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Banido pelo comunismo

Os 60 anos de “Doutor Jivago”, o filme que revoltou a União Soviética

Julie Christie e Omar Sharif protagonizam o longa-metragem de 1965
Julie Christie e Omar Sharif protagonizam o filme de 1965 (Foto: Divulgação)

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A vida pessoal de seus subjugados é a última fronteira de qualquer ditadura. Depois de controlar os órgãos de poder, a cultura e a comunicação, os tiranos mais insaciáveis buscam então invadir o seio da família. Doutor Jivago (1965), do britânico David Lean, é um libelo contra o autoritarismo. No regime soviético, um médico e poeta decidiu proclamar seu individualismo, sem medir os custos disso.

O filme é baseado no livro de Boris Pasternak (1890-1960), um romancista russo. A obra homônima foi lançada em 1957 na Itália. No país natal do autor, saiu somente em 1988, durante o governo de Mikhail Gorbachev. Isso porque os burocratas do regime comunista proibiram de imediato a sua circulação. Assim, ela teve de escapar das fronteiras soviéticas, tornando-se um grande sucesso.

A história é sobre um romance proibido entre Jivago (Omar Sharif) e a bela Lara (Julie Christie). Enquanto ele era um homem casado, ela tinha uma relação com “Pasha” Antipov (Tom Courtenay), um jovem e idealista revolucionário russo. O épico, que mistura amor e drama, foi adaptado num dos grandes filmes da história do cinema, vencendo em cinco categorias no Oscar de 1966, incluindo a de Melhor Roteiro Adaptado.

A importância da balalaica

Famoso instrumento musical russo, a balalaica se assemelha ao cavaquinho, especialmente pela sua representatividade na música popular. Enquanto o nosso tem quatro cordas e um som mais aberto, a balalaica tem apenas três e um som mais “metálico”. De toda forma, os dois se consagraram no repertório musical de ambos os países. 

Doutor Jivago abre com uma das melodias que se eternizaram na sétima arte. Tema de Lara é uma daquelas composições que logo desperta a vontade de assobiá-la. A balalaica introduz a canção em várias partes do filme, sob diferentes arranjos, conforme o tom da cena. Em momentos felizes, ela é harmoniosa. Em dramáticos, mais dissonante. E, ao final, é o instrumento quem responde ao grande mistério da trama.

O egípcio Omar Sharif (1932-2015), que protagoniza o filme de David LeanO ator egípcio Omar Sharif (1932-2015), que protagoniza o filme de David Lean (Foto: Divulgação)

É exatamente essa carga pessoal e sentimental que tanto aborreceu os burocratas soviéticos. Após a o triunfo dos bolcheviques e do brutal assassinato da família imperial russa, “Pasha” Antipov se torna um burocrata, despido de toda emoção humana, inclusive mudando de nome. Ele vira Strelnikov que, interrogando Jivago, sintetiza muito bem o que foi o horror comunista: “A vida pessoal morreu na Rússia”.

Pasternak é Jivago?

Em 1958, a Academia Sueca decidiu premiar Boris Pasternak com o Prêmio Nobel de Literatura. A honraria foi considerada inaceitável pelos soviéticos, que obrigaram o autor a recusá-la. Pasternak então teve de enfrentar o exílio, o isolamento e até o abandono de seus amigos. Infelizmente, uma história que guarda semelhanças com seu personagem mais famoso.

Doutor Jivago foi alguém que realizou sacrifícios pelas coisas realmente importantes da vida, em uma época em que sacrifícios só deveriam ser feitos por uma causa. Assim como seu criador, que criticou os desmandos de seu país, ao custo da própria obra. Ficou a lição de que nenhum governo, por maior que seja sua sanha autoritária, consegue apagar as aspirações humanas mais elevadas, que vencem quaisquer circunstâncias, como a liberdade, a música, a literatura e o amor.

  • Doutor Jivago
  • 1965
  • 197 minutos
  • Indicado para maiores de 12 anos
  • Disponível na Oldflix e para locação e compra em Amazon e Microsoft

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