
Excêntrico é apelido. André Abujamra parece ter o desafio eterno de se superar, de avançar os limites de sua própria criatividade ao mesmo tempo que mantém o bom gosto (embora não o bom senso) e a qualidade musical de suas peripécias artísticas.
A bola da vez é Família Lovborgs, que estreou no Teatro do Paiol no último fim de semana e volta ao palco do espaço nos dias 3, 4 e 5 de agosto, sempre às... 20h13.
Tendo o humor como fio condutor, o enredo costura com habilidade música, teatro e uma projeção visual em preto e branco a multimídia sempre foi uma predileção do fundador da Karnak, e ele parece estar se aperfeiçoando nisso.
A história é a da família Lovborgs, que fala um russo arcaico intraduzível. A ideia, sabemos no começo do espetáculo, é tornar visível o invisível. Abujamra também sempre teve um pezinho no transcendental, porém essa faceta é menos perceptível no novo espetáculo que teve estreia nacional em Curitiba.
O que se destaca são as composições, a execução das músicas e os personagens caricatos, que nos fazem rir mesmo sem dizer nada. Ao piano e esbanjando uma barba vermelha, Abujamra (ou Abu-Proko Lovborg, professor de espirobol e maestro de orquestras rebeldes) comanda com desenvoltura Levy Carvalho (tuba), Graciliano Zambonin (bateria), Flávio Lira (contrabaixo), Leandro Teixeira (flugel horn) e Ary Giordani (acordeão).
O som são 12 músicas compostas por Abujamra lembra muito o klezmer e outros estilos dos bálcãs. Há também um mashup improvável de Stravinski e ZZ Top. Destaque é a participação da atriz Greice Barros, que interpreta a professora Neusa, uma psicóloga bipolar que tem a função de explicar o andamento do espetáculo e a história dos personagens.
E no meio de tudo, a viagem não tem limites. As palavras em "russo" foram criadas por André Abujamra, que também pensou na transcomunicação comunicação com os mortos, representada por vídeos exibidos em uma dezena de tevês, fotos tiradas no Cemitério Municipal de Curitiba e pelo eco de algumas intervenções ao microfone. Por mais que pareça absurdo, houve um trabalho sério de pesquisa, do roteiro ao figurino, para dar vida à Família Loveborgs ou não. Vida longa à criatividade cativante de Abu. GGGG
Classificações: GGGGG Excelente. GGGG Muito bom. GGG Bom. GG Regular. G Fraco. 1/2 Intermediário. N/A Não avaliado.



