
Nunca olhe uma criatura que se diz possuída nos olhos. Observe como ela reage diante de objetos religiosos, como crucifixos e água benta. Tente perceber se ela está falando em línguas estrangeiras com as quais nunca teve contato (ou se as palavras são ditas na ordem contrária). Jamais tente conversar referindo-se à pessoa dona do corpo que ela ocupa. Não dê ouvidos a provocações pessoais sobre detalhes da sua vida aos quais ela nunca teve acesso. E faça tudo, mas tudo o que puder para descobrir o nome da entidade que se diz presente, pois, só assim, será possível expulsá-la.Por mais estranho que pareça, essas regras de fato existem e são ensinadas aos alunos de um curso ministrado no Vaticano. E, se você já as conhece sem nunca ter ido à Itália, não se assuste: você não está possuído! Apenas assiste a muitos filmes de terror.
Básicas para comprovar a necessidade de um exorcismo, as informações descritas no primeiro parágrafo são repetidas uma a uma por Anthony Hopkins em O Ritual (confira trailer, fotos e horários das sessões), uma das estreias do último fim de semana nos cinemas curitibanos. No filme, dirigido pelo sueco Mikael Hafström (A Maldição do Lago), o veterano ator galês vive Lucas Trevant, papel presente em nove a cada dez filmes que tratam de possessões demoníacas: o do padre atormentado, em dúvida quanto à própria fé em Deus.
É assim com o padre Karras (Jason Miller), no clássico O Exorcista, de 1973 (leia mais no quadro ao lado). A descrença momentânea também acomete o pastor Cotton Marcus (Patrick Fabian), em O Último Exorcismo (2010), mais um filme sobre o tema que chegou às locadoras no mês passado.
Assim como Karras, o personagem de Hopkins abre uma brecha para o demônio ao desconfiar da existência de Deus. Seu discípulo, o seminarista Michael Kovak (Colin ODonoghue), um dos alunos do curso para formação de exorcistas no Vaticano, sofre do mesmo problema e acaba tendo de enfrentar um poderoso demônio logo em seu primeiro ritual.
"Se Deus não existe, o diabo também não. Logo, não há por que temê-lo", tenta racionalizar o jovem e descrente Kovak, antes de dar de cara com o capeta em pessoa.
Outro fato comum aos filmes de exorcismo (e nunca explicado por nenhum deles) é a possessão quase que exclusivamente feminina. Em O Ritual, que se diz baseado um caso real, as cenas mais apavorantes são protagonizadas por uma jovem italiana de 16 anos, grávida de um filho que ela se nega a dizer de quem é. Outra adolescente, desta vez filha de um fazendeiro viúvo e religioso, é a vítima escolhida pelo tinhoso em O Último Exorcismo. Outras duas produções sobre o tema O Exorcismo de Emily Rose e Réquiem também são centradas em histórias de mulheres tomadas pelo diabo, ambas inspiradas no famoso caso verídico da alemã Anneliese Michel (1952-1976), morta após exaustivas sessões de exorcismo.
Interessante notar que, apesar da repetição de fórmulas, a avidez do público por filmes desse tipo permanece forte e eles continuam a pipocar nos cinemas ano após ano. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de que, como na vida real, nesses filmes, nem sempre o bem vence o mal no fim. Assim, prevalecem o mistério, o medo do desconhecido e, consequentemente, a curiosidade.
O Ritual GGG
O Último Exorcismo GG1/2









