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O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, é formado em Engenharia Civil no Instituto Militar de Engenharia, o IME, um dos raros órgãos do Estado brasileiro com reputação de excelência. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, é formado em Engenharia Civil no Instituto Militar de Engenharia, o IME, um dos raros órgãos do Estado brasileiro com reputação de excelência. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil| Foto:

Elogiar políticos na imprensa é uma indignidade, pois a maior utilidade da Gazeta para o leitor está em apresentar motivos para que você cobre os políticos. Este curto espaço semanal é nobre demais para elogios a quem paga assessores de imprensa com dinheiro público. Espero convencer o leitor de que, hoje, vale a pena parar para escrever sobre Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura.

É comum, nos países desenvolvidos, a valorização dos estudantes das universidades de elite que se dedicaram ao interesse público. Ocorre com as grand écoles francesas, com a Ivy League e suas concorrentes recentes nos EUA, com as britânicas Cambridge, Oxford, com a London School of Economics. Há exageros elitistas nessas tradições, mas as considero geralmente positivas. Simbolizam busca por qualidade, rigor acadêmico, força da sociedade civil, reconhecimento do trabalho duro e uma cultura de retribuição à comunidade. Uma das faces interessantes de Tarcísio é essa, ele é um representante do que não somos, mas gostaríamos de ser.

O ministro é formado em Engenharia Civil no Instituto Militar de Engenharia, o IME, um dos raros órgãos do Estado brasileiro com reputação de excelência. Segundo a jornalista Denise Rothenburg, do Correio Braziliense, formou-se com a maior nota geral do curso alcançada na história da instituição.

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Apesar do currículo comum a muitos barões da Faria Lima, Tarcísio é servidor público. Chefiou a seção técnica da missão brasileira no Haiti e se tornou diretor do DNIT em 2011, quando Dilma Rousseff buscava limpar o órgão após denúncias de corrupção, e ascendeu a número 1 do órgão em 2015. Depois, com as concessões do PPI no governo Michel Temer. Hoje, lidera as políticas públicas federais na área em que se especializou ao longo da carreira: transporte, logística, infraestrutura.

Em três meses de governo, Tarcísio entregou leilões importantes com sucesso. Dando continuidade ao bom trabalho do governo Temer na área, do qual ele participou, seu ministério tem um congestionado calendário que, se cumprido, certamente será um dos maiores sucessos deste governo.

Tarcísio não inventa crises usando o twitter do presidente, não cria polêmicas vazias sobre rosa e azul, não se perde em delírios anticomunistas e diz que o dinheiro chinês é bem vindo, pois seria loucura ignorar um dos maiores exportadores de capital do mundo.

Após as críticas da senadora Kátia Abreu ao leilão da Ferrovia Norte-Sul, o ministro foi à imprensa dar explicações sobre os critérios técnicos que subsidiaram suas escolhas. Após os ágios de quatro dígitos nas concessões de aeroportos, ele explicou o cálculo do governo para a outorga mínima. Esse é o modo certo de lidar com a oposição. Contrasta com outros membros do governo que, além de lidarem mal com o contraditório, frequentemente tornam o governo alvo de críticas desnecessárias, com polêmicas desnecessárias.

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É por isso, leitor, que vale a pena gastar algumas linhas deste espaço elogiando um ministro: porque Tarcísio é, em suma, o que muitos deveriam ser e não são. Num governo com tanta gente disposta a fazer barulho desnecessariamente, o ministro da Infraestrutura segue a linha oposta. Técnico e contido, entregou mais resultados para o Brasil do que trending topics para o Twitter.

Enquanto o chanceler Ernesto Araújo cria confusão com a China, Tarcísio vai à imprensa dizer que o Brasil, quebrado e carente de investimentos, precisa se aproximar de um dos maiores exportadores de poupança do mundo.

Ministros, aprendam com o colega. Apareçam apenas quando sua pasta tiver algo análogo a um leilão bilionário para apresentar. E se não tiverem algo do tipo, que trabalhem para ter algo grande para apresentar. É para isso que vocês têm tantos assessores.

A cada nova polêmica de Damares, Ernesto, Carlos, Vélez, Eduardo ou Joice, Bolsonaro revela a pior face do seu governo. A dos trapalhões, barulhentos, responsáveis por atrapalhar a reforma da Previdência e a popularidade do presidente nos últimos meses.

E, a cada leilão e entrevista de Tarcísio, Bolsonaro revela a melhor face do seu governo: os técnicos ambiciosos, liberais, sedentos para reformar o Estado e usar o conhecimento especializado a favor do desenvolvimento nacional.

O grande risco de elogiar um político é que, amanhã ou depois, ele sempre pode fazer uma bobagem monumental que contradiga os elogios. Espero que o ministro Tarcísio não me decepcione. O Brasil precisa, mais do que nunca, de um adulto na sala para mostrar aos malucos como um ministro deve se portar.

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