A saúde mental no ambiente de trabalho deixou de ser um tema periférico e passou a ocupar o centro das discussões sobre bem-estar e produtividade. Para a psicóloga Franciele Maftum, mestre em Neurociência e doutoranda pela Universidade de Reading (Reino Unido), a contribuição da neurociência para as empresas é um campo ainda emergente. “As práticas baseadas em neurociência que as empresas podem adotar são algo extremamente novo. Eu mesma sou uma das pesquisadoras que está testando isso dentro das organizações”, explica.
Segundo Franciele, que é fundadora do Programa de Neurociência para Psicólogos (PNP), o ponto de partida é a capacidade de reconhecer os próprios sinais de estresse, ansiedade e desregulação no corpo e na mente. “Ficamos muito abismados com o fato de que quase ninguém sabe identificar esses sinais. O primeiro passo é justamente ensinar as pessoas a perceberem quando o corpo começa a dar indícios de estresse”, afirma.
Entre as práticas recomendadas, estão tanto os cuidados de vida, como atividade física regular, sono de qualidade, redução do consumo de álcool e cafeína antes de dormir, quanto técnicas de regulação emocional, incluindo exercícios de respiração, yoga e mudanças de pensamento.
No caso da liderança, a psicóloga destaca a importância de treinamentos voltados para a compreensão dos próprios processos emocionais. “Quando os líderes entendem como funciona a saúde mental neles mesmos, eles também conseguem reconhecer esses sinais nos outros. A partir daí, conseguimos trabalhar a prevenção, criando uma cultura organizacional que fala sobre saúde mental, ensina a regular emoções e integra esse tema às pautas de trabalho”, reforça.
Naturalizar o diálogo
Romper o estigma ainda é um dos maiores desafios. Para Franciele, a chave é naturalizar o diálogo e apresentar dados consistentes. “Como acontece em qualquer outro tema, para tirar o estigma é preciso falar sobre ele. Se entendermos que praticamente todo mundo vai enfrentar um problema de saúde mental ao longo da vida, já está justificada a necessidade de tratar do assunto dentro das empresas”, defende.
Hoje, há diferentes ferramentas que podem apoiar essa jornada, desde questionários acadêmicos validados cientificamente até indicadores internos, como índices de afastamento médico, níveis de satisfação e percepção de estresse e ansiedade no ambiente de trabalho.
As tecnologias digitais também surgem como aliadas, mas devem estar alinhadas à cultura da empresa. “Existem aplicativos que lembram de beber água ou ajudam na higiene do sono, mas não adianta implementar essas soluções se a cultura da organização continua sendo opressora. Caso contrário, o efeito pode ser contrário ao desejado”, alerta.
Para Franciele, a construção de organizações saudáveis exige consistência, ciência e, sobretudo, coerência entre discurso e prática. “Não basta oferecer treinamentos e aplicativos se a empresa não estiver disposta a mudar sua própria forma de funcionar”, pontuou.

Por fim, Franciele acentuou que seu propósito é ajudar a curar o mundo por meio das pessoas e da saúde emocional. “Acredito que a mudança acontece de dentro para fora e que a neurociência é fundamental para profissionais da área da saúde, principalmente para psicólogos”.
XVIII CONPARH
Franciele Maftum participou como palestrante no XVIII CONPARH — Congresso Paranaense de Recursos Humanos, que neste ano teve como tema “Tudo que só o humano pode fazer”. No evento, realizado no mês de outubro, em Curitiba, a psicóloga falou sobre como a saúde mental e a neurociência podem construir organizações saudáveis.

