O despertador de Lula iniciou a semana com tilintares de esperança. A semana prometia bonança para o atual presidente da república. Com o julgamento de Bolsonaro marcado, Gonet prometia destruir de vez os argumentos das defesas e alçar o discurso de um presidente injustiçado que quase não conseguiu assumir o poder. Essa era a expectativa que, ao que tudo indica, restou frustrada.
Antes de adentrar no pior dos mundos para Lula, olhemos para o pior dos mundos para Haddad. Apesar do Boletim Focus diminuir seu pessimismo para com a inflação, os números de fato verificados pelo IPC-Fipe fechou os últimos 12 meses com alta de 4,92%. O IBOVESPA caiu e o Dólar subiu. Tudo isso vem como consequência de uma expectativa de novas sanções, em caso de Bolsonaro condenado.
Adentrando, enfim, na parte político-jurídica, o julgamento de Bolsonaro já começou frustrando as expectativas do Governo.
Bolsonaro e núcleo 1: advogados apontam problemas na acusação
A Procuradoria-Geral da República viu muitos de seus apontamentos frustrados pelos olhos atentos dos advogados dos réus. Só pra ilustrar, temos o caso da famosa "minuta do golpe". Após pedir que o portal Conjur identificasse quando e quem postou a tal "minuta do golpe na internet, uma surpresa: deram uma resposta, mas apontando para outro link.
Mas não é apenas a minuta do golpe: a delação de Mauro Cid continua enfraquecendo. Os advogados fizeram questão de reivindicar sua anulação. O advogado de Garnier, por exemplo, apontou diversos adjetivos nada lisonjeiros de Gonet contra Mauro Cid. O mesmo Gonet que, agora, pretende que a delação seja mantida. Primeiramente, vale analisar o pedido do PGR: aprovar só o que interessa à acusação em uma delação premiada?
Demóstenes Torres, porém, não foi tão combativo quanto o exemplo acima fez parecer: um quinto de seu tempo de fala foi destinado a tecer elogios aos ministros da Suprema Corte. Ao final, a fala mais polêmica: diz que é um exemplo vivo de que é possível gostar de Moraes e de Bolsonaro ao mesmo tempo.
Tagliaferro traz novas revelações
Moraes teria combinado sentenças com Paulo Gonet e tentado perseguir empresários de direita. Essas são as acusações de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do TSE. Mas engana-se quem pensa que ele as fez somente em seu instagram, como de costume. Agora, a fala foi no Senado Federal. A repercussão foi tamanha que, mesmo diante de tanto trabalho, o gabinete de Alexandre de Moraes fez questão de emitir nota:
"[...] Diversas determinações, requisições e solicitações foram feitas a inúmeros órgãos, inclusive ao Tribunal Superior Eleitoral, que, no exercício do poder de polícia, tem competência para a realização de relatórios sobre atividades ilícitas, como desinformação, discursos de ódio eleitoral, tentativa de golpe de Estado e atentado à Democracia e às Instituições.
Nota do Gabinete do Ministro Alexandre de Moraes
Os relatórios simplesmente descreviam as postagens ilícitas realizadas nas redes sociais, de maneira objetiva, em virtude de estarem diretamente ligadas as investigações de milícias digitais.
Vários desses relatórios foram juntados nessas investigações e em outras conexas e enviadas à Polícia Federal para a continuidade das diligências necessárias, sempre com ciência à Procuradoria Geral da República. Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria Geral da República.
Na PET 10.543, o procedimento foi absolutamente idêntico. Após a decisão do Ministro relator, em 19 de agosto, foi solicitado relatório para o TSE, que foi juntado aos autos no dia 29 de agosto, tendo sido dada vista imediata às partes. O recurso da PGR não foi conhecido pelo STF, em 9 de setembro. Tudo regular e oficialmente nos autos.
Mas não para por aí: a família Bolsonaro resolveu comprar a briga. Agora, as acusações fortes de Tagliaferro podem chegar ao ouvido de Donald Trump. Qual será o futuro de Moraes depois disso? Com o futuro de Moraes incerto, qual será o futuro de Lula? E mais: qual será o futuro de Jair Bolsonaro?
CPMI do INSS avança em meio a tensões
Um julgamento de tamanho porte compete audiência com algo que sempre chama a atenção da opinião pública: uma comissão parlamentar de inquérito. Novelas do gênero policialesco, as CPI's e CPMI's costumam gerar embates e mais embates. Mas não só isso: as investigações costumam revelar segredos nada lisonjeiros ao governo no poder.
No caso da CPMI do INSS, sobretudo, o tema é sensível. Ninguém quer ver idosos tendo suas curtas aposentadorias subtraídas. Com isso, a oposição ganha força com o discurso em prol de aposentados e pensionistas, enquanto o governo tenta, com muito custo, transferir a responsabilidade somente às associações. Mas no meio do caminho, há uma pedra: Frei Chico. O irmão de Lula é, hoje, o principal elo que liga o governo petista ao escândalo bilionário. Se ouvido, o desgaste é incalculável.
Por falar em desgaste, aliás, é importante ressaltar: já há desgaste suficiente para que gente grande pule do barco.
União Brasil e PP deixam governo Lula
O barco está mais leve pela falta de passageiros ou mais pesado por excesso de água? Davi Alcolumbre, presidente do Senado, faz parte de um dos maiores partidos do país: o União Brasil. O megapartido, fruto da fusão entre Democratas e PSL, ganhou mais um upgrade, ao anunciar fusão com o PP. Juntas, essas duas siglas resolveram dar as mãos e desembarcarem juntas do governo Lula.
Com isso, pautas caras a Bolsonaro, especialmente o impeachment de Moraes, parecem mais próximas. Agora em um partido que já não é mais governo, Alcolumbre certamente terá problemas em segurar por muito tempo sua reisistência a pautar o impeachment. Com isso, o cargo de Moraes se vê encurralado: Magnitsky de um lado, Tagliaferro do outro, Impeachment do outro. A situação pode tornar-se insustentável.
Segundo dia de julgamento: veja os destaques do Café com a Gazeta do Povo desta quarta-feira (2)
- TAGLIAFERRO DENUNCIA PERSEGUIÇÃO DE MORAES CONTRA EMPRESÁRIOS;
- MORAES INICIA LEITURA DO RELATÓRIO ELOGIANDO ECONOMIA;
- UNIÃO BRASIL E PP ABANDONAM A BASE DO GOVERNO LULA;
- GONET MINIMIZA AUSÊNCIA DE ASSINATURA NA “MINUTA DO GOLPE”;
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