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Biografia

Uma vida diante das câmeras

Livro reconstitui trajetória profissional da atriz Glória Pires, um dos grandes nomes da televisão e do cinema no Brasil das últimas décadas

Glória Pires: senhora do seu destino e dona de uma longa carreira | Rede Globo/Divulgação
Glória Pires: senhora do seu destino e dona de uma longa carreira (Foto: Rede Globo/Divulgação)
Confira alguns trabalhos da carreira de Glória Pires |

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Confira alguns trabalhos da carreira de Glória Pires

O diretor Daniel Filho não hesita ao fazer um afirmação contundente: as melhores atrizes do Brasil hoje são Fernanda Montenegro e Glória Pires. Diz isso em depoimento incluído no posfácio de 40 Anos de Glória, biografia autorizada da estrela de sucessos como a novela Vale Tudo e a mi­­nissérie O Memorial de Maria Moura, assinada pelos jornalistas Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti e lançada pela Geração Editorial.

Ainda que discutível, uma vez que o país é um celeiro de talentos femininos, a opinião de Daniel Filho merece atenção. Nome essencial na história da televisão brasileira e cineasta campeão de bilheteria, ele, como nenhum outro profissional do audiovisual brasileiro, tem acompanhado bastante de perto a vitoriosa trajetória de Glória desde a infância da atriz, hoje com 47 anos.

A relação entre os dois, aliás, não começou muito bem. Glória foi recusada para o papel de filha do protagonista da novela das sete Meu Primeiro Amor, vivido por Sérgio Cardoso. Daniel buscava uma menina de feições angelicais e optou por Rosana Garcia, que se tornaria a primeira Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo. O diretor achou Glória uma criança pouco fotogênica, embora ela já tivesse trabalhado em outras produções globais, como a novela Selva de Pedra, de Janete Clair.

A rejeição deixou Glória arrasada, conta a biografia. Chegou em casa e se escondeu debaixo da mesa para chorar. Mas Daniel morderia a língua. Em 1978, quando fazia a seleção de elenco para a novela Dancin’ Days, que marcou a estreia do autor Gilberto Braga no horário das 20 horas, o diretor tinha uma escolha importante a fazer. Precisava selecionar a jovem atriz que viveria Marisa, filha da protagonista Júlia Mattos (Sônia Braga), ex-presidiária que, ao ganhar a liberdade, tenta se reaproximar da menina, criada pela irmã da protagonista, a socialite malvada Yolanda (Joana Fomm), sem saber nada sobre a mãe biológica.

Glória, a rejeitada, foi desta vez a escolhida depois de uma maratona de testes, dos quais participaram Lídia Brondi, que também faria parte do elenco do folhetim, um marco da televisão nacional. O papel mudaria a vida da atriz para sempre. Ela e Lauro Corona, seu par romântico na novela de Braga, viraram mania nacional naqueles anos movidos a muita música disco, na trilha do sucesso do filme Os Embalos de Sábado à Noite, com John Travolta.

Filtros

Histórias de bastidores da vida profissional de Glória são o grande charme do livro de Nassife e Fabretti. Como toda biografia autorizada, há vários filtros, no entanto. Enquanto os autores se desdobram em detalhes a respeito das novelas, filmes e minisséries das quais a atriz participou nestas quatro décadas, eles são absolutamente reticentes em relação a alguns assuntos pessoais. Sobre o casamento com o ator e cantor Fábio Júnior, com quem se envolveu durante a gravação da novela Cabocla, eles contam muito pouco. Falam o que todos já sabem: que se conheceram, se apaixonaram, Glória engravidou, deu à luz Cleo (hoje também atriz) e logo se separaram. Só. Nada é dito sobre o relacionamento e o porquê da separação. Ao contrário, é claro, do relato sobre o romance entre a estrela e seu atual marido, o cantor e compositor Orlando Moraes. Esse contado em verso e prosa.

Mas há aspctos da vida pessoal de Glória que o livro não evita. É rico – e comovente –, por exemplo, o relato da relação de Glória com os pais, sobretudo com o pai, o também ator Antônio Carlos Pires, que ganhou fama como humorista trabalhando ao lado de Chico Anysio na Escolinha do Professor Raimundo. Ela o descreve com um pilar ético, afetivo e profissional. Em um registro mais curioso, a biografia também não se furta de revelar o martírio da atriz para corrigir seu sorriso, ou melhor, o excesso de exposição de suas gengivas. As tentativas, segundo os autores, foram bem dolorosas até resultarem em algum sucesso.

Com um texto por vezes ingênuo e reverente demais à biografada, 40 Anos de Glória peca por não ouvir mais fontes e, sobretudo, por ser um projeto surpervisionado pela atriz, o que o torna muito parcial. Há rigor com relação a datas e dados históricos, mas também erros. Diz, por exemplo, que o anúncio da indicação de O Quatrilho, de Fábio Barreto, ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1995 foi feito pelo escritor e dramaturgo Arthur Miller. Não foi. O então presidente da Academia era Arthur Hiller, diretor do filme Love Story. GG1/2

Serviço:

40 Anos de Glória, de Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti. Geração Editorial, R$ 49,90.

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