A forma como enxergamos o trabalho está mudando e essa transformação vai além das modas passageiras. Ela reflete uma reconfiguração profunda do significado que o trabalho ocupa tanto na sociedade quanto na identidade individual. Antes visto majoritariamente como uma troca objetiva de tempo e esforço por remuneração, o trabalho passa agora a ser questionado em sua essência: ele faz sentido? Tem impacto? Contribui para o bem-estar e o crescimento das pessoas?
Essa mudança de paradigma tem raízes em múltiplos fatores, entre eles o aumento da preocupação com a saúde física e mental dos trabalhadores. Dados da OMS revelaram que o Brasil é o país com maior prevalência de ansiedade no mundo — números que vêm sendo cada vez mais associados a modelos organizacionais rígidos, jornadas exaustivas e culturas empresariais centradas no medo e na pressão por resultados.
Ao mesmo tempo, cresce o desejo por mais autonomia, propósito e flexibilidade. De acordo com Alexandre Pellaes, professor, pesquisador e palestrante que estará no XVIII CONPARH, realizado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná (ABRH-PR), estamos em um momento em que a percepção sobre o trabalho começa a migrar da lógica do “ter” para uma lógica do “ser”, onde as pessoas querem se reconhecer no que fazem e viver experiências que contribuam para seu crescimento.
“Embora a discussão tenha um tom maduro em sua intencionalidade, em geral, nem as organizações, nem as pessoas estão preparadas para essa mudança imediata. Por isso, é necessário que comecemos a testar novas práticas e reforçar relações de confiança e transparência, com mais diálogo e métricas construídas em conjunto. Para o futuro, um ponto é certo: Só serão bem sucedidas as organizações que consigam, em algum nível, ser vistas como plataformas de desenvolvimento humano e construção de legado”, pontua Pellaes.
Liderança, cultura e coerência são caminhos para uma nova gestão de pessoas
Se a percepção sobre o trabalho está mudando, é inevitável que as formas de gerir pessoas também precisam evoluir. O modelo tradicional de liderança, forjado para contextos industriais e hierarquizados, já não atende à complexidade do presente.
O líder de hoje precisa ser, antes de tudo, um construtor de ambientes seguros, onde há espaço para testar hipóteses, reconhecer erros e aprender em conjunto. Para Pellaes, “uma maneira simples de compreender a mudança de paradigma da liderança é reconhecer a valorização do líder interessado ao invés do líder interessante”.
Todavia, essa virada exige novas competências. Autoconhecimento, escuta ativa, construção de confiança e foco em resultado com base em relações saudáveis formam o alicerce da liderança que as organizações precisam para prosperar.
A transformação não acontece da noite para o dia e exige intenção, constância e coragem para quebrar padrões antigos. Cabe ainda romper com armadilhas culturais, como o medo, a idolatria do controle e a incoerência entre discurso e prática.
“É hora de compreender que trabalho é diferente de emprego. Não é apenas a operacionalização de tarefas, mas sim a construção de relações produtivas e sustentáveis, nas quais pessoas, lideranças e organizações podem assumir o papel de agentes de transformação positiva”, finaliza Pellaes.

XVIII CONPARH
O pilar "Resultados que nascem das pessoas” será tratado com mais profundidade por Alexandre Pellaes, no XVIII Congresso Paranaense de Recursos Humanos – CONPARH 2025 - “Tudo que só o humano pode fazer”.
O evento, promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná - ABRH-PR, acontecerá nos dias 22 e 23 de outubro, no Viasoft Experience, em Curitiba.
No congresso, a palestra de Pellaes será dividida em três pilares: Pessoas, levando uma nova compreensão do papel do seu trabalho; Liderança, como um novo papel de facilitação, desenvolvimento e relação; e Organizações como novas estruturas e modelos de gestão.
Mais informações: https://conparh.com.br/

