batalhão da GMC batendo continência
Com 37 anos de história, Guarda Municipal de Curitiba foi a primeira do Paraná e continua sendo uma grande inspiração para outras guardas pelo Brasil.| Foto: Daniel Castellano/SMCS
  • Por A.Yoshii e Elo apresentam Curitiba 331 Anos
  • 27/03/2024 19:56

Curitiba comemora 331 anos em 2024. Para celebrar, Gazeta do Povo, A.Yoshii e Elo Empresas apresentam uma série de conteúdos que destacam por que a capital paranaense é a cidade mais inteligente do mundo. Conheça o que faz a Guarda Municipal de Curitiba uma das mais modernas do Brasil.

Quem circula por Curitiba com certeza já se deparou com uma das viaturas azuis e brancas — que incluem o simpático carrinho elétrico Renault Twizy — e já deve ter observado os profissionais que usam fardas no mesmo tom de azul. A Guarda Municipal de Curitiba já se tornou uma parte do cotidiano da cidade, servindo a ela e a seus cidadãos há 37 anos.

O que as pessoas talvez não saibam, ao ver os profissionais fardados nas ruas, é que a GM de Curitiba é uma das mais modernas do país e serve como inspiração para outras cidades que desejam atualizar suas frotas e corporações.

Mas além dos carros elétricos e das câmeras — sobre as quais vamos falar mais à frente — a Guarda Municipal de Curitiba também merece destaque pelo próprio trabalho. Afinal, ela tem atribuições e projetos sociais que são pioneiros nesse tipo de instituição. Como você poderá concluir até o final desse artigo, além de ter uma das GMs mais modernas do Brasil, Curitiba também tem uma das melhores.

Série de Conteúdos 331 Anos: entenda por que Curitiba é a cidade mais inteligente do mundo.

As atribuições da Guarda Municipal e o pioneirismo curitibano

Antes de compreender por que a Guarda Municipal de Curitiba é pioneira em suas atribuições e projetos, é importante entender qual é a função das GMs na estrutura de segurança pública brasileira — algo que costuma gerar dúvidas em muita gente.

Os embriões das guardas municipais surgiram ainda na época do Império, com a Guarda Real, mas acredita-se que a corporação mais antiga do tipo ainda em atividade seja a GM de Porto Alegre. Ela foi criada na capital do Rio Grande do Sul, em 1892, já na República. As cidades de Recife e Igarassu, ambas em Pernambuco, afirmam terem criado suas GMs nessa mesma época e pleiteiam o título de "guarda municipal mais antiga do Brasil".

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Mas o que importa para nossa reflexão é que as guardas municipais foram criadas, em especial, para proteger os bens, serviços e espaços públicos da cidade — sem foco no policiamento ostensivo e no uso da força para conter criminosos. É nesse sentido que elas costumavam se diferenciar das polícias militar e civil, que são subordinadas ao governo estadual.

Costumavam, porque essa diferenciação começou a se tornar mais confusa nas últimas décadas. Isso levou a discussão até o Supremo Tribunal Federal (STF) que, em 2023, formou maioria para decidir: a atuação da Guarda Municipal é típica da segurança pública e permite concluir que essas corporações têm poder de polícia em âmbito municipal.

De acordo com dados de 2022, 1.256 municípios no Brasil possuem uma guarda municipal, somando 130 mil agentes. O Paraná tem 39 corporações, segundo a Fenaguardas, entidade que representa os profissionais da categoria. A de Curitiba foi a primeira do estado.A corporação da capital foi criada em junho de 1986, como Serviço Municipal de Vigilância — VIGISERV. Depois da Constituição Federal de 1988, que delegou a segurança pública para o âmbito estadual, um projeto de lei municipal sugeriu a denominação da Guarda Municipal de Curitiba. E em agosto desse mesmo ano, a primeira turma de profissionais se formou, numa cerimônia no prédio que hoje abriga o Museu Oscar Niemeyer.

Em 1992, Curitiba sediou o III Congresso Nacional da categoria, onde foi decidido que o dia 10 de outubro seria o Dia Nacional das Guardas Municipais.

Desde então, a corporação cresceu mais de 10 vezes: de 110 formandos na turma inicial para os mais de 1.400 guardas que patrulham Curitiba atualmente. Além disso, sendo a primeira do estado, ela ajudou a formar as mais de trinta corporações criadas depois dela pelo Paraná.

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O inspetor Carlos Celso dos Santos Júnior, comandante da corporação, explica que todas as Guardas Municipais do estado passaram por Curitiba. Com frequência, profissionais do interior vêm à capital para buscar inspirações. "Como somos a primeira, temos esse cuidado e carinho em auxiliar nossos irmãos de farda”, contou o comandante, em nota divulgada pela Prefeitura.

Mas além de auxiliar os colegas do interior, a Guarda Municipal de Curitiba também colabora com outras forças de segurança pública. Em fevereiro de 2023, a GM iniciou o atendimento a acidentes em rodovias federais da região, por meio de um acordo de cooperação entre a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e a Prefeitura — sendo pioneira nesse tipo de trabalho.

A Muralha Digital que amplifica o poder da Guarda Municipal

O equipamento da Guarda Municipal que mais chama atenção nas ruas talvez seja o carrinho elétrico Renault Twizy, com seu tamanho diminuto, capacidade para somente duas pessoas e um desenho diferente de qualquer outro automóvel no trânsito. O carrinho entrou na frota em 2022, para auxiliar no patrulhamento de parques e praças — função que a GM realiza desde 2005, geralmente com bicicletas.

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Contudo, ainda mais moderno que isso é o Centro de Controle Operacional (CCO) da chamada Muralha Digital — projeto iniciado em 2021 pela Prefeitura, junto à corporação.

A Centro, que fica no bairro Cabral, dá acesso às mais de 1.900 câmeras instaladas por toda a cidade. Elas estão em pontos estratégicos, como ruas de grande circulação, parques e praças, estações-tubo, escolas, além de prédios públicos.

Guarda ao lado de um carinho elétrico da GMC
Os carrinhos elétricos usados pela Guarda Municipal para patrulhar parques e praças de Curitiba chamam atenção por seu tamanho diminuto e design original.| Foto: Hully Paiva/SMCS

Em diversos locais, a Muralha Digital conta com câmeras 360º que têm visão panorâmica e "enxergam tudo" a até 400 metros de distância. Outras possuem reconhecimento facial e, quando suas imagens são cruzadas com uma biblioteca de rostos criptografada, auxiliam na identificação de criminosos foragidos. Os equipamentos da Muralha Digital também ajudam a encontrar carros roubados, monitorar o trânsito e gerar alertas climáticos junto à Defesa Civil.

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Mais recentemente, câmeras corporais (body cams) nas fardas, além de câmeras nos veículos também passaram a atuar como "olhos" das forças de segurança de Curitiba. Em uma época em que os debates sobre violência policial — e sobre violência contra policiais — estão cada vez mais acalorados, essa é uma forma de proteger a população e os próprios guardas.

Todo esse aparato é monitorado por uma equipe atenta no CCO, para apoiar o trabalho diário da Guarda Municipal nas ruas. E isso dá resultado: no primeiro ano de operação da Muralha Digital, alguns locais atendidos pelo programa tiveram redução de até 40% nas ocorrências de crimes. Desde então, centenas de imagens também foram cedidas à Justiça para facilitar o andamento de processos.

Em fevereiro de 2024, a Muralha Digital de Curitiba passou por uma evolução: foi inaugurado o Hipervisor Urbano. A nova central de controle traz ainda mais informações que a anterior, oferecendo também gráficos e dados gerados com técnicas de BI (business intelligence). As informações do Hipervisor Urbano não apenas vão auxiliar a Guarda Municipal, como também a Defesa Civil e outros órgãos de serviços públicos, como Copel e Sanepar.

sala de câmeras da Muralha Digital
Muralha Digital utiliza mais de 1.900 câmeras espalhas em Curitiba, além de body cams e outros sistemas, para auxiliar a Guarda Municipal e proteger os curitibanos.| José Fernando Ogura/SMCS

Guarda Municipal Mirim leva a corporação às escolas

Voltando à história da Guarda Municipal de Curitiba, um de seus marcos é a criação da Patrulha Escolar, nos anos 1990. Esse trabalho junto à comunidade escolar é realizado até hoje e abriu portas para outro importante projeto da corporação: a Guarda Municipal Mirim.

A ideia da GMM é permitir que as crianças aprendam conceitos como hierarquia e disciplina — que fazem parte do cotidiano dos guardas municipais. Além disso, eles recebem instruções de primeiros socorros, cuidados no trânsito, cidadania e sustentabilidade. E em campanhas como o Maio Amarelo, as crianças ajudam os guardas nas ações de conscientização.

O programa, idealizado pelo guarda Marcelo Boza Filho, é voluntário e iniciou suas atividades em 2004. Desde então, mais de 50 mil estudantes passaram por ele.

Entre esses estudantes está Leonardo do Nascimento Santos, que entrou na Guarda Mirim aos 10 anos, em 2022. Estudante da Escola Maria Neide, no Umbará, Leo é cadeirante e tinha uma timidez inversamente proporcional à sua vontade de frequentar a escola. Mas depois que a escola enviou o convite para que ele entrasse no processo seletivo para a Guarda Mirim, as coisas começaram a mudar.

Em entrevista à Gazeta do Povo, em janeiro de 2023, a mãe de Léo conta que o garoto passou por uma transformação radical e se tornou bem mais confiante. Segundo Claudineia, "ele ficou muito mais esperto, agora está todo orgulhoso de participar da Guarda Municipal Mirim". E o próprio Leonardo pode observar as suas mudanças: "Aprendi respeito, disciplina, estou mais organizado. Adoro fazer parte desse time”, disse ele à Prefeitura de Curitiba.

O processo seletivo para participar da Guarda Municipal Mirim é feito pelas próprias escolas, conforme percebem a necessidade de algum aluno — seja pelo risco social ou para melhorar a participação da criança nas atividades escolares.

Esse projeto é mais uma maneira de manter esses profissionais de farda azul mais próximos da população curitibana. E nós esperamos que você se lembre dos projetos que mencionamos aqui quando observar um guarda municipal pelas ruas de Curitiba.

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