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Comédia

Zequinha nas versões amoral e corretíssimo

As duas fases do personagem das balas Zequinha dão o mote do espetáculo #zeqpop, que estreia hoje no Teuni

Reprodução das figurinhas antigas, em papel comum: as verdadeiras são raridade | Reprodução
Reprodução das figurinhas antigas, em papel comum: as verdadeiras são raridade (Foto: Reprodução)
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Quem brincou com os papéis de bala Zequinha provavelmente nem percebeu o quão politicamente incorretas elas eram. Os (toscos) desenhos do palhaço que protagonizou os jogos de bafo de 1929 a 1967 o mostravam em atividades as mais inusitadas. Em algumas das séries o autor o retratou como "gatuno", "gângster", "embriagado" e até "enforcado" e "suicidando-se".

INFOGRÁFICO: Veja os desenhos do palhaço nos papéis de bala

O espetáculo que estreia hoje no Teuni, #zeqpop (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo), é inspirado na percepção dessa amoralidade do personagem, e também na revolta contra sua deturpação numa segunda fase, a partir de 1979, quando foi "melhorado" para ilustrar figurinhas de uma campanha estadual em prol do hábito de se pedir nota fiscal.

A peça, criada em conjunto pelo elenco (Ciliane Vendruscolo, Cleydson Nascimento, Marcel Szymanski e Paulo Marques), a diretora (Andrea Obrecht) e o roteirista (Adriano Esturilho) é composta por esquetes cômicas inspiradas nessa que é considerada uma manifestação artística legitimamente paranaense. Mas também na fúria de pessoas como o jornalista Valêncio Xavier (1933-2008) contra sua deturpação no governo Ney Braga.

"Se fôssemos colocar o Zequinha na rua hoje, o que ele estaria fazendo?", pergunta Andrea, que conversou com a reportagem durante um ensaio. Essa foi a questão que norteou a pesquisa e os ensaios do grupo. Um blog também foi criado com o tema para pedir colaborações do público (veja em projetozequinhapop.wordpress.com).

Surgiram referências como a geração Facebook, brincadeiras de crianças de prédio, a arte de palhaço e a imagem de artistas revolucionários.

O resultado dilui o personagem-tema para retratar apenas seu espírito, em situações contemporâneas. Quando é mencionado, Zequinha é explicado de forma explícita e didática, incluindo projeções de figurinhas e uma explicação sobre a campanha do governo de 1979.

Projeto

A ideia de criar um espetáculo com esse tema surgiu quando Andrea pesquisou a obra de Valêncio para a peça Febre (2008), com direção de Fernando Kinas. Na busca entre os textos do jornalista, surgiram escritos como seu livro de 1973, Desembrulhando as Balas Zequinha.

"Valêncio coloca as figurinhas como uma obra de arte relevante. Me deu uma pena muito grande isso tudo ter sido esquecido", conta Andrea.

Para ela, os méritos do personagem estão em sua abrangência, já que ele pode ser médico e gari, delegado e "gânster". "E sem moralidade, o que é interessantíssimo", opina. "É contraditório, mas você tem a vida de um personagem ali dentro, e pode contar mil histórias."

A utilização por parte do governo do Estado, ela vê como nefasta. "Em vez de valorizar a história, a destruiu como produto do consumismo, incentivando as crianças a comprar." Isso porque as figurinhas com Zequinha limpo, bem alimentado e correto eram distribuídas em troca de notas fiscais do então ICM.

História

Em outra Curitiba

A febre do troca-troca dos papéis de bala Zequinha surgiu numa era em que brinquedos "industrializados" como esse eram raríssimos. Os irmãos Sobania, da fábrica A Brandina, foram os primeiros proprietários da marca.

Por sua encomenda, o desenho surgiu dentro da Impressora Paranaense, que também oferecia o serviço de desenhistas. A criação de Zequinha é creditada a Alberto Thiele, mas fases posteriores teriam saído da pena de Paulo Carlos Rohrbach, que também desenhou o rótulo da gasosa Cini. A figurinha mais rara era a de número 200.

Os desenhos revelam uma Curitiba muito diferente – exceto pela presença de chuva, que ilustra o tema "Zequinha Passeando".

A série "trágica", como definiu o jornalista Valêncio Xavier, foi do número 130 a 134 (Zequinha Viúvo, Machucado, Perneta, Raquítico e Suicidando-se).

Balas Zequinha

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