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Literatura

Um perfil de Annie Proulx, a autora de "Brokeback Mountain"

Com o recente alvoroço em torno do indicado a oito Oscars "O Segredo de Brokeback Mountain", filme que conta a história de dois vaqueiros que se apaixonam, a autora do conto que originou o longa foi obrigada a publicar em sua página na internet um pedido de desculpas. O motivo: estava exausta de dar tantas entrevistas sobre o filme. Segundo as próprias palavras da mesma, "eu sinto desapontar, mas não posso mais negligenciar minha rotina de escrita. A partir de hoje, 9 de dezembro de 2005, não posso mais ceder entrevistas relacionadas a Brokeback Mountain", escreveu E. Annie Proulx.

A abordagem de um tema tabu como esse, ainda mais envolvendo o mito do caubói norte-americano, recolocaram os holofotes sobre Edna Annie Proulx (a pronúncia é "pru"), senhora de 70 anos que já experimentou quase todas as glórias literárias disponíveis em seu país (nasceu no estado americano de Connecticut). Ela tem um PEN-Faulkner por "Postcards" (1992), seu romance de estréia, além de um Pulitzer pelo livro "Chegadas e Partidas" (1993), também adaptado para o cinema sob a direção de Lasse Halltröm e com Kevin Spacey e Julianne Moore no elenco. O filme não é ruim, mas seu desempenho nas bilheterias decepcionou – rendeu um terço do que custou –, além de ter sido ignorado em premiações importantes. Já a produção dirigida pelo taiwanês Ang Lee que recebeu oito indicações ao Oscar já faturou mais de R$ 100 milhões ao redor do mundo.

A autora se descobriu escritora de ficção depois dos 50 anos de idade, o que explica sua bibliografia breve (oito livros) e torna suas conquistas mais impressionantes. Formada em História pela Universidade de Vermont e com mestrado em História Econômica da Renascença, abandonou o doutorado para trabalhar como jornalista free-lancer. Considera a experiência acadêmica essencial ao olhar de escritora. Isso porque aprendeu a examinar as vidas dos indivíduos em relação à geografia que ocupam e ao tempo em que vivem. Entre 75 e 88, escreveu artigos acerca de maçãs, camundongos, clima e alfaces para diversas revistas. As primeiras experiências com ficção aconteceram no final dos anos 70, quando ajudou a fundar e editar a "Gray's Sporting Journal", publicação sobre artes relacionadas à vida no campo. Nos anos 80, emplacou contos na revista Esquire até lançar seu primeiro livro, "Canções do Coração e Outros Contos" (1988).

No Brasil, a antologia foi publicada pela Bertrand, responsável ainda pela edição de "Chegadas e Partidas" e de "Os Crimes do Acordeom". A editora já anunciou que "À Queima-Roupa", tradução de Cyana Leahy para "Close Range" – coletânea de 11 contos da qual faz parte "Brokeback Mountain" – deve chegar às livrarias brasileiras até julho.

Com a objetividade típica de sua prosa, Proulx, que diz tender para o realismo e não para o mito, revela que foi casada duas vezes e tem três filhos. Hoje, vive no estado de Wyoming, cenário de várias de suas histórias – inclusive a dos caubóis bissexuais –, e desenvolve três projetos simultâneos. Inclusive um livro de fotos sobre o Deserto Vermelho de Wyoming, a maior região aberta – no sentido de não ter cercas – dos 48 estados americanos (sem contar Alasca e Havaí).

Embora corram boatos dizendo que "Brokeback Mountain" se inspira em personagens reais – talvez o pai da escritora seja Ennis Del Mar –, Proulx afirma que Jack Twist e Ennis, os protagonistas, são resultado de imaginação e observação. Na sessão FAQ (perguntas mais freqüentes) de seu site, a escritora escancara sua satisfação com o filme, dizendo que a força das imagens reviveu Jack e Ennis em sua memória. "Ao longo dos anos, achei que eu havia banido-os com sucesso. Errado".

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