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Grupo Maé e Seus Batuqueiros (da esq. para a dir.): Pó, Pelé, Orlandinho e Maé; Rogério, Índio e Ciro | Reprodução/Acervo de Cláudio Ribeiro
Grupo Maé e Seus Batuqueiros (da esq. para a dir.): Pó, Pelé, Orlandinho e Maé; Rogério, Índio e Ciro| Foto: Reprodução/Acervo de Cláudio Ribeiro
  • A bateria da Escola de Samba Colorado
  • Binho (de bigode desenhado), filho de Maé, integrou ainda criança a bateria da Colorado
  • Maé recebe troféu de campeão em uma das vitórias da Colorado no carnaval

No livro Colorado – A Primeira Escola de Samba de Curitiba, João Carlos de Freitas defende a tese de que a agremiação foi diferente de suas congêneres na cidade pela "sua origem proletária" e por "sua composição essencialmente negra", que, além de ter conferido à sua bateria uma rítmica singular, fez da trajetória da escola um caso de grande significado para as relações sociais na capital paranaense – não apenas nos seus carnavais, cujos primeiros registros remontam ao século 19.

Em entrevista para a Gazeta do Povo, Freitas explica que, antes de o grupo liderado por Ismael Cordeiro, o Maé da Cuíca, desfilar pela primeira vez no centro da cidade, em 1945, e ser seguido por cerca de 400 pessoas na Rua 15 de Novembro, os moradores negros da Vila Tassi eram impedidos de entrar em clubes, por exemplo. "Depois disso é que passaram a ser atores no processo de difusão da cultura popular em Curitiba. Eles abriram as portas. Maé foi fundamental para a inclusão dos negros na cultura de Curitiba", explica Freitas. "Nesse sentido, a dimensão dele é muito grande, profunda", diz.

O papel do sambista envolveu sua facilidade de aglutinação – traço ressaltado pelo seu filho Binho – e de liderança na Escola de Samba Colorado, onde havia um conjunto de regras rígido para melhorar sua imagem perante à comunidade e à sociedade em geral.

"Ele teve um papel importante na Vila Tassi não só pelo fato de criar e conduzir a escola durante 35 anos, mas pelo fato de que a ação dele foi, digamos assim, ‘civilizatória’", explica. A antropóloga Caroline Blum também destaca esta atuação do sambista. "Maé tem uma importância fundamental para a formação e divulgação do samba na capital paranaense, assim como na própria organização e formação cidadã de uma parcela da população de fundamental importância para a constituição da cidade, mas comumente esquecida pelos órgãos oficiais", diz, por e-mail.

Para o jornalista, radialista, escritor e compositor Cláudio Ribeiro, presidente da Colorado nas décadas de 1970 e 1980 e parceiro de Maé, o papel de "resistência" é um dos traços mais importantes na trajetória do sambista, além de sua importância para o reconhecimento do samba de Curitiba nacionalmente – "mostrando que o samba era um gênero brasileiro, sem privilégios geográficos".

"Ele conseguia fazer a resistência a essa cidade que, nos anos 1940 e 1950, se dizia ‘branca’, mostrando que não era assim – que Curitiba é negra também. E ele fez isso de forma absolutamente honesta, por meio da cultura popular", analisa, em entrevista por telefone.

Ribeiro também lembra de Maé como atuante na resistência contra a ditadura militar. "Ele foi um elemento ativo na comunidade do Capanema. E na campanha das Diretas, em 1984, ele estava lá, fazendo samba na Boca Maldita", lembra.

Um personagem como Maé, defende Ribeiro, tem um grande potencial na valorização da cultura paranaense. "Faz com que redescubramos o valor da nossa terra, que tem artistas sufocados pelo excesso de importação", diz. "Maé é um representante digno dessa história, de resistência, de cidadania, poder cívico e cultural. E ele tem sua marca deixada em vários herdeiros cantando e tocando Paraná afora."

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