O cineasta carioca Sérgio Rezende (de Guerra de Canudos), depois de dar uma longa trégua a tramas verídicas, volta a mergulhar na História do Brasil, uma de suas paixões confessas. A partir do dia 6 de setembro, ele começa a rodar no Rio de Janeiro a história da estilista mineira Zuzu Angel, em filme homônimo.
O elenco traz Patrícia Pillar como a protagonista, primeira figurinista brasileira a fazer sucesso no prêt-à-porter internacional, utilizando-se de referências da cultura popular nacional, como artesanato, folclore, pedras preciosas e rendas típicas do Nordeste. Mas o ofício de Zuzu não é o eixo central do longa, que, segundo Rezende, vai contar "uma tragédia brasileira".
Zuzu teve um filho, Stuart Angel Jones, militante do Movimento Revolucionário 8 (MR-8), perseguido e morto pela repressão da ditadura militar em 1971. Daniel de Oliveira, consagrado em 2004 por Cazuza O Tempo não Pára, fará o papel do guerrilheiro.
Cinco anos depois do desaparecimento de Stuart, Zuzu morreu em um suspeitíssimo acidente de trânsito, na saída do túnel do morro Dois Irmãos (zona sul do Rio), que hoje leva hoje o seu nome. Quando o processo foi reaberto, na década passada, comprovou-se que a morte da estilista não havia sido acidental, mas provocada por obra e graça do governo militar, incomodado com a luta da estilista para desvendar o mistério em torno do assassinato do filho.
No início dos anos 1980, Walter Salles chegou a esboçar um projeto sobre a vida de Zuzu e de seu filho Stuart, que teria Fernanda Montenegro como protagonista. Jorge Durán, o roteirista e diretor de A Cor de Seu Destino, escreveu um roteiro que foi apresentado à colunista social Hildegard Angel, filha e irmã, respectivamente, dos biografados. Mas o projeto não foi adiante. O roteiro que será filmado por Sérgio Rezende tem a assinatura do cineasta e de Marcos Bernstein, um dos roteiristas de Central do Brasil e diretor de O Outro Lado da Rua.
O núcleo central de Zuzu Angel, cujo orçamento é estimado em R$ 5,5 milhões, terá ainda Leandra Leal (Sônia, mulher de Stuart) e Rejane Alves (Hildegard Angel, irmã de Stuart). Paulo Betti vai repetir o papel de capitão Carlos Lamarca, personagem protagonizado por ele em uma outra cinebiografia dirigida por Rezende, Lamarca (1994). E a ex-modelo, atriz e jurada de TV Elke Maravilha, uma das principais manequins e amigas da estilista, será interpretada por Luana Piovani.
Segundo Elke, Luana tem lhe feito visitas periódicas para observar sua linguagem física, seu jeito de ser e falar. A atriz paulista também tem procurado ouvir histórias de seu relacionamento com Zuzu. Além de estar entre os personagens mais importantes da produção, Elke fará uma participação especial, como uma cantora de cabaré alemã.
Ficção versus realidade
Depois de realizar Mauá O Imperador e o Rei (1999), Sérgio Rezende fez dois filmes ficcionais, Quase Nada (2000) e Onde Anda Você (2004). À época do lançamento deste último, Rezende chegou a dizer que andava cansado de temas históricos. Mudou de opinião. "O bem da vida é que não temos memória da dor. Caso contrário, não faríamos coisa alguma", gracejou o cineasta.
Zuzu Angel é mais um longa-metragem de uma série de grandes produções nacionais que, de alguma forma, emprestam da vida real e da história brasileira o seu mote. Foi assim com Cazuza O Tempo Não Pára e Olga, maiores êxitos de bilheteria de 2004, e 2 Filhos de Francisco, primeiro possível sucesso brasileiro este ano.
Rezende descarta, entretanto, que exista uma tendência dentro do cinema nacional de se remeter à História do Brasil e a personagens da vida real, por conta de motivações comerciais. Segundo o diretor, "o cinema vem fazendo isso desde seus primórdios, desde Eisenstein e dos westerns".



