A saúde da mulher exige mais do que exames de rotina e consultas esporádicas. Para garantir qualidade de vida, bem-estar feminino e prevenção efetiva, é preciso olhar além do consultório médico. A médica oncologista Maria Cristina Figueroa Magalhães, referência nacional no cuidado integral à saúde da mulher, afirma que o autocuidado e a educação em saúde são fundamentais para mudar essa realidade.
Com a sobrecarga de papéis no cotidiano — entre trabalho, cuidados familiares e responsabilidades domésticas — muitas mulheres acabam deixando sua própria saúde em segundo plano. Segundo Maria Cristina, que também é vice-presidente do Instituto de Inovação e Ensino em Saúde (INTES), os obstáculos são variados: a falta de tempo e de acesso dificulta o comparecimento a consultas médicas diante de agendas lotadas, horários restritos de atendimento e longas distâncias até os serviços de saúde.
Além disso, há o fator emocional. “O receio de descobrir alguma doença, somado à ideia de que ‘não está sentindo nada’, faz com que muitas adiem exames e avaliações importantes”, alerta. Questões socioeconômicas também impactam diretamente esse cenário: a desigualdade no acesso a serviços e exames ainda é uma realidade, principalmente em comunidades mais vulneráveis.
Outro desafio importante é de ordem cultural. “Socialmente, as mulheres foram ensinadas a cuidar dos outros antes de si mesmas. E isso também se reflete na saúde”, aponta.
No entanto, a oncologista acredita que a informação exerce um papel transformador na saúde feminina. Quando a mulher tem acesso à educação em saúde de maneira clara, respeitosa e acolhedora, ela se sente mais confiante para tomar decisões sobre seu corpo, buscar ajuda médica sem medo e realizar exames com regularidade.
“A educação em saúde ajuda a desconstruir mitos e medos que ainda afastam muitas mulheres da prevenção, promove o autocuidado como um ato legítimo de amor e responsabilidade, e empodera mulheres a se tornarem protagonistas da própria saúde”, ressalta Maria Cristina.
O papel do médico na jornada da mulher
Para a especialista, o médico tem um papel ativo como agente de mudança e conscientização. “Mais do que diagnosticar e tratar, é preciso escutar, acolher e orientar. Criar vínculos de confiança é essencial para que a paciente se sinta segura e motivada a cuidar de si”, destaca.
Ela reforça que temas como saúde mental, menopausa e sexualidade ainda são cercados de tabus, e precisam ser tratados com empatia dentro do consultório. “Cada consulta é uma oportunidade de influenciar positivamente não só uma mulher, mas todas ao seu redor”.
Prevenção como estilo de vida
Para Maria Cristina, os cuidados da saúde preventivos devem ser vistos como um gesto de amor-próprio e responsabilidade, e não como um luxo. O equilíbrio entre corpo, mente e espiritualidade é o caminho para uma vida mais saudável e plena.
Assim, a promoção da saúde da mulher passa por ações integradas que envolvem educação, acesso, escuta qualificada e incentivo ao autocuidado. “Informar é cuidar. E quando o conhecimento é acessível, ele transforma”, conclui a especialista.

