No Ano Internacional do Cooperativismo, declarado pela ONU, as cooperativas do Paraná consolidam-se como referência nacional e internacional do setor, destacando-se não apenas pelos números, mas também por seu impacto transformador na economia, na sociedade e no desenvolvimento sustentável.
Com 227 cooperativas ativas, mais de 4 milhões de cooperados e 146 mil empregos diretos gerados em 2024, o estado reafirma seu protagonismo no cooperativismo brasileiro e mundial.
De acordo com dados consolidados do Sistema Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), as cooperativas paranaenses alcançaram faturamento recorde de R$ 205,7 bilhões em 2024, com resultado líquido (sobras) de R$ 10,8 bilhões. O desempenho representa um terço do faturamento total das cooperativas brasileiras, estimado em R$ 757,9 bilhões, consolidando o sistema paranaense como o mais robusto do Brasil.
E as perspectivas são promissoras: o PRC300 (Plano Paraná Cooperativo 300) prevê atingir R$ 300 bilhões de faturamento até 2027. Na sequência, o cooperativismo do Paraná projeta alcançar R$ 500 bilhões até 2030, valor dez vezes maior que o registrado em 2015 (R$ 50 bilhões).
As cooperativas paranaenses são responsáveis por cerca de 65% da produção de grãos e 45% da produção de carne e produtos lácteos do estado.
O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, destaca alguns pontos que contribuíram para o avanço e o sucesso do cooperativismo no Paraná:
“Nós sempre tivemos um planejamento por região, desde o início. E esse modelo permanece até hoje. Outro ponto importante é a profissionalização. Hoje, quem faz a operacionalização das cooperativas são profissionais altamente especializados e preparados”.
Com décadas de dedicação exclusiva ao cooperativismo paranaense, Ricken ressalta o crescimento contínuo do setor no estado:
“Em 2015, nosso faturamento era de R$ 50 bilhões. Hoje, passamos de R$ 200 bilhões, e até 2030 planejamos chegar a meio trilhão de reais de movimentação econômica. O Paraná é o estado que mais evoluiu, com os melhores indicadores sociais e econômicos do País. Isso se converte em desenvolvimento, melhoria da qualidade de vida para toda a população”, observa.

Investimentos para crescimento sustentável
O Sistema Ocepar projeta que as cooperativas paranaenses investirão R$ 9,2 bilhões ao longo de 2025. Os recursos serão direcionados à construção de agroindústrias, estruturas de armazenagem, logística, produção e distribuição de energia, além de serviços. Todos os ramos do cooperativismo serão beneficiados, com foco no fortalecimento da competitividade, sustentabilidade e modernização das cooperativas.
“O nosso histórico demonstra crescimento consistente nos investimentos. Foram R$ 2,2 bilhões em 2019, R$ 3,5 bilhões em 2020, R$ 6,2 bilhões em 2022, R$ 6,8 bilhões em 2024 e, agora, em 2025, mais de R$ 9 bilhões”, enumera Ricken, ao observar que uma das principais dificuldades para avançar mais são os juros altos. “Com taxa básica de juros de 15% ao ano, fica difícil, mas nós estamos buscando alternativas”, afirma.
Além dos investimentos, o Sistema Ocepar prioriza a formação e capacitação. Em 2024, foram promovidos cerca de 15 mil eventos de capacitação, alcançando quase 400 mil pessoas. As ações foram conduzidas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Paraná (Sescoop/PR), que integra o Sistema Ocepar, com foco em qualificação técnica, formação de lideranças, educação política e estímulo à inovação.
A inovação também é prioridade. Por meio do Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense, incentiva-se a adoção de novas tecnologias, modelos de gestão modernos e práticas sustentáveis, garantindo a longevidade e a eficiência do setor.
Modelo paranaense serve de inspiração
A solidez do cooperativismo no Paraná está apoiada em uma forte cultura de governança, baseada em cooperação, ética, transparência e responsabilidade social.
As práticas bem-sucedidas do cooperativismo paranaense atraem delegações de outros estados e países, interessadas em conhecer os modelos de gestão, estruturas de governança e arranjos produtivos locais. A diversificação das atividades – que abrange os ramos agropecuário, crédito, saúde, infraestrutura, transporte, consumo, trabalho, produção de bens e serviços – contribui para a resiliência e a capilaridade do sistema, beneficiando milhares de famílias e comunidades em todo o estado.
O cooperativismo no Paraná tem se consolidado como um verdadeiro instrumento de transformação social, promovendo inclusão produtiva, desenvolvimento regional e melhoria da qualidade de vida, especialmente em áreas rurais e regiões menos assistidas pelo poder público.

“No Paraná, nós temos trabalhado para fazer com que a missão da cooperativa fique clara: organizar economicamente as pessoas para que elas tenham mais renda. E com mais renda, elas conquistem uma condição social melhor. Com esse princípio, o modelo será duradouro e sustentável, contribuindo para a construção de um mundo melhor, que é o tema do Ano Internacional do Cooperativismo declarado pela ONU.”
José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar.
O papel da Ocepar para o fortalecimento das cooperativas
A Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) tem atuação fundamental no desenvolvimento do cooperativismo, tanto no Paraná quanto no Brasil, por meio da representação institucional, fomento e apoio às cooperativas. O sistema é composto por três entidades: Federação e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecoopar), Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop/PR).
A Fecoopar é uma entidade que congrega os sindicatos patronais de cooperativas e apoia nas ações de natureza trabalhista, mediante análises de pautas de reivindicação, oferecimento de contraproposta, negociação e fechamento de acordos e convenções coletivas de trabalho.
A Ocepar atua na representação e defesa dos interesses das cooperativas paranaenses junto a órgãos públicos e à sociedade, assegurando seus direitos e promovendo o desenvolvimento do setor.
"Ela (Ocepar) foi criada em abril de 1971 com essa missão: representar e defender os interesses do cooperativismo, fortalecer um modelo socioeconômico com base em princípios como cooperação, ética, transparência, participação e inclusão”, explica Ricken.
No campo do fomento e apoio, oferece programas e soluções que visam tornar as cooperativas mais competitivas, perenes e sustentáveis, sempre alinhadas aos princípios da organização.
A capacitação e o desenvolvimento também são prioridades. Por meio do Sescoop/PR, braço educacional do sistema, são promovidas ações voltadas à qualificação de trabalhadores e dirigentes, além de iniciativas de promoção social.
A Ocepar ainda se destaca pela elaboração e execução de planejamentos estratégicos.
"Desde 1991, instituímos um sistema de acompanhamento com 42 indicadores econômico-financeiros e sociais, e fazemos esse monitoramento mensalmente", pontua Ricken.
A inovação também é um dos pilares da atuação da Ocepar, que promove programas como o Programa de Inovação do Cooperativismo Paranaense, estimulando a adoção de tecnologias e práticas modernas como estratégia de sustentabilidade e competitividade. Além disso, o Sistema Ocepar desenvolve programas de educação política, incentivando a participação dos cooperativistas na vida pública e fortalecendo a representação institucional do setor.

Desafios a serem enfrentados
Para Ricken, presidente do Sistema Ocepar, os avanços trazem otimismo, mas há muitos desafios pela frente:
“Um dos nossos grandes desafios é superar a etapa de você produzir e tentar vender. Nós temos que agregar valor ao que foi produzido, temos que colocar o produto lá na ponta, encurtar caminhos, porque daí você tem uma renda melhor para o cooperado e oferece produtos a preços melhores à população. Não é uma coisa simples, isso tem concorrência, é uma questão de organização econômica”, diz.
Outro desafio apontado por Ricken são os juros altos:
“Como é que você faz um armazém com 20% de juros ao ano? Você não consegue pagar. Então, nós temos que buscar alternativas, principalmente para a logística e infraestrutura, com recursos mais adequados.”
O terceiro desafio, na avaliação do presidente do Sistema Ocepar, é gravíssimo: a infraestrutura deficiente.
“No Brasil, nós somos supercompetentes dentro da propriedade. Hoje, nós somos modelo para os americanos, para os europeus, conseguimos produzir barato, mas nossa infraestrutura de transporte é arcaica. Como é que você chega aos portos com competitividade? Da propriedade até o porto, o produto encarece muito, então esse é um desafio enorme”, ressalta.
Ricken cita ainda como prioridades a questão da sucessão, ou seja, o preparo das novas gerações para assumir os negócios; o peso da carga tributária, que sufoca quem produz e encarece os produtos para quem consome; e a necessidade de maior integração entre todos os ramos do cooperativismo.
Brasil como referência no setor cooperativo
Com milhares de cooperativas distribuídas em todo o território, o Brasil foi apontado pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) como referência internacional, especialmente por aliar crescimento econômico à inclusão social e à sustentabilidade.
“O Brasil apresenta um terreno fértil para o desenvolvimento e crescimento do movimento cooperativista, refletindo não apenas na economia, mas também na inclusão social e no desenvolvimento sustentável das comunidades.”
Ariel Guarco, presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), durante Assembleia Geral da entidade e da Conferência Cooperativa Global, realizadas na Índia, em novembro de 2024.
O cooperativismo brasileiro alcançou um marco histórico em 2024: 25,8 milhões de pessoas estão vinculadas a cooperativas, de acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2025, divulgado pelo Sistema OCB. Esse número representa 12,14% da população do país e 23,32% da população ocupada.
O crescimento de 66% nos últimos cinco anos comprova a força do modelo cooperativista como um dos principais motores da economia nacional, além de ser uma ferramenta eficaz na promoção da inclusão social e de práticas sustentáveis.
“Esse aumento representa milhões de brasileiros que decidiram fazer parte de um modelo baseado em confiança, solidariedade e desenvolvimento compartilhado”, destaca Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.
Atualmente, o Brasil conta com 4.384 cooperativas registradas, presentes em 3.586 municípios – o equivalente a 64% das cidades brasileiras. Juntas, essas cooperativas geraram 578 mil empregos diretos em 2024, um crescimento de 5% em relação a 2023, superando em mais de três vezes a taxa de crescimento da força de trabalho nacional no mesmo período (1,4%, segundo o IBGE).
Embora alguns ramos, como agro, crédito e saúde, tenham maior participação, outras áreas também estão em desenvolvimento. Em todo o país há organizações cooperativas consolidadas nos setores de consumo, infraestrutura, trabalho, transporte e seguros, o mais novo ramo do cooperativismo.
A equidade de gênero também avançou no setor: 52% dos empregos diretos gerados pelas cooperativas são ocupados por mulheres, e 42% dos cooperados também são mulheres, o que demonstra um aumento contínuo do protagonismo feminino no ambiente cooperativista.

“O mundo mudou, e os propósitos do cooperativismo, que se concentram no bem-estar das pessoas e na busca por um mundo mais sustentável, são exemplos que merecem ser reconhecidos e adotados de forma mais efetiva.”
Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Em termos financeiros, as cooperativas brasileiras movimentaram R$ 757,9 bilhões em 2024, o que representa uma alta de 9,5% em relação ao ano anterior. Além disso, foram distribuídos R$ 51,4 bilhões em sobras aos cooperados, um aumento de 32%, e R$ 41,5 bilhões foram pagos em salários e encargos, um crescimento de 30,9%.
Desde 2019, os valores pagos em salários e distribuídos como sobras mais que dobraram, evidenciando o compromisso do cooperativismo com a valorização do trabalho e a distribuição de renda de forma equitativa.
O Sistema OCB projeta que o número de cooperados poderá atingir 30 milhões até 2027, ampliando ainda mais a contribuição do cooperativismo para um Brasil mais justo, solidário e sustentável.
ONU: cooperativismo como modelo estratégico para um mundo melhor
A Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou por unanimidade a resolução que declara 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas (IYC 2025). O reconhecimento coloca o cooperativismo em evidência como modelo de negócios inclusivo, resiliente e sustentável, com capacidade comprovada de enfrentar desafios globais como pobreza, fome, desigualdade e mudanças climáticas.
A decisão foi aprovada por todos os 195 Estados-membros da ONU, consolidando o papel das 3 milhões de cooperativas existentes no mundo, que reúnem mais de 1,2 bilhão de membros e empregam 280 milhões de pessoas – o equivalente a 10% da força de trabalho global.
Impacto global do cooperativismo
- 3 milhões de cooperativas no mundo
- 1,2 bilhão de membros cooperados
- 280 milhões de empregos ligados a cooperativas
- US$ 2,4 trilhões em receita anual das 300 maiores cooperativas
- Atuação em mais de 100 países
- ACI representa mais de 1,2 bilhão de cooperados
“As cooperativas demonstram a força da união para enfrentar desafios globais e impulsionam o desenvolvimento, combatem a pobreza, fortalecem a segurança alimentar, além de criar oportunidades econômicas em mais de 100 países ao redor de todo o mundo.”
António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o World Cooperative Monitor (2023), as 300 maiores cooperativas e mútuas do mundo movimentaram US$ 2,4 trilhões por ano e ofereceram infraestrutura e serviços essenciais para milhões de pessoas. O modelo é visto como um caminho viável para a justiça econômica, especialmente em tempos de crise ambiental e instabilidade geopolítica.
A resolução da ONU que estabelece 2025 como Ano Internacional das Cooperativas orienta os governos a:
- Implementar políticas públicas de apoio ao cooperativismo;
- Garantir acesso a financiamento e tecnologias;
- Estimular o fortalecimento institucional e a cooperação técnica internacional.

