne 85 pinturas pertencentes à coleção de um dos mais importantes museus franceses, repleto, em seu acervo histórico, de obras criadas na passagem entre os séculos 19 e 20 por artistas como Edouard Manet, Claude Monet, Paul Gauguin, Van Gogh, Paul Cézanne, Edgar Degas e Auguste Renoir.
Não à toa, o primeiro final de semana da mostra recebeu mais de 10 mil pessoas, que se acumularam em filas com duração de mais de 3 horas.
Orçada em R$ 10,9 milhões (incluindo o seguro das telas), Impressionismo: Paris e a Modernidade traz uma seleção de obras do dOrsay feita especialmente para o Brasil, parte de um projeto de internacionalização da instituição. "Todos os movimentos do século 19 estão aqui", diz Caroline, que trabalha no museu desde 1980. "O Pífano (1866), de Manet, é uma das obras mais icônicas do acervo, assim como A Estação Saint-Lazare (1877), de Monet, e O Salão de Dança em Arles (1888), de Van Gogh", destaca a curadora sobre as telas da exposição que, depois de São Paulo, vai ser exibida no CCBB do Rio de Janeiro de 22 de outubro a 13 de janeiro de 2013 , seguindo ainda para Fundação Mapfre de Madri, também organizadora da mostra. O Museu Oscar Niemeyer tentou negociar a vinda da exposição a Curitiba, que não acontecerá por motivos de agenda (leia mais na matéria ao lado).
Como conta Marcos Mantoan, diretor do CCBB de São Paulo, a exposição vem sendo preparada desde novembro do ano passado. Espera-se que seja vista por 600 mil pessoas e, para tanto, a instituição vai estender seu período de funcionamento (a partir de setembro, o prédio ficará aberto até as 23 horas). Mais ainda, o CCBB transformou seu quarto andar, antes destinado a escritórios administrativos, em um espaço expositivo generoso. As telas do dOrsay, assim, ocupam o edifício desde seu subsolo.
Seleção
A mostra tem um trajeto simples. A seleção de obras do museu foi realizada a partir de segmentos temáticos abrangentes afinal, o principal é ter a oportunidade de topar, a cada sala, com tesouros da história da pintura, criados numa variedade de estilos.
Em A Vida Parisiense e Seus Atores estão autorretratos e retratos de pintores como os de Gustave Courbet, autor do período que antecede o Impressionismo, momento também muito presente na exposição, e de Paul Cézanne, que se autorretratou com fundo rosa. O segmento exibe ainda telas que apresentam membros da burguesia ("austeras ou elegantes", descreve Caroline) e personagens da vida cotidiana parisiense do século 19 destaque para o conjunto de pinturas de Renoir e o vermelho intenso de Retrato de Fernand Halphen (1880).
Já Paris: A Cidade Moderna concentra paisagens da capital francesa sem faltar a menção a ícones como Notre-Dame e o Rio Sena e Fugir da Cidade traz as criações que revelam a busca dos artistas por novos arredores Monet pinta Argenteuil; Gauguin, a Bretanha (antes de partir para sua aventura ao Taiti). Interiores, como na diminuta pintura de Edouard Vuillard, ou naturezas-mortas também poderiam ser citadas para exemplificar a importância da mostra.




