O tratamento do câncer de mama tem passado por mudanças significativas nos últimos anos, impulsionado por avanços na oncologia, novas tecnologias e uma abordagem mais personalizada. A médica Maria Cristina Figueroa Magalhães, oncologista clínica e vice-presidente do Instituto de Inovação e Ensino em Saúde (INTES), aponta que, apesar dos progressos, o Brasil ainda enfrenta desafios importantes, principalmente no acesso ao diagnóstico precoce e às terapias de ponta.
A especialista reforça que a detecção precoce e a individualização do tratamento são fundamentais para salvar vidas e melhorar a experiência das pacientes. “Quando o tumor é diagnosticado nas fases iniciais, as chances de cura ultrapassam 90%”, destaca.
Tratamento oncológico mais preciso
Os avanços têm sido notáveis, especialmente com o desenvolvimento de terapias-alvo, imunoterapia e novas combinações de tratamento que aumentam a eficácia e reduzem os efeitos colaterais. Entre essas inovações, destacam-se os inibidores de CDK4/6, antagonistas de receptores hormonais mais seletivos e anticorpos conjugados a drogas, como o trastuzumabe deruxtecana, que têm revolucionado o tratamento de subtipos de câncer de mama, sobretudo o HER2-positivo e o luminal.
Outro destaque são os avanços nos protocolos de radioterapia, aliado a cirurgias conservadoras e técnicas de reconstrução mamária mais humanizadas, o que representa um grande avanço tanto clínico quanto emocional para as pacientes.
Medicina personalizada melhora prognóstico
A medicina personalizada — também chamada de medicina de precisão — vem transformando a forma como o câncer de mama é tratado. Segundo a oncologista, esse modelo permite que o tratamento seja direcionado conforme as características genéticas e moleculares do tumor de cada paciente, além do tipo histológico e das características patológicas e clínicas do câncer.
Com isso, é possível: escolher de forma mais assertiva as medicações, reduzindo toxicidades desnecessárias; definir melhor o risco de recorrência, evitando a quimioterapia quando ela não é necessária; e identificar mutações genéticas herdadas, como BRCA1 e BRCA2, abrindo caminho para tratamentos específicos e estratégias de prevenção voltadas aos familiares.
“A paciente deixa de ser tratada apenas com a visão restrita ao câncer de mama e passa a ser vista em sua individualidade e de forma ampla — o que melhora o prognóstico e a qualidade de vida”, ressalta Maria Cristina.
Desigualdades no diagnóstico e no acesso ao tratamento
Apesar de todos os avanços, o cenário brasileiro ainda apresenta grandes desigualdades. De acordo com a médica, o diagnóstico tardio ainda é frequente, seja por falta de acesso a exames ou por medo e desconhecimento sobre os sintomas da doença. As barreiras emocionais e culturais agravam mais esse quadro.
Além disso, a falta de disponibilidade de tratamentos modernos e de qualidade no sistema público de saúde e a escassez de centros especializados em regiões afastadas dificultam o controle da doença. Esses desafios exigem políticas públicas firmes, investimento em saúde e esforço contínuo de educação, empatia e humanização do cuidado.
A detecção precoce é um dos pilares para o sucesso no tratamento do câncer de mama. A oncologista recomenda a mamografia anual a partir dos 40 anos, além do exame clínico das mamas e da conscientização sobre sinais de alerta, como nódulos, secreções anormais ou alterações na pele da mama. Por isso, as campanhas de prevenção devem ocorrer de forma contínua — e não apenas durante o Outubro Rosa — para alcançar mais mulheres e estimular o autocuidado.
O futuro do tratamento: menos invasivo e mais inteligente
A pesquisa em câncer de mama continua avançando. A especialista cita áreas promissoras, como:
- Imunoterapia para subtipos agressivos, como o triplo negativo; apesar de uma realidade nos serviços privados, está em constante evolução.
- Terapias com anticorpos conjugados à medicação (ADCs), que levam quimioterapia diretamente à célula tumoral, com maior precisão e menor toxicidade;
- Medicina baseada em biomarcadores circulantes, como DNA tumoral no sangue, que pode permitir o monitoramento da doença em tempo real;
- Inteligência artificial na interpretação de mamografias e biópsias, aumentando a acurácia do diagnóstico.
“O futuro aponta para tratamentos cada vez mais inteligentes, personalizados e menos invasivos, com foco não só na sobrevida, mas também na qualidade de vida da mulher”, conclui Maria Cristina.