A ascensão empresarial no Paraná ganhou um novo componente estratégico: a saúde mental. Após participar do 8º Congresso Empresarial Paranaense, promovido pela Faciap em Foz do Iguaçu, a médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva reforçou uma mensagem que ecoou entre lideranças, gestores e empresários: não existe performance sustentável sem cuidar das pessoas, e o preço da omissão já está sendo pago dentro das organizações.
O evento reuniu associações comerciais, empresários e lideranças de todo o estado e teve como tema central “Ascensão: o poder de comunicar, conectar e agir”. Foi justamente dentro desse eixo que Ana Beatriz trouxe uma provocação essencial: o maior inimigo da produtividade não é a falta de tecnologia, planejamento ou capital é o silêncio emocional que se instala nas equipes.
Segundo Ana Beatriz, enquanto o Paraná avança em agroindústria, inovação, associativismo e protagonismo econômico, existe um fator invisível corroendo resultados: o tabu em torno do sofrimento psicológico. Ela destacou que valores, virtudes e sabedoria são elementos estruturantes da condição humana e que, quando ignorados, desorganizam vínculos, clima e capacidade de entrega. Para a psiquiatra, empresas que evitam o tema acabam enfrentando queda de engajamento, aumento de conflitos internos, rotatividade silenciosa, presenteísmo improdutivo e afastamentos decorrentes do sofrimento emocional.
Em sintonia com a proposta da Faciap de fortalecer a comunicação como motor de desenvolvimento, Ana Beatriz reforçou que a saúde mental só avança quando existe diálogo aberto dentro das empresas. Isso passa por colaboradores podendo expressar exaustão antes do colapso, líderes preparados para ouvir sem julgamento, culturas que não associam vulnerabilidade à fraqueza e gestões que entendem que pedir ajuda é sinal de maturidade e não incompetência. Para ela, comunicar reduz adoecimento, conectar fortalece equipes e agir previne perdas humanas e financeiras.
Ana Beatriz lembrou ainda que saúde mental não é um tema sensível ou paralelo: é parte da estrutura que sustenta inovação, tomada de decisão, ética, cultura organizacional e retenção de talentos. Em um momento em que o Paraná se destaca industrialmente, no agronegócio, nos serviços e no associativismo, ela alertou que crescimento sem humanidade implode de dentro para fora.
Enquanto o presidente da Faciap, Flávio Furlan, enfatizou resiliência, otimismo e confiança como fundamentos para o futuro do Eestado, Ana Beatriz complementou afirmando que sem saúde mental não há resiliência, sem valores não há liderança e sem pertencimento não há produtividade.
O tema se torna ainda mais urgente diante de pressões por resultados, transição geracional, competição por mão de obra qualificada, mudanças de modelos de gestão e novas exigências humanas e sociais. Negar o assunto, segundo ela, não protege a empresa expõe.
Reflexão Final: Humanidade e Saúde Mental como Alicerce das Empresas
Em entrevista ao programa Olho no Mercado, Ana Beatriz reforçou que a saúde mental não é uma questão exclusiva de funcionários:
"Primeiro que eu acho uma oportunidade que a gente nem pensou que ia viver para isso. E tem uma coisa que as pessoas estão sempre falando muito dos empresários em relação aos funcionários, mas os empresários também estão adoecendo. Então, quando a gente fala de saúde mental nesse país, a gente está falando que todo mundo tem que se cuidar."
Ela destacou que a percepção da população confirma a urgência do tema:
"52% da população brasileira colocou que a pior questão de saúde é a saúde mental. Não existe saúde mental sem equilíbrio emocional, sem equilíbrio emocional não existe tomadas de decisões que sejam lógicas, produtivas e coerentes. Sem saúde mental não tem felicidade. Quem quer ser feliz tem que ter saúde mental."
Ana Beatriz relacionou saúde física à mental e reforçou que o cuidado com a mente deve ser parte da rotina de todos:
"Nem se falava disso, era uma coisa assim, na década de 1980, 90, do século passado, as pessoas falavam: 'ah, meu marido infartou', era quase um status para dizer que ele era bom funcionário. O que a gente sabe que é uma besteira, é um grande burnout que as pessoas não sabiam dar nome. Hoje a gente começa a falar muito da saúde física e a gente finalmente descobriu que a saúde mental é que governa a saúde física."
Sobre comunicação e humanidade no ambiente corporativo, ela afirmou:
"Somos seres sociais, então a comunicação não é uma questão de escolha, é uma questão determinante para que a gente produza boas relações, seja no trabalho, seja na família, seja como cidadão. Às vezes temos muita coisa boa para dizer, mas não sabemos o tom que usar, não sabemos a hora que usar. Isso que são, na realidade, humanidade."

