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Entrevista

A vanguarda da sociabilidade

Confira a entrevista com, Jorge Brand, coordenador-geral da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu.

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À revelia do Estado

Mesmo sem a participação do Estado, a ocupação espontânea do Reveillón Fora de Época foi organizada pela internet e tomou proporções como as da Virada Cultural.

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Zeitgeist dos Pinhais

Hoje em dia não faz mais sentido apelidá-la de cidade sorriso ou de capital ecológica. O legado deixado por essas impressões permanecem no inconsciente do curitibano nato.

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Eventos

Quadra Cultural

Marco André Lima/Gazeta do Povo

Depois de reunir 4 mil pessoas em 2011, o evento idealizado por Arlindo Ventura – o "Magrão", proprietário do bar O Torto –reuniu um público estimado em 10 mil pes­soas em 2012 no palco montado na esquina das ruas Paula Gomes e Duque de Caxias, no bairro São Francisco, onde se apresentou o sambista Germano Mathias.

Virada Cultural

Hugo Harada/Gazeta do Povo

A experiência começou em maio de 2010, com uma "meia" virada cultural. Em novembro do mesmo ano, a ideia pegou: mais de 200 mil pessoas assistiram a shows como os de Paulinho da Viola, Erasmo Carlos e Pato Fu – número que se repetiu no ano passado.

Réveillon fora de época

Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Com um chamado feito pela internet, o evento reuniu entre 8 e 10 mil pessoas no ano passado e, para a preocupação dos vizinhos da Praça da Espanha, atraiu 25 mil pes­soas neste ano.

Parcão do MON

Hugo Harada/Gazeta do Povo

Neste espaço, que fica nos fundos do Museu Oscar Niemeyer, são os cães que ocupam a cidade, sobretudo nos fins de semana. Centenas de pessoas se apropriaram do local há anos para o passeio canino e outras atividades.

Pré-Carnaval

Antonio More/Gazeta do Povo

Sem qualquer apoio da prefeitura, o bloco de rua Garibaldis e Sacis, em seu 13º ano de existência, chegou a reunir 20 mil pessoas no Largo da Ordem. Em 2012, um dos domingos de folia terminou em confusão.

Pelo andar da carruagem – e não do metrô –se daqui a algum tempo alguém ouvir por aí que o curitibano da gema não põe o nariz para fora de casa, provavelmente vai entender isso como uma afirmação romantizada sobre um passado não tão distante ao invés de levar em consideração um fato empírico.

De uns anos para cá, Curitiba tem saído às ruas. E o propósito é variado. Há eventos que têm a mão do Estado, como a Virada Cultural e seus agitadores madrugueiros; os recentes fuzuês em comemoração ao aniversário da cidade, que aconteceram na rua e na praça; e aqueles promovidos com alguma dificuldade, embora cheios de propósito, como a Quadra Cultural e o conflitante pré-carnaval. Mais incrível ainda, em se tratando de uma cidade fria, carrancuda e caseira – não, talvez não seja mais assim – são os eventos organizados virtualmente, cujo maior propósito, talvez o único, seja se reunir tête-à-tête. Exemplo é o curioso caso do réveillon fora de época. Mas o que estaria levando o curitibano a interagir mais com sua cidade, a viver agora em função do que ela oferece e não mais de suas idiossincrasias que parecem estar em desconstrução?

"O que está acontecendo talvez seja efeito da mudança radical no comportamento das novas gerações pelo advento da internet, um fenômeno que acabou por implodir a televisão e mudar hábitos cotidianos. Nem mesmo a conservadora Curitiba ficou fora disso. A circulação da informação se universalizou de uma forma espantosa. Isso também leva as pessoas à rua", diz o escritor Cristovão Tezza, nascido em Santa Catarina, mas tão curitibano que às vezes solta "penal" e "vina" por aí.

A explicação pode ser tam­bém geracional, já que estão nas ruas jovens que têm mais acesso à cultura, por consequência da estabilidade financeira do país. Ou até migratória, tendo em vista a quantidade de pessoas que não nasceram em Curitiba, mas que moram aqui – apenas 42% são curitibanos natos de acordo com dados de 2007 do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Mais importante do que cogitar os motivos, no entanto, é refletir sobre os benefícios que essa nova Curitiba proporciona.

"A cidade ganha tudo, principalmente a recuperação do espaço público como espaço de encontro, e não de passagem, hoje uma passagem sempre assustada. É um contraponto fundamental à dependência viciante do monitor da internet", comenta Tezza. A longo prazo, se a cidade continuar a viver de portas abertas, até problemas graves como o da segurança pública poderiam ser amenizados. "Quanto mais as pessoas convivem, menos medo têm umas das outras", afirma o escritor.

O palco é a rua

Três vezes prefeito de Curitiba (1971–75, 1979–84 e 1989–92), duas vezes governador (1995–99 e 1999–2003) e referência mundial em urbanismo, Jaime Lerner é categórico ao afirmar que os recentes eventos de rua só trazem benefícios. "A cidade é feita de encontros e a rua é palco desse encontro sempre. Quanto mais a rua for valorizada, melhor frequentado será o espaço público", diz.

A internet, para o ex-político de 74 anos, é a principal causa para essa "nova ordem municipal". E, em sua opinião, quem está no comando político deve aproveitar esse momento. "Hoje é mais fácil mobilizar as pessoas para algum evento porque há a internet. E governo e prefeitura devem aproveitar isso, criando eventos que podem ser potencializados e deixando espaço para outros que surgem com a criatividade da população", explica.

Mas Lerner também tem restrições quando ao objetivo dessas "ocupações" momentâneas. Em sua visão, há os movimentos legítimos e aqueles que se vão assim como vêm. "O réveillon na Praça da Espanha só serviu para mostrar o poder de mobilização dos meios eletrônicos. Não é um evento que precisa ser estimulado. Não há como impedi-los, mas é apenas moda", justifica.

Lerner defende a ocupação da cidade como processo de recuperação de áreas degradadas. Exemplo mais recente é a Rua Riachuelo, recentemente recuperada, ainda que "de maneira superficial". "A ocupação e a circulação de pessoas é necessária para essa revitalização ser completa. E é nisso que o poder público tem que pensar", defende.

Jaime Lerner foi responsável por uma mudança ao mesmo tempo estrutural e simbólica em Curitiba quando criou a Rua das Flores, trecho inicial da Rua XV de Novembro, em 1972. Foi a primeira grande via pública exclusiva para pedestres criada no Brasil, e, de tanta conversa e fofoca, ganhou o apelido de Boca Maldita.

Se a obra começou polêmica, tornou-se um dos principais cartões postais da cidade. E também um catalisador de encontros entre pessoas, justamente o que defende Lerner 40 anos depois, mesmo que alguns curitibanos continuem a atravessar a rua quando encontram um conhecido na mesma calçada. "O mundo está mudando muito rapidamente. E o curitibano, por mais que acredite nisso às vezes, não é uma ilha separada do mundo."

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