
A literatura indiana é praticamente desconhecida no Brasil. Poucos escritores da Índia foram publicados por editoras brasileiras. O mais conhecido talvez seja Salman Rushdie. Mas seu reconhecimento ganhou mais projeção por causa de sua condenação à morte, em 1989, ordenada pelo Aiatolá Khomeini (1902-1989), líder do Irã, do que por sua obra. Rushdie, que vive na Inglaterra, irritou os mulçumanos com o lançamento do livro Os Versos Satânicos (1989), publicado no Brasil pela Companhia das Letras, considerado ofensivo ao profeta Maomé e ao Islamismo.
Para suprir essa deficiência literária, a editora carioca Guarda-Chuva lançou neste ano O Pintor de Letreiros, de R.K. Narayan, abreviação de Rasipuram Krishnaswami Narayan (1906-2001), que tem pela primeira vez um livro publicado no país. O indiano, como Rushdie e outros patrícios, escrevia em inglês. Vale lembrar que a Índia foi colônia da Inglaterra até 1947. Admirado por Graham Greene, Henry Miller e John Updike, ganhou a fama de ser o Anton Checkov indiano, em referência ao dramaturgo russo, considerado um dos maiores contistas de todos os tempos. Pela qualidade de O Pintor de Letreiros, a fama se faz verdadeira.
Lançado em 1976, o livro, que tem tradução de Léa Nachbin, narra a história de amor entre Raman, um pintor de letreiros, e Daisy, uma funcionária pública responsável pela campanha de controle de natalidade na Índia. A relação conturbada tem como pano de fundo o dia a dia da comunidade na cidade imaginária criada por Narayan, Malgudi, com seus habitantes, convivências e negociações. Mostra ainda os conflitos entre a tradição indiana e a modernidade, representada sobretudo pelo posicionamento de Daisy.
A escrita de Narayan é simples, como as grandes obras são. Você passeia pelas ruas de Malgudi como se estivesse na garupa da bicicleta de Raman. Os detalhes e os costumes descritos fazem com que o leitor se imagine no lugar do pintor de letreiros. A construção dos diálogos se encaixa, de maneira econômica, no transcorrer da trama, permitindo que a história de Raman e Daisy seja universal.
Nobel
A Índia, ao contrário do Brasil, já teve um escritor agraciado com o Nobel de Literatura. Foi no longínquo ano de 1913 que o poeta, romancista, músico e dramaturgo Rabindranath Tagore (1861-1941) foi escolhido pela academia sueca. Tagore é um dos poucos autores indianos publicados por editoras brasileiras, mas sua obra acaba sendo catalogada como de religião ou autoajuda. V.S. Naipaul, nascido em Trinidad e Tobago, mas de família indiana, levou o Nobel de Literatura em 2001.
Agora é esperar que o crescimento econômico da Índia e sua aproximação política com o Brasil permitam que mais obras da literatura indiana cheguem ao país. GGGG
Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.



