
Aqui vai um truque prático para se assistir a Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, que estreia hoje nos cinemas, sem pensar no absurdo de testemunhar um filme em que o presidente dos Estados Unidos mais adorado de todos os tempos dedica seu horário livre a matar criaturas da noite: limpar sua mente de tudo o que você sabe sobre o contexto histórico da vida do líder que estampa a nota de cinco dólares, e encarar a história como um suspense com vampiros do século 19 que, por acaso, tangencia alguns dos principais acontecimentos da história norte-americana, como a questão escravagista e a guerra civil.
Se isso for inteiramente possível, o filme ganha qualidades inquestionáveis. A trajetória clássica do herói que busca vingar a morte da mãe, assassinada por vampiros senhores de escravos, recebe um tratamento de luxo na artificial, porém belíssima fotografia e direção de arte, com efeitos em 3D que realmente justificam o investimento a mais no ingresso. Misturando personagens que realmente existiram com outros inventados apenas para o longa, o filme mostra o jovem Abraham Lincoln (Benjamin Walker), que muda-se para Springfield, em Illinois, para estudar Direito e trabalhar no armazém do seu fiel amigo Joshua Speed (Jimmi Simpson), ao mesmo tempo em que desenvolve suas habilidades como caçador de vampiros, ensinado pelo mentor Henry Sturges (Dominic Cooper) e envolve-se com Mary Todd (Mary Elizabeth Winsted), a mulher que viria a ser a sua esposa.
Não mostra, contudo, como o protagonista se torna presidente dos Estados Unidos e começa a combater o sistema escravagista ainda muito forte na época no Sul daquele país endossado pela vasta população de vampiros norte-americanos, que usam os negros como alimento. É quando Lincoln resolve matar dois coelhos com uma cajadada só: abolir a escravidão e exterminar os cabeças da organização de vampiros, liderada por Adam (Rufus Sewell).
Com cenas de ação eletrizantes e uma sanguinolência indispensável ao gênero, Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros é divertido e cativa pelo cuidado com o visual, mas peca pela exaltação da figura pública de Lincoln, moralmente impecável, e pela já óbvia apropriação histórica de gosto duvidoso o mesmo filme com outro personagem que não o presidente seria bem mais aceitável. O resultado é um filme minimamente divertido que não deixa de imputar ao espectador um pequeno sentimento de culpa por apreciar um mash-up de horror e política norte-americana. Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros tem tudo para ser o mais novo guilty pleasure do ano. GGG
Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.



