
Não vá esperando algo acelerado, visceral no limite, bem ao estilo sexo, drogas e rock n´roll. O filme Somos tão Jovens não embarca na onda biográfica que mostra reis musicais e suas loucuras, bebedeiras e polêmicas. O longa-metragem, que estreia dia 3 de maio nos cinemas, faz um recorte da adolescência de um Renato Russo que ainda está se descobrindo e embarcando na música, a grande paixão da sua vida. "A juventude é mais visceral que a fama. Então eu acho que esse filme tem muito mais energia que qualquer outro momento da carreira que a gente quisesse mostrar. Sem contar que filmes com rock stars quebrando hotéis e enlouquecendo nós já temos. Eu não queria fazer um The Doors ou Cazuza. Esse filme eu já vi...", disse o diretor Antonio Carlos de Fontoura em entrevista à Gazeta do Povo durante a apresentação do filme à imprensa no Staybridge Itaim, em São Paulo.
Mesmo nessa levada mais suave, o filme é bastante intenso e emocionante. Grande parte dessa visceralidade garantida está nas passagens musicais da fita. O que é fácil de entender já que o diretor musical Carlos Trilha exigiu que todas as músicas fossem tocadas ao vivo e pelos próprios atores.
"A gente não precisava fingir que estava num show. A gente realmente estava em um. Era divertidíssimo e ficávamos tão empolgados que a gente continuava pulando e eles tocando mesmo quando já tinham pedido para cortar a cena. Uma festa", conta Laila Zaid que faz uma das personagens fictícias do longa.
Aliás, Aninha, a melhor amiga, cúmplice e parceira de Renato Russo é fruto da imaginação, mas ainda assim uma das boas surpresas do filme. A relação criada entre a personagem e o protagonista é tão forte na trama que faz as cenas serem extremamente convincentes e a dupla faz render uma das cenas mais emocionantes do filme.
Isso, em grande parte, deve-se ao bom trabalho de interpretação dos atores. Aliás, nesse ponto, Thiago Mendonça realmente surpreende. O receio de que poderia surgir qualquer vaga lembrança do papel feito em Dois filhos de Francisco se desfaz totalmente já nas primeiras cenas do longa.
Vê-lo cantando ainda pode soar estranho. Mas nos momentos de interpretação, o modo de falar quase pausado, os trejeitos e feições são tão parecidos com o do ídolo que chegam a assustar. "Eu assisti a muitos vídeos, entrevistas, shows e conversei muito com a família para tentar passar a essência do Renato. Ao mesmo tempo que era muito bom ter todo esse material para se basear, é uma responsabilidade muito grande pensar que o público também tem acesso a tudo isso e que as comparações são inevitáveis", disse Thiago, que mesmo depois do filme parece meio inebriado de Renato Russo por todos os poros.
O tom suave é bem-vindo no filme, mas há momentos -- como o ponto em que a preferência homossexual de Renato Russo é apontada que pode parecer leve até demais. O encanto do cantor com o personagem ficcional Carlinhos é mostrado de forma romântica e até um pouco boba. Para Fontoura, naquela fase, o Renato ainda estava se descobrindo e por isso não havia motivos para escancarar a preferência sexual do ídolo.
Outra coisa que pode ter sido criada como uma grande sacada -- mas que definitivamente não funciona -- é uma sequência de referências musicais nas falas. Ver o personagem do Renato entrando em uma festa e dizendo "festa estranha com gente esquisita" é o tipo de referência fraca, boba e desnecessária.
A sorte é que há muito mais para se gostar e esses detalhes viram bobagens no grande todo. No fim o que se tem é uma bela amostragem da relação de Renato com a sua turma da Colina, com Brasília, com a irmã Carminha (que acompanhou todas as gravações do filme e ajudou em muitos detalhes), com a música e com a vida. Um filme que deve emocionar os fãs e fazer com que curiosos se interessem e quem sabe até se apaixonem pelo Legião.



