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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil| Foto:

Desde a apresentação da reforma da Previdência, entrei em contato com alguns dos maiores economistas e estudiosos do tema no país. Nenhum deles poupou elogios ao plano. Muitos ressaltaram o fato de se tratar da mais ousada proposta do tipo já defendida por um governo e celebraram a admissão pública de erro do presidente por, no passado, ter se posicionado de maneira contrária. Contudo, para além de ajustes possíveis no texto, também foram unânimes em salientar que o tão almejado ponto de inflexão fiscal a ser alcançado com a reforma ainda precisa passar pela articulação política. Neste aspecto, mostraram-se temerosos.

Não sem razão.

Em tempos de efervescência política, muitos ainda não perceberam que a eleição terminou e se veem na obrigação de defender a nova administração de quaisquer críticas. Por exemplo, há quem desdenhe do possível envolvimento do filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, com laranjas e até milícias no Rio de Janeiro. Questão essa ainda sem desfecho. Assim como também há quem faça pouco caso do envolvimento de outro filho do presidente, Carlos, o vereador carioca, na exoneração do ex-ministro e até pouco tempo principal interlocutor do governo na Câmara, Gustavo Bebianno. Noves fora os calores provocados pelas paixões políticas, vale dizer: tais desmerecimentos não fazem o menor sentido.

Não se trata aqui de opinião, mas de uma constatação. Em ambas as situações, o governo demonstrou uma habilidade incomum para atrair crises que poderiam ter sido evitadas. Sobretudo na segunda, quando se constatou o envolvimento do próprio presidente da República, após os vazamentos de áudios revelando diálogos dignos de birras juvenis. Conversas de uma frivolidade rara e, por que não dizer, estúpidas em qualquer momento, ainda por cima às vésperas de uma semana tão importante para o país.

O próprio presidente eleito da Câmara, Rodrigo Maia, veio a público defender Bebianno e chamar a atenção do presidente pelo risco que o cenário poderia trazer, inclusive levantando a hipótese de que estivesse usando Carlos para viabilizar a exoneração do então ministro.

Pois, ao que tudo indica, caberá justamente a Maia, cuja vitória no pleito da Câmara chegou a ser evitada por Onyx Lorenzoni, o papel de principal articulador político para a aprovação da reforma. E não só por ter compreendido a importância da pauta, mas porque está claro o status de “adulto na sala” que hoje ele incorpora e também pelo tanto que poderá vir a lucrar do ponto de vista eleitoral no futuro, provavelmente no Rio de Janeiro.

Suas movimentações devem caminhar em paralelo com as de Fernando Bezerra Coelho (MDB), escolhido por Jair Bolsonaro para ser o líder do governo no Senado. Não que o presidente Davi Alcolumbre tenha interesse em atrapalhar — o DEM, em que também militam Maia e Lorenzoni, deve fazer de tudo para remar junto com os interesses da administração.

Diga-se, a indicação de Bezerra sugere que o próprio governo reconhece uma lacuna apenas passível de ser rechaçada por quem é pouco afeito às coisas de Brasília ou extremamente atávico ao fla-flu ideológico, isto é, de que, pelo menos até o momento, não dispõe em suas fileiras de alguém com a experiência e o traquejo para fazer a articulação política no Congresso.

É por isso, aliás, que muitos olharam de soslaio quando Renan Calheiros foi derrotado por Alcolumbre. Assim como é por isso que a sociedade deve agora acender uma vela para Rodrigo Maia e Fernando Bezerra.

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