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Livro

Um pote até aqui de mágoa

Pioneiro do thrash metal e líder do Megadeth, Dave Mustaine lança autobiografia lúcida, recheada de sexo, drogas, rock-and-roll, religião e ressentimento

Mustaine: calejado pela vida e “amaciado” pelo cristianismo | Divulgação
Mustaine: calejado pela vida e “amaciado” pelo cristianismo (Foto: Divulgação)
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Como você se sentiria se tivesse sido convidado a entrar numa banda, ajudasse a construí-la, compusesse quatro das sete músicas da fita demo que daria origem ao primeiro álbum e, sem mais nem menos, fosse mandado embora antes da gravação do disco? E se essa banda crescesse ao ponto de revolucionar o rock-and-roll, qual seria a sensação? O ressentimento por ter sido demitido do Metallica foi ao mesmo tempo o motor e a maldição da vida do guitarrista Dave Mustaine, e ele permeia toda a autobiografia do músico norte-americano, escrita em conjunto com o jornalista Joe Layden, que acaba de ser lançada no Brasil pela editora Benvirá.

Para se vingar dos ex-companheiros Lars Ulrich e James Hetfield, Dave Mustaine criou o Megadeth e se tornou um dos melhores guitarristas de heavy metal de todos os tempos. Criou músicas e discos grandiosos, ganhou fama e fortuna, conquistou o respeito e a admiração de fãs e ídolos do rock, casou-se e teve dois filhos com uma linda mulher... mas também se afundou nas drogas e no álcool, envolveu-se em brigas, quase perdeu a família e a vida, até encontrar a (relativa) paz na religião – e isso sem virar "coxinha", renegar o passado ou enveredar pelo gospel, como costuma acontecer com ídolos da música convertidos. Em outras palavras: para o bem e para o mal, Dave Mustaine é fruto do pé na bunda que levou dos líderes do Metallica.

Revelações

A autobiografia de Mus­taine poderia ser uma coleção interminável de "mimimis", mas não é. Do alto dos seus 49 anos (o livro foi finalizado em 2010), calejado pela vida e "amaciado" pelo cristianismo, o guitarrista se mostra bastante lúcido – quase sereno. Assume a responsabilidade, revela fraquezas e limitações e joga luz sobre períodos delicados, como a infância pobre e nômade – em virtude das constantes fugas do pai alcoólatra –, a época em que vendia drogas para sobreviver e as 17 reabilitações por que passou. Bad boy assumido, pavio curto e talentoso praticante de artes marciais, Mustaine admite ser uma pessoa "difícil", e reconhece sua parcela de culpa em diversas ocasiões – inclusive no episódio do seu desligamento do Metallica.

Mas também manifesta uma perplexidade genuína com a "punhalada nas costas" que teria levado dos ex-companheiros de banda. E não deixa barato: escancara a suposta falsidade e falta de escrúpulos de Ulrich e Hetfield e conta histórias constrangedoras, como a vez em que James o deixou na mão numa briga.

Apesar de todo o sucesso na vida pessoal, do reconhecimento amealhado como guitarrista e da grandiosidade do Megadeth, a impressão que se tem ao ler as 360 páginas da biografia é que até hoje Dave Mustaine preferia fazer parte do Metallica. Como ele mesmo escreve no fim do livro: "quantas vezes Deus precisa dizer ‘cara, eu amo você’ até eu entender de vez?". Também por isso, você vai simpatizar com ele...

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