Uma dança diferente iniciava a exibição da novela Partido Alto, da TV Globo, em 1984. Na abertura, um grupo de dançarinos fazia movimentos ainda desconhecidos pelo público, um tal break. A dança, que misturava passos robóticos com ginga e rodopios com as costas no chão era diretamente influenciada por uma cultura urbana surgida no Bronx, em Nova York (EUA) nos anos 70: o Hip-Hop.
Quase 40 anos depois dessa primeira aparição em rede nacional e 50 anos depois de sua criação, o breakdance, ou breaking, se prepara para ir às Olimpíadas. A modalidade vai estar presente nos Jogos Olímpicos de Paris no próximo ano. Enquanto isso, o Super Star B.boys, grupo de B-boys e B-girls criado em Curitiba, comemora 25 anos de atividades como uma referência da dança na região sul do país.
Top Rock (passos no alto), Footwork (passos no chão) e Freezes (movimentos em que o dançarino congela) estão entre os fundamentos do breaking. Mais do que apenas passos de dança difíceis de serem executados, representam uma cultura. E, por que não, para os que não curtem academia, é uma excelente atividade aeróbica por estimular circulação sanguínea, aumentar a frequência cardíaca, ajudar no condicionamento físico e colocar os músculos para funcionar.
“Meu primeiro contato foi primeiro com a música”, explica Tiago Machado Pinto, 40 anos, ou ‘Tiago Superstar’, integrante da crew Superstar B.boys. Sua iniciação aconteceu com o LP do filme Colors – As Cores da Violência, de 1988. No disco, nomes como Ice T, Kool G Rap, Decadent Dub Team, Salt-N-Pepa e outros nome do hip hop. E foi a música que despertou nele o interesse pela dança. Mas foi só em 1998 que ele se encontrou com a turma que formou o grupo, que se juntou para participar de uma batalha de dança na antiga Mustache Sound and Dance, em Curitiba, no ano seguinte. “Foi essa reunião que deu origem ao grupo”, recorda.
Foi a partir deste encontro que o Super Star B.boys começou a construir a caminhada que chega aos 25 anos em 2023. Pouco depois da batalha na Mustache, o grupo participou de uma competição em Curitiba com grupos da capital e de outros estados. E venceu em duas categorias: melhor show e batalha de equipes. O suficiente para transformar o grupo em referência do breaking no sul do país.
Uma esquina que fez história
Parte dessa história está ligada a uma das esquinas mais tradicionais de Curitiba: o cruzamento das ruas Marechal Deodoro com João Negrão, no centro da cidade. Ali, sob a marquise do Shopping Itália, há mais de 30 anos, turmas começaram a se encontrar aos sábados para ouvir rap e se desafiar mutuamente no break. Equivalente ao pátio da estação de metrô São Bento, no centro de São Paulo, onde o precursor Thaíde e KL Jay, dos Racionais MC’s, também se jogavam em passos de break nos anos 80, aquele piso liso do pátio formou turmas e botou fim à violência das richas – as rivalidades passaram a ser resolvidas nos movimentos intrincados embalados pelas batidas do rap.
Era lá também que os rapazes do Super Star B.boys iam botar em prática o que treinavam, entender o que havia de novo por aí e observar o que os outros grupos estavam fazendo para então aprimorar suas rotinas. “Era no Shopping Itália, todo sábado à noite, que os grupos se encontravam para dançar, para batalhar, mostrar evolução, que um lado da cidade era melhor que o outro, treinava mais”, recorda Tiago. Era ali também que se aprendiam novos passos e sobretudo se descobria os nomes desses movimentos. Hoje, afirma, está tudo mais fácil. Com a internet, em lives ou vídeos no YouTube se aprende a fazer os movimentos e se descobre o que grupos da mesma cidade, de outros estados e até do mundo estão aplicando nas performances e nos campeonatos.
Voos internacionais
Para se tornar referência no breaking, o Super Star B.boys treina duas vezes por semana, quintas e sábados. Somados aos treinos coletivos, cada b-boy e b-girl desenvolve também treinos físicos individuais em casa, em academia ou em parques. “Sábado à tarde é sagrado”, informa. A crew hoje não se limita a Curitiba: já conta com dois integrantes em São Paulo, um em Portugal e outro na Irlanda.
A dedicação ao breaking gera resultados. Em 2003, em São Paulo, diante de turmas de dançarinos de todo o país, o grupo foi o único da região sul do país a chegar à final. Em 2016, Fernandinho, um dos b-boys, se classificou para as quartas de final da Battle of the Year, considerada a Copa do Mundo do break, disputada na Alemanha naquele ano. Ele foi o brasileiro que chegou mais longe na competição, considerada a Copa do Mundo do breaking. O Super Star B.boys obteve um vice-campeonato em evento na Itália, na modalidade 2 x 2, em que duplas se enfrentam na dança.
No dia 28 de agosto, parte da crew deu mostras do talento para o breaking na festa do Prêmio Bom Gourmet 2023. O grupo apresentou passos e movimentos abrindo os segundo e terceiro round da premiação.
Atualmente, o grupo trabalha para concluir a criação de uma associação de break. O passo seguinte é a criação da federação paranaense, que vai permitir que os atletas locais filiados possam então participar de competições que pontuam em um ranking nacional. E a partir dele, sonhar com a obtenção de índices olímpicos. Por enquanto, as Olimpíadas de Paris servirão apenas de aprendizado.
Se a cultura Hip Hop e a dança te interessam, o Super Star B.boys realiza aulas todos os sábados, das 14h às 15h em dois espaços na região central de Curitiba. As matrículas podem ser feitas pelo whatsapp (41) 99152 5124. Para mais informações sobre os locais das aulas, acesse o site do Super Star B.boys e siga a crew no Instagram.
