Imagem panorâmica Feira do Largo da Ordem
Feira do Largo da Ordem é um clássico de Curitiba — e se encaixa no que os especialistas denominam como economia criativa.| Foto: Levy Ferreira/SMCS
  • Por A.Yoshii e Elo apresentam Curitiba 331 Anos
  • 27/03/2024 16:12

Curitiba comemora 331 anos em 2024. Para celebrar, Gazeta do Povo, A.Yoshii e Elo Empresas apresentam uma série de conteúdos que destacam por que a capital paranaense é a cidade mais inteligente do mundo. Conheça o cenário da Economia criativa em Curitiba, que gera oportunidades e renda.

Neste ano da graça de 2024, a inteligência artificial é a "menina dos olhos" dos investidores e suas possibilidades de produção sem interferência humana prometem movimentar bilhões de dólares. Por outro lado, a produção intelectual que só pode surgir da mente humana também é vista como uma oportunidade de negócios promissora. É a chamada economia criativa.

Segundo os números mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua), a economia criativa oferece emprego e renda para cerca de 7,4 milhões de pessoas em todo o país. E conforme o setor cresce, esse número tende a subir: a estimativa do IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística) é de 8,4 milhões de empregos até 2030.

Empregando tanta gente, a atividade criativa também movimenta a economia do país. Dados divulgados pelo Governo Federal indicam uma participação de 3,1% no PIB — maior que a de setores tradicionais da economia, como a indústria automobilística, que tem cerca de 2%.

Analisando esses dados, não é de se estranhar que cada vez mais pessoas queiram trabalhar e empreender nesse setor. Também é compreensível que o poder público e a iniciativa privada busquem investir nele. Nesse cenário, a indústria da economia criativa em Curitiba acelera sua trajetória de crescimento, tornando-se mais uma área onde a cidade é referência.

Série de Conteúdos 331 Anos: entenda por que Curitiba é a cidade mais inteligente do mundo.

A economia criativa em todos os cantos da cidade

Quando ouvimos o termo economia criativa é comum associá-lo a algo supermoderno, como jovens artistas descolados que fazem suas performances conceituais no Centro da cidade. E a economia criativa inclui as artes, é claro, mas não somente isso.

A realidade é que a economia criativa já existe — e prospera! — em Curitiba há muito tempo. As Feiras de Arte e Artesanato são um ótimo exemplo disso. A mais famosa, no Largo da Ordem, acontece desde 1973, há mais de meio século. No início de 2024, inclusive, duzentos novos expositores conseguiram licença para vender seus produtos na querida Feira do Largo.

Além desse exemplo mais famoso, Curitiba tem Feiras de Artesanato em outros 20 pontos — espalhados por toda a cidade, do Cajuru ao Tatuquara. No total, mais de 2.000 expositores participam desses eventos. Para participar, a Prefeitura exige que os produtos vendidos sejam feitos pelo próprio expositor, sem industrializados. Economia criativa, apenas.

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Outro grande exemplo tradicional da criatividade curitibana é o nosso Festival de Teatro, que é o maior evento de artes cênicas da América Latina. Um projeto da iniciativa privada, ele teve início em 1992, com 14 espetáculos. Três décadas depois, ele oferta mais de 400 atrações, de companhias teatrais nacionais e internacionais. O público passa de 200 mil pessoas, entre os curitibanos e os turistas.

A partir desses exemplos, o questionamento se torna mais urgente: afinal, o que é economia criativa e como podemos investir nela, enquanto cidade?

O termo surgiu na virada do milênio e, segundo o Sebrae, foi criado para "nomear modelos de negócio ou gestão que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos".

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Então, ele engloba as artes e eventos culturais em seu sentido mais restrito, mas também inclui o design, artesanato, moda, produção audiovisual e outras profissões que têm a criatividade como principal matéria-prima. Nisso, também podemos incluir áreas ligadas à inovação e tecnologia, como o desenvolvimento de softwares, jogos e apps.

Esse segmento da economia criativa, diga-se de passagem, é um dos que mais deve crescer nos próximos anos — e tem tudo a ver com Curitiba.

A cidade, que foi eleita a mais inteligente do mundo em 2023, tem uma vibrante indústria de tecnologia e mais de 600 startups. Nem todas fazem parte do cenário de economia criativa, é claro, mas esse ecossistema de inovação encoraja o nascimento de novos negócios e aumenta suas chances de prosperar.

dupla de empreendedores em startup
Economia criativa inclui não apenas as artes e o artesanato, mas também outras profissões que usam a criatividade como matéria-prima, o que inclui o design.| Foto: Levy Ferreira/SMCS

Os incentivos à economia criativa em Curitiba

A relação dos governos com a economia criativa pode ser um pouco conflituosa, apesar de ser uma relação de interdependência. Por um lado, o poder público precisa incentivar a cultura e oferecer atrações para a população. Por outro, algumas parcelas da sociedade julgam que tais investimentos são desnecessários — enquanto os trabalhadores do setor sofrem para fazer as contas fecharem e pedem mais incentivos.

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No Festival de Curitiba, por exemplo, 80% da verba é de patrocínios e 90% disso vem através de renúncias fiscais da Lei Rouanet. Mas a Prefeitura oferece pouco apoio ao evento, que gera mais de 2.600 empregos na cidade.

Ainda assim, Curitiba investe para incentivar várias outras atividades da economia criativa — desde o incentivo mais direto, com financiamento de projetos, até programas de capacitação para empreendedores do setor.

Nos incentivos financeiros, a Prefeitura aprovou 11 editais do Fundo Municipal de Cultura e do Mecenato Subsidiado. O primeiro tipo inclui R$ 2,5 milhões de investimento direto, das contas do município, enquanto o outro contempla a renúncia fiscal de R$ 14 milhões (com captação de recursos junto às empresas). No total, são 16,5 milhões de reais disponíveis.

A alocação de verbas públicas não é a única forma de incentivar o setor. Curitiba também faz isso através de instituições como o Liceu de Ofícios Criativos, novo nome da Casa do Artesanato. Neste espaço, mantido pelo município, trabalhadores criativos de toda a cidade podem encontrar cursos e capacitações em diversas áreas.

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Saindo um pouco da área de cultura e artes, Curitiba também incentiva a indústria da moda — outro pilar da economia criativa. Durante o mês de julho, acontece o Boqueirão Fashion, uma semana de moda com oficinas e desfiles de designers locais. Ela serve como uma vitrine para os criadores e modelos curitibanos, sendo o maior evento do gênero na cidade.

desfile de moda assistido pelo prefeito Rafael Greca
Boqueirão Fashion, semana de moda na Rua da Cidadania do Boqueirão, é o maior evento do setor na cidade.| Foto: Daniel Castellano/SMCS

Uma vitrine da criatividade curitibana para o mundo

Sabendo que Curitiba busca se posicionar cada vez mais como um destino turístico relevante no cenário nacional e internacional, a cidade também precisa oferecer seus souvenires, não é mesmo? Assim como as camisetas I ❤️ NY se tornaram onipresentes nos anos 1980 e 1990, Curitiba pode faturar muito com produtos que têm "a sua cara".

Pensando nisso, a cidade inaugurou as lojas #CuritibaSuaLinda em 2019. Todos os produtos são pensados e manufaturados por criadores locais — e fazem referência a ícones curitibanos, como as capivaras do Parque Barigui, as calçadas de petit-pavê e a estufa do Jardim Botânico.

Para auxiliar os produtores locais na criação de suas peças, a cidade oferece mentorias junto a instituições como o Sebrae-PR. Foi em uma dessas mentorias que a designer Larissa Honório Pedrozo Bianco da Luz teve a ideia de fazer as fitinhas "Lembrança do Senhor do Bom Frio" — um trocadilho com o nosso clima e as tradicionais fitinhas do Senhor do Bonfim, da Bahia.

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Atualmente, o projeto #CuritibaSuaLinda conta com uma loja online e 6 pontos de venda pela cidade, Jardim Botânico, Mercado Municipal, Torre Panorâmica, Memorial Paranista, Palacete Wolf e Shopping Estação.

Vitrine da loja #CuritibaSuaLinda
Lojas #CuritibaSuaLinda vendem dezenas de produtos com "a cara da cidade" produzidos por criativos locais. Projeto estimula a economia criativa local.| Foto: Daniel Castellano/SMCS

Projeto de lei para incentivar ainda mais a economia criativa

É lógico que, apesar dos incentivos já existentes e dos bons resultados da economia criativa curitibana, a cidade pode evoluir muito mais nesse sentido. Uma das iniciativas que pretende ajudar nessa evolução é um projeto de lei apresentado na Câmara dos Vereadores em 2023 (005.00055.2023).

O objetivo do projeto é criar uma Política Municipal de Economia Criativa, estruturada para apoiar e incentivar os trabalhadores desse setor. O texto justifica a necessidade de incentivo à economia criativa por seus estímulos à geração de renda, criação de empregos e promoção da diversidade cultural na cidade.

Essa discussão não é exclusiva de Curitiba e ocorre também em nível nacional: no Congresso, está tramitando o Projeto de Lei 2.732/2022, que cria a Política Nacional de Desenvolvimento da Economia Criativa.

Curitiba entra na rota das produções audiovisuais

Além de incentivar os artistas e trabalhadores criativos locais, Curitiba também pode faturar ao atrair projetos de fora da cidade. Há trinta anos, a capital paranaense foi cenário da novela das 18h da Rede Globo, Sonho Meu, com cenas em vários pontos turísticos — e personagens que sempre vestiam japona. Mas, nos últimos anos, a cidade tem investido para atrair mais produções audiovisuais.

Em 2023, a Curitiba Film Comission finalmente foi empossada e iniciou suas atividades após anos de espera. A comissão oferece apoio técnico e logístico às produções que desejam filmar em Curitiba, além de mapear os cenários públicos e fornecer informações a todos que queiram colocar a capital paranaense nas telonas. Nesse contexto, a Curitiba Film Comission também se propõe a conectar profissionais locais com esses produtores que chegam "de fora".

A estratégia está surtindo efeito: Curitiba foi o cenário de três produções cinematográficas em 2023. Os filmes Torniquete, de Ana Catarina Lugarini, Estômago 2 - O Poderoso Chefe, de Marcos Jorge, e Traição entre Amigas, do renomado diretor Bruno Barreto, tiveram cenas rodadas na capital paranaense. A Prefeitura estima que 3 mil empregos foram gerados por essas filmagens.

Bruno Barreto já dirigiu clássicos do cinema nacional como Dona Flor e seus Dois Maridos e O que é Isso, Companheiro?, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Aqui em Curitiba, o diretor veio filmar uma comédia romântica jovem com a atriz Larissa Manoella, baseada em um livro de Thalita Rebouças. A escolha foi estratégica: “a história do livro se passa no Rio de Janeiro, porém resolvi trazê-la para Curitiba para mostrar um bom contraste com Nova Iorque. E porque estou cansado de todo filme que vem do Brasil mostrar o Rio”, explica.

Torniquete é o primeiro longa-metragem da diretora curitibana Ana Catarina Lugarini — e conta com ninguém menos que Marieta Severo no elenco. A eterna Dona Nenê vive Lucinda, a mãe de Sônia (Renata Grazzini) e avó de Amanda (Sali Cimi). Algumas cenas do filme foram filmadas no Ahú, zona norte da capital.

Inclusive, durante a comemoração do aniversário de 331 anos de Curitiba, haverá a III Mostra Curitiba de Cinema no Cine Passeio. Ela inclui títulos como Paisagem de Meninos, inspirado na infância do artista curitibano Poty Lazzarotto, e Coração de Neon, que conta as peripécias de um jovem do Boqueirão. 

A arte e a criatividade curitibanas podem não fazer parte dos grandes circuitos comerciais — que estão repletos de blockbusters importados, na verdade. Ainda assim, as iniciativas locais e o incentivo governamental estão criando um vibrante ecossistema de economia criativa em Curitiba que já está criando empregos, gerando renda e, com o tempo, conquistando consumidores em todo o mundo.

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