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Noves fora casos excepcionais, governos levam um bocado de tempo até serem obrigados a constatar a erosão da sua popularidade. Assim acontece porque, claro, recém-terminado um pleito, a maioria nutre otimismo pela escolha que ela própria fez. Com o passar do tempo, porém, é inevitável constatar uma diminuição nos níveis de aprovação. Inclusive quando se trata de governos bem-sucedidos, dadas as pequenas derrotas, ranhuras políticas e percalços inerentes ao mandato.

Pois o governo Bolsonaro é algo de excepcional.

De acordo com a última pesquisa divulgada pela CNT/MDA, apenas 39% avaliam o governo como ótimo ou bom. Para se ter uma ideia, Dilma Rousseff, às vésperas da disputa com Aécio Neves, imagem desgastada e eleição vencida por um fiapo, ostentava 41%.

De saída, o motivo responsável por levar a atual gestão, consagrada há pouco, a um patamar tão baixo de popularidade é conhecido: Bolsonaro foi eleito de maneira incontestável, mas por uma diferença de votos biônica. Trocando em miúdos, muito impulsionada pela rejeição ao PT. Assim, para além do bolsonarista ferrenho e do eleitor que evita ao máximo reconhecer o arrependimento, existe uma considerável parcela da sociedade que não se vê empaticamente atrelada ao bolsonarismo. E que, portanto, não hesitará em criticar o governo se achar necessário.

Por outro lado, a administração Bolsonaro não divide méritos com o outro fator responsável por tamanho debacle em popularidade: ter engendrado, a fim de se eleger, uma narrativa tão entrecortada por clichês e incongruências que agora fica difícil caminhar sem pisar no próprio rabo. E o povo já percebeu.

Já percebeu que os ministros alardeados como técnicos na verdade demonstram não ter condições para liderar pastas fundamentais como a Educação e as Relações Exteriores. Já percebeu que a promiscuidade entre Estado e ideologia, antes criticada, continua em voga. Já percebeu que o discurso atacando a corrupção não permanece de pé quando envolve personagens caros ao próprio governo. Percebeu também que mantém-se a estratégia de culpar a imprensa por absolutamente tudo; de fomentar críticas negativas a jornalistas só porque esses acabam trazendo à tona notícias desagradáveis; que há uma predileção por veículos amigos e até mesmo planos para a criação de alguns com esse perfil.

Já percebeu, por fim, que estimular e participar de linchamentos virtuais e passar o dia distribuindo ofensas e agressões destrambelhadas sem ter a responsabilidade de governar é fácil. Bem diferente é fazer tudo isso sob a égide da Constituição Federal e dos anseios de toda uma população.

Afirmo que perceberam, entretanto não posso negar a quantidade de pessoas ainda em estado de transe eleitoral, por vezes agindo como se estivessem em um verdadeiro culto ecumênico. O movimento de manada que saiu em socorro do ministro Vélez Rodríguez após o seu estapafúrdio e antes de mais nada ilegal pedido às escolas é um exemplo claro disso. Vélez feriu a Carta quando solicitou a filmagem das crianças e sorrateiramente embutiu o slogan de campanha no comunicado. No entanto, inúmeros foram aqueles que ignoraram tal fato e apelaram para a cantoria do Hino de modo a escamotear o atrevimento do ministro, que, diga-se, acabou se vendo obrigado a recuar.

Idem para o ponto mais baixo atingido até o momento pela gestão atual, quando há pouco o presidente teceu loas ao ditador, torturador e pedófilo Alfredo Stroessner. Dessa vez, em sua maioria, as hostes bolsonaristas permaneceram em silêncio. Uma ausência de opinião que diz muito, se não tudo, sobre o estado de permanente catarse que tomou este país de assalto.

“Não se governa uma nação com pensamento único. Essa parte é muito importante: os seguidores, muitas vezes, do deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvirem um discurso uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente igual nas mesmas coisas. Reflitam se nós não estamos correndo risco de fazer um PT ao contrário. Minha fidelidade não é ao deputado Jair Bolsonaro, a quem externo todo meu respeito, a minha fidelidade é ao meu país.”

Já se passaram 6 meses desde que o discurso acima ganhou voz em plena convenção nacional do PSL. A sua autora? Janaína Paschoal, então postulante ao posto de vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro e hoje deputada estadual pelo próprio partido. Janaína foi destemida, algo que não surpreendeu ninguém atento ao cenário político nos últimos anos, mas acima de tudo demonstrou uma habilidade até então desconhecida e, agora sabemos todos, comprovadamente aterradora: a mediunidade.

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