No Paraná, o cooperativismo avança para se consolidar como um modelo de desenvolvimento regional, inclusão social e fortaleza econômica. A fórmula do sucesso registrado a cada ano é o estímulo à diversificação por ramos – uma estratégia que tem garantido ao estado um sistema cooperativo sólido, capilarizado e preparado para enfrentar adversidades.
A importância e os impactos positivos das cooperativas do Paraná não se resumem aos setores mais estruturados, como agronegócio e crédito, por exemplo. Há forte presença também em setores como saúde, trabalho, consumo e seguros.
Para José Ronkoski, superintendente do Sescoop/PR, a atuação em múltiplas frentes permite que, mesmo em momentos de retração em determinados segmentos, o conjunto do sistema mantenha sua estabilidade, gere empregos e siga oferecendo serviços essenciais à população.

“Quando uma cooperativa é formada, ela busca unir forças. E, ao trabalhar em diferentes áreas da sociedade, há um ganho muito grande. Essa diversificação fortalece o sistema como um todo.
José Ronkoski, superintendente do Sescoop/PR.
Saúde: acesso, sustentabilidade e qualidade no atendimento
Com mais de 2,78 milhões de beneficiários e presença em todas as regiões do Paraná, o ramo Saúde é um dos pilares mais sólidos do cooperativismo no estado. Em 2024, o setor faturou R$ 9,8 bilhões, com crescimento de 12,8% em relação ao ano anterior, demonstrando robustez mesmo em um ambiente econômico desafiador.
As cooperativas médicas e odontológicas, lideradas por organizações como a Unimed, Uniodonto, Dental Uni, Cooenf entre outras, têm se destacado pela solidez financeira e pelo alcance social. A margem de solvência média foi de 188%, acima do exigido pela ANS, e os ativos totais somaram R$ 6,2 bilhões. Com mais de 16 mil associados, o setor também avança em inclusão: 42,3% dos associados são mulheres.
O número de funcionários cresceu quase 18% na comparação com 2023, passando de 8.144 colaboradores diretos para 9.625.

Mais do que números, o ramo Saúde representa acesso de qualidade a serviços médicos e odontológicos, muitas vezes em regiões onde a iniciativa privada convencional não chega. A capilaridade do modelo cooperativo garante atendimento mais próximo da população e soluções personalizadas para cada realidade local.
Trabalho: serviços especializados e geração de renda local
Embora tenha registrado uma leve retração de 3,1% no faturamento em 2024, o ramo Trabalho do cooperativismo paranaense segue cumprindo papel estratégico: diversificar a oferta de serviços e gerar oportunidades para profissionais autônomos e especializados.
Com 16 cooperativas em atuação e mais de 8.248 cooperados, o segmento inclui desde professores de idiomas e técnicos de TI até consultores e prestadores de serviços manuais. O faturamento médio mensal por cooperado foi de R$ 9.990,17, demonstrando o potencial de remuneração em áreas altamente especializadas.
“Temos exemplos bem-sucedidos no ramo de trabalho, como cooperativas de técnicos agrícolas, zootecnistas e veterinários, que prestam serviços em suas regiões. Há um enorme potencial de crescimento, especialmente se houver estímulo à formalização e apoio inicial”, comenta Ronkoski.

O modelo ainda enfrenta desafios, como o aumento da participação nas assembleias (apenas 5,3%) e a baixa presença feminina (24,65%), mas mostra-se fundamental para o fortalecimento da economia local e para a formalização de profissionais em áreas diversas.
“O ramo Trabalho é muito promissor. Há espaço para muitas iniciativas, principalmente com apoio técnico, desburocratização e educação cooperativista”, complementa Ronkoski.
Consumo: serviços, supermercados e inovação em modelos de negócio
O ramo Consumo do cooperativismo no Paraná tem grande potencial de expansão. O setor teve crescimento de 40,25% no faturamento em 2024. Composto por sete cooperativas, esse ramo atende a nichos variados – de serviços educacionais e atividades profissionais até supermercados.
De 2023 para 2024, o setor aumentou em 7,7% o número de cooperados, chegando a 4.987. Esse dado é importante para recuperação da queda registrada durante a pandemia de Covid-19.
A presença feminina é significativa (52,05% dos associados) e os resultados financeiros são positivos, com margem operacional de 5,6% e EBITDA de 6,4%. O desafio, no entanto, está na baixa participação dos associados nas decisões coletivas: apenas 0,8% participaram das assembleias em 2024. “O ramo Consumo enfrenta desafios importantes, principalmente por concorrer com grandes redes de varejo. Falta apoio governamental, incentivo financeiro e menos burocracia para facilitar a estruturação dessas cooperativas”, diz Ronkoski.

As cooperativas de consumo, ao somarem o poder de compra de seus membros, conseguem reduzir custos e garantir melhores condições de negociação com fornecedores. Além disso, o cooperativismo fomenta a participação econômica dos membros, a geração de renda e emprego, e o desenvolvimento local, com o dinheiro circulando na própria comunidade.
Seguros: o mais novo pilar do cooperativismo
Em março de 2025, um marco histórico foi celebrado pelo cooperativismo brasileiro: a criação oficial do Ramo Seguros, viabilizada pela Lei Complementar 213/2025, aprovada em Assembleia Geral Extraordinária do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). O novo ramo representa uma grande conquista para o setor e para milhões de brasileiros que passam a contar com uma alternativa mais justa, acessível e democrática de proteção.
A partir de agora, as cooperativas poderão atuar em diversos segmentos de seguros privados — como automóveis, vida, habitação e responsabilidade civil — com regulamentação específica, proporcional ao modelo cooperativo. Com isso, abrem-se novas frentes de negócios, especialmente em regiões desassistidas pelas seguradoras tradicionais.
“O ramo de seguros vem com uma proposta inovadora: reunir pessoas para compartilhar riscos e oferecer produtos mais acessíveis. É um modelo que pode resolver problemas sociais e econômicos, além de promover educação securitária no país.”
José Ronkoski, superintendente do Sescoop/PR.
O modelo das cooperativas de seguros, já consolidado em países como França, Canadá e Argentina, coloca o Brasil em novo patamar no cenário internacional. Estima-se que a entrada das cooperativas no setor possa aumentar em até 15% o mercado segurador nacional e ampliar a proteção a milhões de brasileiros.
Além disso, o formato cooperativo prioriza a mutualidade e o interesse dos associados, e não o lucro de acionistas. Isso se traduz em preços mais baixos, atendimento mais próximo e distribuição mais equilibrada dos benefícios.
A diversificação dos ramos no cooperativismo paranaense é, hoje, um dos principais fatores de estabilidade e crescimento sustentável do setor. Ao ampliar sua atuação para áreas como saúde, consumo, trabalho e seguros, o cooperativismo consegue não apenas sobreviver a crises, mas avançar mesmo diante de desafios econômicos e sociais.
“Existe um mundo amplo de oportunidades no cooperativismo. Quando as pessoas percebem o verdadeiro sentido de união e propósito, todos ganham. O cooperativismo é uma alternativa real de desenvolvimento, inclusão e equilíbrio social”, conclui o superintendente do Sescoop/PR.

