
O britânico John le Carré é um escritor que pode se gabar de ter boas adaptações cinematográficas de seus livros. Nas mãos de diretores competentes, como Fernando Meirelles (O Jardineiro Fiel), John Boorman (O Alfaiate do Panamá) e Fred Schepisi (A Casa da Rússia), seus livros de espionagem internacional e tramas policialescas renderam bons filmes, que conseguem se expressar ao mesmo tempo em que se mantêm fiéis à trama original. O padrão não é diferente em O Espião que Sabia Demais, do diretor sueco Tomas Alfredson (que ganhou notoriedade com o terror Deixa Ela Entrar), baseado no livro homônimo, que já havia sido adaptado para uma minissérie na década de 70.
Situado na Inglaterra durante o período da Guerra Fria, quando o país servia de sítio estratégico na Europa para a inteligência secreta americana, o filme parte da investigação do agente aposentado George Smiley (Gary Oldman) para descobrir um possível delator no mais alto escalão do serviço secreto britânico MI-6 que, graças a suas constantes falhas e vazamentos de informações, ganhou o depreciativo apelido "circo", suspeita levantada por seu antigo chefe. Passando em revista alguns dos últimos fatos que Smiley presenciou enquanto trabalhava, a trama segue um formato não linear e envolve cada vez mais personagens e acontecimentos que mudam o rumo de perspectiva a cada momento.
O espectador de O Espião que Sabia Demais deve estar, portanto, preparado para um roteiro intrincado e difícil de entender completamente numa primeira sessão. O ritmo lento com que a história é contada, nesse caso, acaba ajudando a assimilar os fatos, mas pode entediar quem estiver esperando um pouco mais de ação. Mesmo assim, o enredo primoroso e a atuação impecável dos atores, que dão densidade e complexidade a cada um dos personagens, fazem de O Espião que Sabia Demais um filme como poucos, e que deixa também uma valiosa lição para o cinema hollywoodiano dos últimos anos: o roteiro ainda faz, sim, toda a diferença.



