Pressão da sociedade leva muitas pessoas a desenvolver transtornos alimentares.
Pressão da sociedade leva muitas pessoas a desenvolver transtornos alimentares.| Foto: Divulgação
  • Por Dra. Ivete Contieri Ferraz
  • 23/06/2021 12:42

A aparência física é um dos temas de debate que predominam na vida das pessoas há muitas décadas. Os padrões de beleza tornaram-se cada vez mais restritivos a partir da segunda metade do século 20, fazendo muitos sofrerem por não conseguirem se enquadrar no que pode ser considerado “perfeição”. Esse sentimento tem atingido grande parte da população, desde homens e mulheres que não se veem contemplados nos editoriais de moda aos adolescentes que não se identificam com os influenciadores das redes sociais.

Algumas pessoas conseguem superar as críticas sobre sua aparência, mas boa parte delas não consegue lidar bem com o que ouve falar sobre si ou mesmo com o que veem diante do espelho. A situação torna-se ainda mais complicada em tempos de redes sociais e seus comuns julgamentos. É um caminho aberto para o desenvolvimento de um mal que atinge pessoas de qualquer gênero e idade, mas que se mostra muito presente entre mulheres e adolescentes: os transtornos alimentares.

Os dois principais tipos de transtornos alimentares são a bulimia nervosa e anorexia nervosa. No primeiro caso, a pessoa se alimenta exageradamente e de forma muito rápida. Na sequência, aparece o sentimento de culpa e o medo de engordar, fazendo-a adotar meios para compensar a compulsão e perder peso, como o uso de medicação – inibidores de apetite, laxantes, diuréticos, drogas – ou a autoindução a vômitos. Em alguns casos, o indivíduo opta por jejuar por grandes períodos ou se exercitar em excesso.

“Nesse tipo de compulsão, a pessoa luta para não ter excesso alimentar, para não comer demais, principalmente substâncias doces, como chocolate. Existe a compulsão específica por chocolate. Ela está sempre preocupada em não engordar e sofre muito no momento da compulsão alimentar, quando abre a geladeira à noite, de madrugada. A pessoa quer se manter no controle de seus apetites, mas não consegue e acaba comendo muito mais do que deseja”, relata a destaca a Dra. Ivete Contieri Ferraz, psiquiatra que realiza tratamentos para quem tem transtornos alimentares.

Bulimia

Segundo ela, no período de bulimia, a resolução de conflitos do paciente acaba sendo muito voltada ao alimento e à aparência física. “Quando a questão da aparência física é mais predominante, é comum a pessoa ficar tentando emagrecer, não ganhar as calorias que ingeriu, daí surge a bulimia. Isso é comum, principalmente em adolescentes que se deparam com o desajuste do desejo de comer e a vontade de se manter em um determinado padrão”, explica a médica.

Durante os períodos de bulimia, o paciente pode apresentar diversos sintomas psíquicos como depressão, ansiedade, humor instável, impulsividade, dificuldade em lidar com regras ou limites, frustração, tudo gerado pela culpa por comer demais. É preciso ficar atento a esses sinais, pois nem sempre quem sofre de bulimia demonstra o transtorno com a perda de peso, como acontece na anorexia nervosa.

Pessoas com bulimia nervosa se alimentam de forma exagerada e, depois, tentam perder peso rapidamente.
Pessoas com bulimia nervosa se alimentam de forma exagerada e, depois, tentam perder peso rapidamente.| Crédito: Divulgação

Anorexia

O transtorno alimentar da anorexia acontece quando a pessoa diminui a alimentação em excesso para não ganhar peso. Ela entra em uma dieta muito rígida, diminui ao extremo o consumo de carboidratos e gorduras. Para atingir seu objetivo, também apela para vômitos autoinduzidos, jejum e a utilização indiscriminada de diuréticos e laxantes, além de se exceder em exercícios físicos.

“A pessoa que tem o transtorno da anorexia se entende gorda mesmo estando muito magra e, então, se priva de alimentação. Nessa privação, a pessoa perde a ingestão de proteínas e vitaminas básicas e importantes. O grande problema da anorexia é a percepção enviesada da imagem corporal que leva a uma autopunição”, lembra a Dra. Ivete Ferraz.

A psiquiatra alerta que no caso de pacientes mulheres, a anorexia pode causar um impacto no ciclo menstrual e no desenvolvimento ósseo, levando à osteopenia (perda de massa óssea), com risco de fraturas patológicas. “Pode também haver impacto na pele e no cabelo, que pode começar a cair, tudo pela falta das proteínas e vitaminas”, continua.

Tratamento

Alguns sintomas e características que podem ser notados no desenvolvimento do quadro de anorexia são peso abaixo do normal, introversão e retração social, perfeccionismo e obsessão.

Tanto na bulimia como na anorexia, é importante o diagnóstico precoce para conseguir encaminhar o paciente para um tratamento adequado. Isso exige a participação de uma equipe multidisciplinar envolvendo psiquiatra, psicólogo, nutricionista e endocrinologista. “A psicoterapia tem um papel muito importante no tratamento ao levantar os problemas emocionais que podem ter levado aos transtornos alimentares, revelar a causa dos sintomas. Depois, o profissional psiquiátrico vai indicar a medicação e as terapias que vão contribuir para solucionar o desequilíbrio, devolvendo a autoestima do paciente”, indica a Dra. Ivete Ferraz.