
A reunião, num mesmo espetáculo, de um professor de música, pesquisador e instrumentista, com um mestre violeiro e dançarino e mais uma orquestra de câmara pode ser definido com uma palavra: "esbrangente". O termo, que parece ter saído direto dos livros de Guimarães Rosa, brotou da criatividade sertaneja do mestre Badia Medeiros e transformou-se em nome de disco, feito em parceria com outros dois violeiros, Roberto Corrêa e Paulo Freire.
Corrêa é o professor e pesquisador. Badia é o mestre que vive, cria e dança as modas de viola, principalmente o ritmo lundu. Os dois e mais a Orquestra à Base de Corda, do Conservatório de Música de Curitiba estarão se apresentando entre os dias 19 e 21 no Teatro da Caixa, em Curitiba, dentro do projeto "Viola Bem Brasileira".
"Esbrangente" é algo maior do que abrangente, que vai além, que abarca tendências e vivências e ainda é transformador. Este é o sentido do espetáculo. O elemento catalisador é Roberto Corrêa. Neto de violeiros, esse mineiro radicou-se em Brasília para se tornar físico. Tornou-se músico. Mais que isso, é o mais conceituado e respeitado instrumentista e pesquisador da viola caipira brasileira. Tem 15 discos gravados, um livro publicado sobre a arte de tocar viola e uma ampla pesquisa de campo sobre ritmos, danças e folclores brasileiros que utilizam a viola como um dos instrumentos sonoros (veja quadro). Graças a ele, ritmos e danças considerados quase extintos puderam ser registrados para a posteridade (abre parênteses - um desses ritmos, a curraleira, depois de redescoberta por Corrêa e sua parceira Juliana Saenger no interior de Goiás, teve seu primeiro registro sonoro feito pelo grupo paranaense Viola Quebrada, em disco lançado em 1998 - fecha parênteses). Como se não bastasse, Roberto Corrêa ainda tem um selo musical, chamado, muito propriamente, de Viola Corrêa.
Badia Medeiros é sertanejo, trabalhou na lavoura, foi peão de boiadeiro e é violeiro, festeiro, mestre de danças e ritmos, guia de folia de reis e do divino, sapateador de catira e lundu. "É um senhor de 80 anos e quem for ao espetáculo vai ficar admirado com a dança dele, com o que ele ainda faz com as pernas", garante Corrêa. O disco lançado pelos dois e mais Paulo Freire, é de 2003 e o trio se apresentou em dezenas de cidades brasileiras levando o espetáculo "Violas do Brasil".
Em Curitiba, Corrêa fez questão de convidar a Orquestra à Base de Corda, da Fundação Cultural, porque, neste ano, o grupo lançou o disco "Antiqüera", com produção e edição musical de João Egashira, em que, com arranjos próprios, toca músicas de Corrêa, que também é o solista do álbum. A orquestra conta com bandolim, cavaquinho, viola caipira, violão, violão 7 cordas, violino, piano e percussão e é coordenada por Egashira. Os componentes são professores do Conservatório de MPB de Curitiba.
"O espetáculo junta o moderno (a orquestra) com o tradicional (mestre Badia)", afirma o violeiro, que já está em Curitiba para os ensaios. O espetáculo terá três partes. Na primeira, Corrêa com Badia; na segunda, Corrêa com a orquestra; na terceira, apenas duas ou três músicas com todo mundo junto. O repertório une músicas do cancioneiro caipira como "Tristezas do Jeca", de Angelino de Oliveira; "A viola tem amor", de Badia Medeiros; e o côco "Desembolada", de autor desconhecido, além de composições instrumentais de Corrêa como "Mazurca do Viajor", "Parecença" e "Anti-viola".
Depois do espetáculo, Roberto Corrêa emenda novas atividades. Já gravou e espera lançar em outubro o disco "Temperança", só de canções, com voz e viola, parcerias dele com vários poetas. Também tem outro trabalho, com o rabequeiro Siba, que era do Mestre Ambrósio e agora está no grupo Fuloresta (rabequeiro é quem toca rabeca, uma espécie de violino caipira). Além disso, usa os contatos para viabilizar o lançamento do CD "Antiqüera" no exterior, o que deve se confirmar nos próximos dias. É, este violeiro não pára, está "esbrangendo".
Serviço:
Espetáculo: Projeto "Viola bem brasileira"
Local: Teatro da Caixa
Data: 19 a 21/09/2008
Horários: Sexta e sábado às 21h e domingo às 19h
Endereço: Rua Conselheiro Laurindo, 280 - Edifício Sede II
Recepção: 2118-5111
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (clientes da Caixa, maiores de 60 anos e estudantes)
Classificação etária: livre
Lotação máxima do teatro: 123 lugares





