
Ultimamente, Fernando Torres era mais lembrado como o marido de Fernanda Montenegro do que como o grande ator, diretor e produtor que sempre foi. Os motivos são tanto o incrível talento da atriz com quem ele era casado havia 56 anos quanto o afastamento de Fernando das artes.
Mas nada disso apaga a lembrança de quem o viu nas telas, em longas-metragens como Os Inconfidentes (1972), de Joaquim Pedro de Andrade; Tudo Bem (1978), de Arnaldo Jabor; e A Ostra e o Vento (1997), de Walter Lima Jr., rodado na Ilha do Mel, litoral do Paraná. O mesmo pode ser dito de sua performance nos palcos, nas 24 montagens de que participou ao longo de seus 60 anos de carreira. Dentre elas, Dias Felizes, texto de Samuel Beckett montado em Curitiba, em 1995, no aniversário de 302 anos da cidade.
Estreado em 29 de março de 1995, no Teatro Fernanda Montenegro, com direção de Jacqueline Laurence, o espetáculo foi inteiramente produzido na capital paranaense. Para isso, Fernando Torres e Fernanda Montenegro passaram três meses na cidade, dividindo-se entre leituras, ensaios e as 20 apresentações da peça. Entre a equipe local, estava a cenógrafa Cláudia Hirt, que conviveu diariamente com o casal durante o tempo em que eles estiveram aqui. "Acordávamos às 8 horas da manhã e íamos direto para o hotel, tomar café da manhã com eles. Depois disso, vinham as leituras e os ensaios. O trabalho só acabava tarde da noite", lembra Cláudia, que destaca, entre as principais qualidades de Fernando, o bom humor. "Eu ficava impressionada. Ele passava o tempo todo rindo, fazendo piadas e, ao mesmo tempo, era muito compenetrado e envolvido com o trabalho. Sempre solícito e zeloso com a equipe", conta.
Convocado para fazer a assistência de direção do espetáculo, o atual diretor de Ação Cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Beto Lanza, também teve um convívio intenso com o casal de atores durante a passagem deles por Curitiba. Além do bom humor de Fernando, o que mais ficou marcado na memória de Lanza foi a integridade com que ambos lidavam com todos os aspectos da arte. "Para a família toda, a integridade artística está acima de qualquer coisa. Foi uma lição que, desde então, eu carrego comigo", recorda Lanza, emocionado e bastante triste com a morte de Fernando: "Tinha muita afeição por ele. Ele me tratou como a um filho naquele período. Chorei muito na quinta-feira", revela.
Fernando Torres, morreu na quinta-feira (4), em seu apartamento, em Ipanema, no Rio de Janeiro. O ator sofria de enfisema pulmonar há alguns anos, vinha sentindo fortes dores e sua saúde estava bastante debilitada. Mesmo assim, pediu à família para que não fosse internado em nenhum hospital. No momento de sua morte, estava cercado por quatro enfermeiros e por seu eterno amor, a esposa Fernanda Montenegro.





