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Quando falamos em Franz Kafka, uma de suas obras geralmente vêm à mente: A Metamorfose. Mas o universo kafkiano vai muito além dessas obras.
Franz Kafka nasceu em 1883, em Praga, em uma família judia de língua alemã, com uma existência marcada por conflitos familiares, doenças e dilemas internos – muitos deles transpostos para sua produção literária.
Com um olhar desconcertante sobre o mundo moderno, Kafka mergulha em temas como burocracia sufocante, alienação, solidão existencial, culpa e a complexidade da condição humana diante do absurdo da vida. Em outras palavras, ler as obras de Franz Kafka é se deparar com a estranheza do cotidiano e com reflexões que atravessam o século XX e continuam a fazer sentido em tempos modernos.
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Confira indicações de obras kafkanianas
Embora Franz Kafka tenha publicado pouco em vida, sua obra póstuma, graças ao amigo Max Brod, revelou um autor essencial para a literatura existencialista e para a compreensão das angústias modernas.
Seus livros são feitos para refletir e não oferecem respostas fáceis às questões existenciais, e é justamente isso que continuam instigando leitores no mundo todo. Veja as recomendações:
1. O Veredicto (1913)
Escrito em uma única noite, O Veredicto mistura conflito geracional, culpa e ruína emocional. O conto narra a história de um jovem que comunica ao pai que vai se casar, mas vê a conversa se transformar num julgamento abrupto – que culmina em tragédia.
É uma narrativa densa, com tons fantasiosos e simbólicos. Além disso, antecipa muitos dos temas que se tornaram marcas da literatura de Kafka. Leitura breve, mas de impacto, e uma excelente porta de entrada para os dilemas kafkanianos.
2. Na Colônia Penal (1919)
Na Colônia Penal narra a passagem de um explorador por uma colônia – prisão construída em ilha isolada, voltada para "tirar" da sociedade indivíduos indesejados – onde é convidado a assistir à execução de um preso. O oficial encarregado pela execução prepara de forma meticulosa uma máquina de tortura que aplicará a pena de morte.
O viajante se questiona se deveria interferir após saber que o preso nem sabe do que é acusado. O dilema moral se transforma após uma reviravolta que faz deste livro uma novela assustadora sobre a natureza humana.
Se você gostou da sinopse e deseja ler o livro, a Gazeta do Povo está disponibilizando o e-book completo da obra.
3. Carta ao Pai (1919)
Mais do que um desabafo, Carta ao Pai é uma chave para compreender a alma de Kafka. Neste texto intenso, ele escreve ao seu pai uma longa carta – nunca enviada – onde expõe com franqueza o medo, a culpa e o sentimento de inadequação que moldaram sua vida.
A leitura é quase desconfortável, tamanha a sinceridade e a dor contida nas palavras. É um livro curto, mas profundo, e essencial para quem quer entender a origem da angústia presente em tantas obras do autor tcheco.
4. Um Artista da Fome (1922)
Neste conto, Kafka retrata um homem cuja arte é passar fome. A narrativa se constrói a partir da história de um artista que se exibe em jejuns públicos, mas que a popularidade vai diminuindo com o tempo.
A metáfora é complexa e pode ser lida como uma crítica à sociedade de espetáculos, à incompreensão da arte verdadeira ou ao vazio da existência. É uma das obras menos comentadas de Kafka, mas com grande poder simbólico e reflexivo – ideal para quem procura livros para refletir em poucas páginas.
5. O Processo (1925)
Em O Processo, Josef K. é preso e julgado por um crime que nunca lhe é revelado. A narrativa é um labirinto onde lógica e sentido escapam a todo momento. A burocracia ganha forma monstruosa e a culpa se instala sem explicação.
Ler esse romance é caminhar em círculos e perceber que, às vezes, a sensação de injustiça é mais real que os próprios fatos. O Processo é sem dúvida um dos melhores livros de Franz Kafka.

6. O Castelo (1926)
Se em O Processo a justiça é inalcançável, em O Castelo é o poder que se mostra confuso. A história acompanha um agrimensor chamado K., que chega a uma aldeia para trabalhar, mas nunca consegue acesso ao misterioso castelo que supostamente o contratou.
Ao longo do livro, tudo se transforma em espera, frustração e mal-entendidos, à medida em que ele tenta superar os imbróglios de uma burocracia intransponível. O livro é uma metáfora sobre o sentimento de impotência diante de instituições de poder que, em vez de ajudar ou orientar o indivíduo, parecem existir para confundir, atrasar e oprimir com um labirinto de regras.
Por que ainda lemos Franz Kafka?
Kafka nos convida a olhar o mundo sem as lentes do conforto. Seus livros não são reconfortantes, mas são necessários.
Ele escreveu sobre a experiência de ser esmagado por sistemas impessoais, sobre relações humanas atravessadas por culpa e silêncio e sobre o absurdo de viver num mundo que parece não fazer sentido – temas que ecoam com força em uma época de hiperconectividade, excesso de informação e insegurança social.
Seja você um leitor iniciante ou alguém já familiarizado com clássicos da literatura, explorar os livros de Franz Kafka pode ampliar seu repertório e provocar questionamentos que continuam (e continuarão) atuais.



