Exaustas, sobrecarregadas e muitas vezes invisíveis. Assim vivem milhares de mulheres que atuam como médicas, enfermeiras e demais profissionais da saúde em todo o Brasil. Com rotinas intensas e alta responsabilidade emocional, elas enfrentam uma crescente crise de saúde mental — em muitos casos, com sinais claros de burnout.
O alerta é da médica oncologista clínica Maria Cristina Figueroa Magalhães, vice-presidente do Instituto de Inovação e Ensino em Saúde (INTES), que defende o cuidado com o bem-estar emocional dessas mulheres como uma questão ética e coletiva. “Por trás do jaleco ou do cuidado diário há uma mulher que também sente, sofre, se culpa e se cansa”, afirma.
Quando cuidar adoece
Segundo Maria Cristina, o adoecimento emocional das mulheres que cuidam se instala de forma silenciosa e, muitas vezes, é confundido com produtividade. Ansiedade crônica, insônia, sensação de insuficiência mesmo diante de bons resultados, isolamento social e desgaste nos vínculos familiares são alguns dos sinais iniciais. Em casos mais graves, a situação pode evoluir para depressão ou ideação suicida.
A médica destaca que o burnout entre mulheres tem características específicas, por estar frequentemente associado a múltiplas jornadas de trabalho e à cobrança por desempenho impecável tanto no ambiente profissional quanto pessoal.
Identificar os primeiros sintomas pode evitar agravamentos. Para prevenir sofrimentos mais profundos e restaurar a qualidade de vida e de trabalho, é necessário ficar atenta à exaustão física e emocional constante, cinismo, irritabilidade, distanciamento afetivo, sensação de ineficácia ou inutilidade, perda de motivação e do prazer pela profissão, dificuldades de concentração, insônia e queixas somáticas (dores, palpitações e falta de ar).
Estratégias de autocuidado e equilíbrio emocional
Não existe uma solução mágica, mas algumas práticas ajudam a preservar o equilíbrio emocional. Entre elas:
- Reconhecer os próprios limites e aprender a dizer “não”;
- Buscar terapia, grupos de apoio ou práticas espirituais que ofereçam escuta e acolhimento;
- Manter hábitos de autocuidado, como sono de qualidade, boa alimentação, atividade física e pausas reais;
- Desconectar-se do trabalho e encontrar prazer em momentos que não envolvam performance;
- Priorizar vínculos afetivos saudáveis, como familiares, amigos e colegas de confiança;
- Refletir sobre o propósito e sentido da profissão, resgatando motivações internas e não apenas metas externas.
“Cuidar da saúde mental não é sinal de fraqueza, é uma necessidade legítima”, reforça Maria Cristina.
O papel das instituições de saúde
As instituições também têm responsabilidade direta sobre o cenário de esgotamento. Para a médica, é essencial que organizações deixem de tratar o tema apenas com discursos e implementem ações efetivas, como:
- Criar programas estruturados de apoio psicológico;
- Oferecer espaços seguros de escuta ativa e sem julgamento;
- Promover jornadas de trabalho mais humanas, com pausas respeitadas;
- Valorizar lideranças preparadas para lidar com questões emocionais no cotidiano;
- Estimular a cultura do cuidado coletivo, onde pedir ajuda não seja tabu.
“Quando a saúde mental da equipe é prioridade institucional, o cuidado oferecido aos pacientes também melhora — porque gente cuidada cuida melhor”, conclui Maria Cristina.

