Mesmo com a crescente presença feminina nos hospitais do Brasil, as mulheres na medicina ainda enfrentam inúmeros desafios para conciliar a carreira com a vida pessoal. A jornada dupla, o preconceito de gênero e a desigualdade de oportunidades são apenas alguns dos obstáculos enfrentados diariamente por essas profissionais. A médica oncologista clínica Maria Cristina Figueroa Magalhães, vice-presidente do Instituto de Inovação e Ensino em Saúde (INTES), compartilhou sua visão sobre o tema.
Segundo a especialista, o cenário é marcado por dificuldades muitas vezes silenciosas, mas profundamente enraizadas. “A mulher na medicina, muitas vezes, precisa ser excelente o tempo todo, enquanto carrega um fardo invisível — e isso cobra um preço”, destaca. A afirmação resume bem a complexidade enfrentada pelas médicas, que, além de plantões exaustivos e demandas técnicas, assumem majoritariamente as responsabilidades domésticas e o cuidado com os filhos e outros familiares.
Entre os principais desafios das médicas está a sobrecarga: a chamada jornada dupla — ou até tripla — é uma realidade. Esse acúmulo de funções afeta diretamente o equilíbrio profissional e pessoal e pode comprometer o bem-estar profissional. “A culpa materna, que é o peso emocional de conciliar a maternidade com a carreira, gera um sofrimento psíquico real”, explica Maria Cristina.
Para lidar com essa pressão, a médica pontua algumas estratégias que envolvem escolhas, limites e apoios. “Não existe fórmula pronta, mas é preciso estabelecer prioridades, aprender a dizer ‘não’ sem culpa, buscar ajuda, dividir responsabilidades, criar momentos de pausa e conexão consigo mesma e cuidar da saúde emocional”, orienta.
Igualdade de gênero na medicina
Apesar dos avanços, a presença de mulheres em cargos de liderança e chefia na medicina ainda é limitada, sobretudo em especialidades historicamente dominadas por homens. Os desafios das médicas incluem o assédio e o preconceito de gênero, que seguem presentes no dia a dia profissional. Além disso, Maria Cristina ressalta que “a ausência de espelhos positivos pode tornar o caminho mais solitário”, reforçando a importância de modelos femininos inspiradores na área da saúde.
Entre as soluções, a especialista aponta a criação de políticas que favoreçam a conciliação entre trabalho e maternidade — como horários flexíveis, licença parental estendida para ambos os gêneros e espaços de acolhimento infantil. Para ela, a importância da promoção da presença feminina em cargos de liderança, o investimento em programas de combate ao assédio moral e sexual e a educação de estudantes e profissionais para uma cultura mais igualitária.
Maria Cristina defende que o sucesso na trajetória médica feminina deve ser medido não apenas por cargos e publicações, mas também pelo impacto, ética e cuidado que a profissional oferece. “A equidade só será real quando todas puderem ocupar seus espaços com dignidade, reconhecimento e liberdade para serem quem são”.
A luta das mulheres na medicina é, portanto, uma questão que vai além da esfera individual. Envolve mudanças culturais, institucionais e sociais que garantam a essas profissionais o direito de viver com qualidade, saúde e respeito.

