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Foto: Flickr/Família Bolsonaro/Reprodução
Foto: Flickr/Família Bolsonaro/Reprodução| Foto:

Enquanto elaboro este comentário, vejo-me aturdido por duas cenas: uma na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde representantes do povo debatem o encaminhamento da reforma da Previdência; outra no Supremo Tribunal de Justiça, que julga o recurso da defesa do ex-presidente Lula no caso Triplex — julgamento este que se encaminha para a redução da pena, o que permitiria ao condenado deixar a cadeia em setembro.

Sendo assim, dois momentos importantes. O primeiro trata da agenda mestra do governo, pauta fundamental para que o Brasil retome o crescimento econômico e tenha condições de investir em Educação, Saúde e Segurança, além de estancar um autêntico esquema de pirâmide que arrocha os pobres e favorece os ricos. O segundo diz respeito ao futuro daquele que, resta inegável, foi o mandatário mais popular em nossa história recente. Para o bem e para o mal.

Dois momentos importantes que no entanto me vejo obrigado a ignorar. É sintomático: quando o comando não se mostra capaz de comandar, quando o presidente não deixa dúvidas a respeito da sua incapacidade de tocar o país, até mesmo de controlar o próprio filho, torna-se impossível ignorar os perigos produzidos pelo amadorismo e também pela insensatez.

Não escrevo “filho” e “insensatez” por acaso. O que vem acontecendo nas últimas horas, sempre via Twitter e por meio do vereador carioca Carlos Bolsonaro, com larga margem o mais descompensado dos rebentos palacianos, extrapola os limites do bom senso. Mesmo para uma gestão como essa, marcada pelo desatino diário dos seus mais importantes símbolos.

As afrontas ao vice-presidente Hamilton Mourão impressionam não só por sua fartura, mas, acima de tudo, pela quase palpável certeza da impunidade que o seu autor consegue passar em cada uma de suas mensagens. 

Digo, trata-se de um patamar de agressividade e gana de ferir a imagem do outro, que, se levarmos em conta o contexto — o fato de Mourão ser alguém eleito pelo povo; general estimado entre os militares em governo mormente formado por eles; além de contar com a simpatia de uma parcela considerável da sociedade —, não faz sentido imaginar tais atitudes como isoladas.

No fim das contas, das duas uma: ou bem Jair Bolsonaro peca por fraqueza, uma vez que não consegue domar sua prole — e aqui nem vale a pena entrar no mérito da educação administrada em casa — ou é conivente e concordaria, portanto, com os pareceres de Carlos, Olavo de Carvalho e grande elenco de que o general Mourão representa uma ameaça.

E aí é inevitável recordar o episódio que levou à demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno. Houve ali, para além da irresponsabilidade, já que se tratava de alguém tido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como um interlocutor importante do governo dentro do Congresso, uma fritura das mais sórdidas. Enquanto Carlos fez o trabalho sujo, Jair fechou a fatura.

Há, contudo, uma pequena diferença entre Bebianno e Mourão. Como bem lembrou o vice em recente palestra na Universidade de Harvard, ele foi eleito. Não pode, portanto, ser demitido.

Quando da sabatina no canal Globonews envolvendo os vice-presidentes, Hamilton Mourão impressionou pela fluência ao se comunicar — não que a referência imediata atrapalhasse nesse quesito. Entretanto, também causou polêmica ao usar o termo “autogolpe”.

Na época o alarido foi grande, muitos entendendo a fala como uma ameaça velada à nossa democracia, influenciados por certo alarmismo que durante o período eleitoral remontou à ditadura militar. Pois, quem diria, talvez o vice tenha tido o seu momento de pitonisa.

Resta saber para que lado.

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