
Alguém disse que só na Avenida Corrientes, em Buenos Aires, existem mais livrarias do que no Brasil inteiro. Uma falácia, sem dúvida. Ainda mais se se considerar que várias lojas da via portenha não trabalham com títulos novos, mas usados. Na verdade, são sebos e pontas de estoque.
Curitiba também tem sua Corrientes. Ela fica na região da Rua Emiliano Perneta, no meio do caminho entre as Praças Osório e Rui Barbosa. Em uma distância de mais ou menos quatro quadras, existem seis sebos.
Para os leitores assíduos, a primeira parada obrigatória é a Feira dos Livros Usados. Foi fundado em 1942, quando um amigo do então proprietário, Cláudio Reis, sugeriu fazer algo parecido com as feiras de usados que havia nas margens do Rio Sena, em Paris. De início, a loja não tinha mais que 15 metros quadrados e se chamava Agência Atômica. Há 30 anos, mudou-se para a Emiliano Perneta, onde está até hoje.
A Feira tem um acervo de mais de 50 mil livros, além de revistas, gibis, CDs e DVDs. Segundo os freqüentadores, além do tradicionalismo, a loja se destaca por uma boa rotatividade e pelos títulos de história do Brasil. "Apesar das dificuldades atuais, aqui nós tentamos manter a verdadeira essência dos sebos, que é fazer circular livros usados, raros e difíceis de encontrar em livrarias", diz o livreiro Irajá de Souza Reis.
Para a a professora Janine Cardoso, de 30 anos, a diversidade e a tranqüilidade para folhear e "namorar" os livros são os principais atrativos da loja.
Atravessando a Rua Visconde de Nacar, está uma boa alternativa para quem busca novidades: o Sebo Líder. Aberta no início de 2006, a loja segue o modelo de um empreendimento familiar que começou em Londrina. Nas estantes, podem ser encontrados cerca de 80 mil livros, além de CDs, DVDs, revistas e gibis. O sebo oferece também títulos novos.
Cerca de 30 metros adiante, está o Sebomania. Apaixonado por livros, Adriano Flausino abriu sua primeira loja de usados em 1996, no bairro Novo Mundo. Sete anos depois, o comerciante resolveu expandir o acervo e migrar para a região central da cidade. Atualmente, o prédio de três andares abriga cerca de 25 mil livros, com destaque para títulos de literatura brasileira e estrangeira.
"No Centro, além do número maior de pessoas circulando, a loja fica próxima a outros sebos tradicionais, para onde vêm as pessoas interessadas no que ofertamos", justifica Flausino. A concentração de lojas é um dos fatores que atrai o universitário Cassiano José Tedeschi, 23 anos. Freqüentador assíduo da região, ele afirma que a proximidade facilita a procura dos livros. "Mesmo que venha buscar uma obra específica, você sempre acaba vasculhando as estantes de uma e outra loja", diz.
Se a intenção não é apenas comprar, mas observar e apreciar acervos, vale a pena conferir a Fígaro Loja de Cultura. Localizada a duas quadras da Sebomania, na Rua Lamenha Lins, a loja surgiu informalmente no fim da década de 1980, quando o então bancário Paulo José da Costa começou a vender suas coleções de vinis e livros. O empreendimento deu certo e pouco tempo depois o sebo já tinha uma sede no Centro, transferida para o atual endereço em 1999.
O acervo da Fígaro é composto por 15 mil livros, 7 mil LPs, 7 mil discos de 78 rotações, mais CDs e DVDs. Quem visitar a loja encontra ainda revistas e gibis antigos, fotos de álbuns de família, postais, mapas e algumas obras de arte, além de um pequeno museu do cotidiano mantido pelo proprietário. "O sebo é um lugar mágico, que tem como missão transmitir os bens culturais de uma geração a outra. É por isso que, na Fígaro, nós priorizamos os materiais raros", explica Costa. Nas estantes, destaque também para as publicações históricas e para os títulos da área de Ciências Humanas.
De volta à Emiliano Perneta, virando à esquerda na Brigadeiro Franco, está o Arco da Velha Discos e Livros, cuja especialidade é música. A loja nasceu em Ponta Grossa há 22 anos e está em Curitiba há apenas seis meses. Nas estantes, pouco mais de 4 mil livros, 5 mil vinis e mais de 10 mil CDs. "Freqüentam a loja, sobretudo, colecionadores e estudantes. Mas nós temos um acervo musical bastante diversificado, além de alguns álbuns raros", diz o comerciante Alceu Bortolanza, que garante fazer o possível para encontrar o material que o cliente procura.
A estudante Dayan Becker Siedlecki, de 19 anos, passa algumas horas por semana vasculhando a prateleiras dos sebos, onde compra praticamente todos os seus livros. "Conheço bem as lojas da região e, apesar de serem próximas, elas não são iguais. Na Fígaro, por exemplo, sei que existem vários livros de filosofia e história. A Sebomania é boa para literatura estrangeira e infantil. Já o Líder tem bastante livros técnicos", afirma.
Para completar o circuito, vale a pena visitar a Livraria Sebo Kapricho, que fica na Comendador Araújo, a uma quadra do Arco da Velha. A loja, que também faz parte de uma rede de sebos tradicional do norte do Paraná, abriu há apenas cinco meses, mas tem um acervo de 80 mil livros com vários títulos raros. Merecem destaque as seções de livros de guerra, com volumes ilustrados sobre armas, uniformes militares e aviões, e de gibis antigos, que incluem títulos como Flash Gordon, Mandrake e Tintim. O advogado Leonir Bega, freqüentador diário da Kapricho, tem preferência pelas prateleiras da seção de artes.




