
"Queridinha da América", Sandra Bullock assumiu o risco de se afastar temporariamente dos papéis em comédias românticas para encarnar, aos 45 anos, sua primeira personagem dramática em Um Sonho Possível (2009) (veja trailer e fotos). A ousadia lhe rendeu o Oscar de melhor atriz deste ano, poucos dias após ir pessoalmente, e com o humor que lhe é peculiar, receber o prêmio Framboesa de Ouro de pior atuação do ano pela comédia Maluca Paixão, ainda inédito no Brasil.
No início das filmagens, Bullock achou que não conseguiria dar veracidade a uma sulista rica, platinada e republicana que extrapola os limites da filantropia exercitada pelas amigas socialites ao abrigar em sua própria casa um garoto negro e pobre. Até finalmente encontrar o tom que a aproximou com brilho de Leigh Anne Tuohy, a mulher real que inspirou o roteiro escrito por John Lee Hancock, também diretor do longa.
Se o filme foi um estouro de bilheteria nos Estados Unidos, boa parte da crítica considerou paternalista a redenção de um jovem negro fadado ao fracasso (Michael Oher, vivido por Quintan Aaron) por uma família de brancos conservadores. O filme é, sim, pontuado de clichês que atraem o público médio, especialmente o norte-americano, a começar pelas metáforas relacionadas ao futebol americano. Os Tuhoy, fanáticos pelo esporte, ajudarão Big Michael, como é chamado por seu físico avantajado, a se tornar um famoso jogador profissional. Mas, a direção não descamba para o piegas ao equilibrar o potencial dramático da história com uma fina ironia que se revela, inclusive, em falas que demonstram a autoconsciência dos personagens.
Ao ser criticada pelas amigas por suas novas atitudes, por exemplo, Leigh Anne reage dizendo que pode perfeitamente encontrar restaurantes que servem saladas caras como a que estão comendo mais perto de casa. Isso demonstra que a personagem é bem mais do que uma mera dona de casa burguesa que deseja apaziguar sua culpa tendo arroubos de bondade. É como se, ao se dar conta da própria situação, desejasse corrigir o rumo e voltar a ser a mulher "multitarefas" que costumava ser antes de casar. GGG1/2



