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Uma vida em 15 minutos

Em brilhante interpretação no espetáculo Vida, Ranieri Gonzalez mostra porque é um dos mais respeitados atores curitibanos de todos os tempos

Ranieri Gonzalez: além de ator, é também cantor, dramaturgo, desenhista de moda e contestador | Rodolfo Buhrer/Gazeta do Povo
Ranieri Gonzalez: além de ator, é também cantor, dramaturgo, desenhista de moda e contestador (Foto: Rodolfo Buhrer/Gazeta do Povo)
Contrariando a regra, Gonzalez encheu seu corpo de tatuagens. Saiba mais sobre os desenhos |

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Contrariando a regra, Gonzalez encheu seu corpo de tatuagens. Saiba mais sobre os desenhos

"Eu estava pensando nos 15 minutos da minha vida que fizeram diferença no resto da minha vida." Essa é uma das falas recorrentes do personagem de Ranieri Gonzalez, batizado com seu próprio nome, durante o espetáculo Vida, em cartaz no Teatro José Maria Santos após uma bem-sucedida estreia na Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba, que rendeu elogios rasgados da crítica especializada nacional.

No caso da vida de Ranieri (a do ator, não a do personagem), os 15 minutos que possivelmente mais fizeram diferença no resto de sua existência correspondem ao tempo que ele passou na fila de inscrição para o Curso de Ator do Colégio Estadual do Paraná, em 1986, quando tinha 15 anos. Decidido a optar pelo curso de Edificações, Ranieri, que já fazia parte do coral do colégio, se encantou pela aparência "diferente" das pessoas que formavam a fila ao lado, destinada a futuros atores e atrizes. Mesmo introspectivo, o garoto não titubeou: mudou de fila sem pensar duas vezes. "Quando eu cheguei em casa, minha mãe tomou um susto. Só não me bateu porque ela nunca batia na gente. Ela apenas me disse que era uma carreira difícil", lembra.

As palavras da mãe não eram vãs tentativas de proteger o filho do meio entre três irmãos. O conselho vinha do conhecimento de causa, já que ela, no passado, havia fugido de casa para tentar a vida como cantora, sonho do qual acabou desistindo. Semelhante foi a trajetória do pai de Ranieri, que, com o projeto de se tornar ator, se mandou para São Paulo quando ainda era jovem, para tentar carreira na TV Tupi, onde trabalhava um primo distante. Também não realizou seu sonho, décadas depois concretizado por Ranieri. "Estava no meu sangue", explica o ator.

O início não foi mesmo uma mar de rosas. Naquela época, os alunos só subiam ao palco no terceiro ano do curso e quando isso aconteceu, o personagem de Ra­­nieri na montagem Como Revisar um Marido Oscar, de Oraci Gemba, simplesmente não tinha falas. "Fiquei muito frustrado, mas depois aprendi que não é preciso texto para um bom desempenho", conta, orgulhoso de ter tirado a nota máxima pelo papel.

Antes mesmo de terminar o curso, Ranieri entrou para sua primeira companhia de teatro, a NBP Produções, de Claudete Pereira Jorge e Nautílio Portela. Sua estreia no grupo foi na peça Pinha, Pinhão, Pinheiro, de Enéas Lour e Fátima Ortiz. Logo que se formou ator, veio o primeiro prêmio: uma menção honrosa do Troféu Gralha Azul – "naquela época não havia a categoria revelação", explica – por sua performance em Cegonha Boa de Bico, de Marilu Alvarez, pela mesma companhia.

Após anos na NBP, o inquieto Ranieri decidiu mudar de ares. Queria aprender mais, com outras pessoas. Foi de porta em porta e logo ficou conhecido. Passou a primeira metade dos anos 90 trabalhando com os principais diretores locais, entre eles Marcelo Marchioro, Edson Bueno, Cleon Jacques, João Luiz Fiani, Enéas Lour e Fátima Ortiz. Em 1995, durante uma temporada carioca de História de Cronópios e de Fama (adaptação de Julio Cortázar, dirigida por Cristina Pereira), foi convidado para participar da Oficina de Atores da Rede Globo. Mas o primeiro papel só viria depois de dois trabalhos teatrais importantes para sua carreira – A Aurora da Minha Vida, de Gabriel Vilela, e Juventude, de Felipe Hirsch.

Tevê

O personagem Reinaldo, da novela das seis Força de um Desejo, de Gilberto Braga, levou Ranieri à televisão, em 1999, mas a experiência o deixou com uma má impressão. "Era um papel pequeno, do elenco de apoio. Eu fiquei frustrado por não poder mostrar tudo o que eu podia. Fora isso, me senti em uma indústria, onde eu era só mais um produto com o carimbo da Rede Globo na testa", diz. Apesar de achar que nunca mais voltaria às telinhas, outra oportunidade apareceu em 2003, desta vez, para uma novela das oito, Esperança, de Benedito Ruy Barbosa.

Desta vez, o papel era interessante: Maurício, um jovem dândi e milionário, vindo da Europa para cuidar de uma fazenda de café no Brasil. Para completar, o personagem fazia par romântico com Caterina, interpretada pela curitibana Simone Spoladore, com quem Ranieri já havia contracenado em Juventude.

"Essa novela me deu visibilidade como ator. Pensei que, se não fizesse mais nada na tevê, já teria valido a pena", conta. O próximo passo seria o cinema, cuja maior produção da qual ele participou até hoje foi o drama Olga (2004), em que interpretou Miranda. "O papel era bacana, mas a equipe inteira era saída da televisão, então me pareceu a mesma coisa", lamenta.

Planos

Atualmente, Ranieri garante estar mais que feliz como integrante da Companhia Brasileira de Teatro e com Vida, mais recente produção do grupo. Mas voltar à televisão ainda está entre os planos do ator, que recentemente participou de um teste para um papel no remake da novela Ti Ti Ti, de Maria Adelaide Amaral. O trabalho cairia como uma luva, já que, além do talento de ator, Ranieri trabalhou como desenhista de moda quando adolescente. "Fui fazer um curso de desenho de moda e a professora me pediu para desenhar um croqui. Quando viu meu trabalho, me deu o diploma e disse que eu não precisava de curso nenhum. Meus desenhos eram muito extravagantes, de alta-costura", revela.

Outra faceta pouco conhecida de Gonzalez é a de escritor. Desde adolescente ele tem o costume de encher enormes cadernos com poesias e pensamentos e o mais recente que produziu, durante um momento de depressão, acaba de virar uma peça. Batizado de Tranquilizador de uma Sobrevivência Prolongada, o monólogo terá direção de Maurício Vogue e conta com dramaturgia de Ranieri, mesclada a algumas de suas influências literárias, entre elas Dostoiévski, Maia­­kóvski, Caio Fernando Abreu e Van Gogh.

Serviço

Confira o serviço completo da peça "Vida".

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