Florianópolis assumiu um compromisso ousado: tornar-se a primeira capital Lixo Zero do Brasil até 2030. A meta não é apenas uma promessa, mas uma realidade construída ao longo de quase quatro décadas com iniciativas pioneiras que hoje fazem da cidade referência nacional em gestão de resíduos. Em 2024, os resultados impressionam: foram reaproveitadas quase 25 mil toneladas de resíduos entre recicláveis secos, vidros, restos de alimentos e resíduos verdes.
A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável destaca que esse trabalho mostra ser possível pensar em uma cidade verdadeiramente sustentável. Ao construir políticas públicas de longo prazo e com a participação ativa da população, Floripa prova que gestão de resíduos é também gestão de futuro.
O primeiro passo foi dado em 1986, com o Programa Beija-Flor, que levou coleta seletiva e triagem de resíduos a bairros populares e escolas, em uma época em que o tema ainda era incipiente no Brasil. Com o programa, em 1990 já eram beneficiadas 25 mil pessoas em dez bairros — nove destes populares, com sistema descentralizado de coleta e destino final, e um de classe média, com sistema centralizado.

Em 1991, a coleta seletiva foi ampliada para toda a cidade por meio do sistema de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) — catorze em praças, supermercados e ruas, e vinte em escolas públicas — além de dez praias, que receberam lixeiras especiais na orla marítima. O Programa Beija-Flor atendeu, até 1993, nove bairros carentes, cerca de 4.600 residências com 18.500 habitantes, recolhendo em média 8 toneladas por mês de materiais secos e 5 toneladas de orgânicos.
Educação e cidadania
Nas salas de aula, o projeto Escola Lixo Zero já implantou sistemas de compostagem em 32 unidades de ensino, capacitou professores e equipes de limpeza e avançou na criação de planos de gerenciamento de resíduos. Fora da escola, o Museu do Lixo e o projeto Minhoca na Cabeça levam educação ambiental para além dos muros, ressignificando os resíduos coletados e estimulando a compostagem doméstica.
Desde 2003, o Museu do Lixo é uma vitrine do que Florianópolis defende: os resíduos têm história e podem virar ferramenta de transformação. São mais de 40 mil itens salvos do descarte, reunidos no acervo que compõe o Circuito do Lixo, um percurso que mostra, na prática, como os materiais são tratados no CVR (Centro de Valorização de Resíduos).

Já dentro das casas, o projeto Minhoca na Cabeça transforma a compostagem em um hábito acessível. A prefeitura doa minhocários para moradores interessados, incentivando o reaproveitamento dos restos orgânicos.
Com os mais de 2 mil kits já em operação, estima-se que 32 toneladas de resíduos sejam compostadas por mês, o que representa uma economia de 12 caminhões de lixo desviados do aterro sanitário. E os impactos vão além da compostagem: a adoção dos minhocários tem refletido em mudanças nos hábitos alimentares das famílias, com mais frutas e legumes no prato.
Economia circular em prática

Um dos destaques é a coleta de resíduos orgânicos, em expansão desde 2020, que já atende bairros como Itacorubi, Trindade e Centro. Todo o material recolhido é transformado em adubo no Centro de Valorização de Resíduos (CVR) do Itacorubi, abastecendo o programa Cultiva Floripa, que mantém mais de 150 hortas comunitárias. Também há calendário fixo para coleta seletiva de verdes — galhos, folhas e troncos — que em 2024 já somaram mais de 7 mil toneladas reaproveitadas.
Além do impacto ambiental, a reciclagem também gera renda. Cerca de 200 famílias vivem da triagem de recicláveis em Florianópolis. Só os vidros, que ganharam sistema de coleta exclusiva em áreas multifamiliares e gastronômicas, somam em média 165 toneladas reaproveitadas por mês. Cada garrafa descartada corretamente significa menos emissões de carbono, economia de matéria-prima e novos empregos.
Só neste ano Florianópolis foi capaz de aumentar a coleta de vidro de janeiro a agosto em 190 toneladas. Mais de 3 mil toneladas foram recolhidas nesse período. Esse avanço se deve, especialmente, à ampliação de PEVs na cidade, de 296 para 320.

As possibilidades de descarte correto em Florianópolis crescem constantemente, e a iniciativa é considerada fundamental para o desenvolvimento sustentável. O caminho até 2030 exige esforço coletivo, mas os resultados já demonstram que vale a pena. As ações implementadas na capital catarinense têm potencial para inspirar outras cidades brasileiras, mostrando que não se trata apenas de reduzir resíduos, mas também de mudar mentalidades e construir uma cultura de respeito ao meio ambiente.
Um futuro sem lixo
Com compostagem, coleta seletiva estruturada, educação ambiental e inovação, Florianópolis mostra que é possível transformar a relação de uma cidade inteira com seus resíduos. A meta Lixo Zero até 2030 é ambiciosa, mas a capital catarinense segue firme, acumulando números, projetos e exemplos que a tornam única no Brasil.

