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Lançamento

Uma celebração de mestres e aprendizes

Gilberto Gil lança Gilbertos Samba, disco em que revisita músicas de vários compositores gravadas por João Gilberto

O cantor baiano gravou ao lado dos músicos Bem Gil, Domenico Lancellotti e Mestrinho | Daryan Dornelles/Divulgação
O cantor baiano gravou ao lado dos músicos Bem Gil, Domenico Lancellotti e Mestrinho (Foto: Daryan Dornelles/Divulgação)
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Faz sentido regravar algumas músicas já torcidas de tantas versões quando se fala em revisitar a obra de alguém obcecado – e bem-sucedido – pela perfeição como João Gilberto. Especialmente quando quem as revisita é um artista com a dimensão de Gilberto Gil.

Esta combinação fascinante marca o recém-lançado Gilbertos Samba, novo disco em que o tropicalista – e discípulo – homenageia o mestre da bossa nova com novas interpretações para canções que ele eternizou.

O álbum traz um universo de ligações e desdobramentos que orbitam a voz e o violão de Gil, gravados juntos com maestria pelo músico – ele mesmo dono de uma linguagem única no violão, como já destacou Caetano Veloso.

Malha de significados

O amigo e cocriador da tropicália, igualmente influenciado por João Gilberto, traduz sabiamente a empreitada de Gil na apresentação do CD: trata-se de "uma experiência de densa textura histórica. Toda a malha de significados da bossa nova e do pós-bossa nova, entrelaçada à do tropicalismo e do pós-tropicalismo se exibe e se esconde, se reafirma e se desfaz na teimosa liberdade do músico Gilberto Gil", escreve Veloso.

Diluídas com sofisticação, as marcas de Gil se misturam a uma sonoridade contemporânea igualmente sutil construída com Bem Gil e Moreno Veloso, produtores do disco, além de Domenico Lancellotti (bateria, percussão e MPC) e Mestrinho (sanfona e percussão).

"Eu Vim da Bahia", composição do próprio Gilberto Gil gravada por João Gilberto em 1973, é um bom exemplo. A modernidade impressa pela leitura do mestre há 40 anos é reprocessada com ecos da linguagem de Gil implícitos na guitarra de Bem Gil, no acordeão de Mestrinho, no violino de Nicolas Krassik.

Com frescor, Gil passa por um repertório concentrado nos primeiros discos de João. De Chega de Saudade (1959), marcam presença "Aos Pés da Cruz" e "Desafinado", em que Pedro Sá brinca com o atonalismo e radicaliza seu manifesto dissonante; de O Amor, O Sorriso e a Flor (1960), Gil revisita "O Pato" e "Doralice", e de João Gilberto (1961), "Você e Eu".

Mestres e aprendizes

Há ainda as homenagens da lavra de Gil – a instrumental "Um Abraço no João", que remete ao abraço de João Gilberto dedicado a Luiz Bonfá, e a ótima "Gilbertos", em que o cantor celebra também Dorival Caymmi e "a noção da canção como um liceu".

"A cada cem anos um verdadeiro mestre aparece entre nós/ E entre nós alguns que o seguirão/ Ampliando-lhe a voz e o violão/ É assim que aparece mestre João e aprendizes professando-lhe a fé/ Um Francisco, um Caetano algum Roberto e a canção foi mais feliz", canta Gil – em pleno centenário de Caymmi, e cercado pelos próprios aprendizes: Domenico, Moreno Veloso e Rodrigo Amarante. Um disco de mestre para mestre. GGGG

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