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Fernanda Montenegro concorreu ao Oscar por “Central do Brasil”, em 1999: exemplo de boa atuação | Divulgação
Fernanda Montenegro concorreu ao Oscar por “Central do Brasil”, em 1999: exemplo de boa atuação| Foto: Divulgação

É comum assistirmos a um filme do qual gostamos e confundir bom enredo e texto com o trabalho dos atores – como se Keanu Reeves respondesse pela genialidade de “Matrix”, o que não é exatamente o caso.

Outras vezes, um ator ou atriz está tão bem que leva o filme junto. O que seria de “Lincoln” sem Daniel Day-Lewis no papel-título? A obsessão do ator foi tão longe que ele encarnou o personagem inclusive nas horas de folga, falando, vestindo-se e até alimentando-se como ele.

Parece óbvio que talento e técnica precisem andar juntos para chegar a um resultado como esse. “Sem a técnica, o talento vira ruído”, afirma o diretor Edson Bueno, cinéfilo compulsivo. “Atuar bem é fazer você estar no cinema vendo imagens projetadas numa tela e acreditar, sabe-se lá por que magia, que aquilo está mesmo acontecendo”, define.

MANDAM BEM

O diretor Edson Bueno tem na ponta da língua sua trinca da boa atuação: Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”, Darlene Glória em “Toda Nudez Será Castigada” e Bete Davis em “O Que Teria Acontecido a Baby Jane?”.

Na teledramaturgia, um ator que se destaca pela naturalidade é o curitibano Alexandre Nero, cuja carreira na Rede Globo ascendeu de uma novela para a outra, incluindo raros papéis de protagonista muito próximos um do outro (em “Império”, de 2015 e “A regra do jogo”, em 2016).

Essa sensação de “verdade” é bastante subjetiva, variando de acordo com o espectador. Mas o termo “magia” também parece perfeito, já que hoje tem sido revista a crença no puro tecnicismo, incorporado no clássico método de construção do personagem, mantra de Hollywood ao longo do século 20.

A teoria de interpretação criada para o teatro pelo russo Constantin Stanislavski foi simplificada e moldada para os sets dessa forma: cada ator precisa inventar uma “memória emotiva” do seu personagem, um histórico mínimo da vida daquele ser fictício com o qual ele próprio possa se relacionar.

MANDAM MAL

Já para exemplificar um trabalho fracassado, Edson Bueno pensa muito e só chega a dois exemplos categóricos: Sofia Coppola em “O Poderoso Chefão 3” e Russel Crowe em “Os Miseráveis”.

Na televisão, o público determina o sucesso ou fracasso de um personagem conferindo-lhe, ou não, popularidade. Quem não lembra da gozação com o Cigano Igor (Ricardo Macchi) de “Explode coração” (1995)?

Mas o método não funciona em qualquer caso, como a preparadora de elencos Fátima Toledo comprovou ao assumir seu primeiro rojão – o treinamento dos garotos de rua de “Pixote, a lei do mais fraco” (1981).

“Tudo que eu sabia com base em [diretores de teatro que criaram métodos de atuação, como] Stanislavski e Grotowski não funcionava bem com crianças, e tive que procurar uma saída na realidade deles. Percebi que o importante era ter presença. Se revelar, para revelar o personagem”, contou à Gazeta do Povo nas duas vezes em que ministrou oficinas em Curitiba, em 2011 e 2015.

Discípulo dessa treinadora que leva fama de durona, o cineasta curitibano Guto Pasko concorda com ela, baseado em cursos de atuação audiovisual que promove e nos quais se assusta com a falta de habilidade diante das câmeras de quem tem treinamento só em teatro.

“Tudo que um ator não pode fazer diante das câmeras é tentar interpretar, por mais contraditória que essa afirmação pareça”, diz. “No audiovisual basta ser, apenas vivenciar aquela situação da personagem, da forma mais natural e simples possível, de maneira cotidiana.”

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