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Jerry Seinfeld em cena com Hugh Grant no filme da Netflix
Jerry Seinfeld em cena com Hugh Grant, vestindo a roupa do mascote Tony the Tiger, no filme da Netflix| Foto: Divulgação Netflix

Jerry Seinfeld pregou uma peça em seu público. Após acertar na mosca dizendo num podcast que o politicamente correto e a extrema esquerda mataram a comédia, impossibilitando que tenhamos boas ofertas de humor na TV como nos velhos tempos, o criador da série Seinfeld não foi para o confronto. Preferiu lançar um filme na Netflix que dificilmente sofrerá qualquer tipo de patrulha. A Batalha do Biscoito Pop-Tart é um trabalho singelo, que pode ser até uma boa pedida para ser visto com filhos e netos, sem potencial para ofender ninguém – talvez só quem esperava algo mais ousado.

Durante a pandemia de Covid-19, Seinfeld conversou com seus parceiros roteiristas sobre escrever um filme contando a história do nascimento das Pop-Tarts, espécie de tortinha para ser esquentada na torradeira que faz sucesso nos Estados Unidos desde os idos de 1960. O humorista de 70 anos tem uma famosa piada sobre a guloseima que costuma incluir em seus stand-ups. Além disso, ele é fissurado por comida matinal, conforme visto em diversos episódios de Seinfeld. Um de seus prazeres no seriado que marcou os anos 90 era trocar o almoço ou o jantar por uma tigela de cereal com leite.

Para fazer o longa-metragem da Netflix, ele não se preocupou em contar a história como de fato aconteceu. Tanto que a Kellogg’s, marca que inventou a tortinha, não é parceira do produto audiovisual, diferentemente dos filmes da Lego ou de Barbie, que teve envolvimento da fábrica de brinquedos Mattel desde o nascedouro. Seinfeld queria poder mistificar a criação das Pop-Tarts, sem depender da aprovação da empresa de cereais, buscando pontos de risada fora do relato verdadeiro. Pena que o filme não seja tão engraçado assim.

Elenco recheado

Em A Batalha do Biscoito Pop-Tart, todos os personagens são bobos ou ingênuos. Os papeis ficaram com craques como Peter Dinklage (que faz o líder do sindicato dos leiteiros, revoltado com um novo produto matinal que não carece de leite), Hugh Grant (ator shakespeariano que faz um bico como Tony the Tiger, mascote da Kellogg’s), Bill Burr (como o então presidente JFK) e Melissa McCarthy (desenvolvedora de produtos de importância fundamental para as Pop-Tarts ganharem vida). O próprio Jerry Seinfeld, que estreia como diretor, ficou com o papel principal de Bob Cabana, o responsável pelo projeto da tortinha. No entanto, nenhum deles tem condição de brilhar na película.

Ao optar por um filme mais familiar, talvez considerando que o café-da-manhã é um tema caro para as crianças e que reúne os entes queridos à mesa todos os dias, Seinfeld fugiu de situações muitos grotescas e de diálogos ácidos. Há coisas que parecem bizarras no papel, como dois jovenzinhos que buscam por restos de alimentos nos lixos da Post, empresa rival da Kellogg’s, mas que na execução passam longe de chocar. A exceção é o personagem de Thomas Lennon, um alemão recrutado para ajudar na elaboração das Pop-Tarts. Quando o roteiro insinua que ele trabalhou para a Alemanha nazista e que inclusive estava indo morar na Argentina antes de ser chamado para o projeto, o filme realmente faz gargalhar.

No resto do tempo, A Batalha do Biscoito Pop-Tart é apenas um passatempo cheio de estrelas do cinema e do humorismo, muito aquém dos melhores momentos de Seinfeld. Se a ideia não era provar um ponto, o de que a esquerda e a patrulha politicamente correta realmente complicaram a vida dos comediantes, então ele só quis fazer um filme que matasse a fome rapidamente, sem grandes qualidades gastronômicas, como a tal tortinha americana.

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