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Desde a última semana de julho, um artigo da Gazeta do Povo de 2017 sobre o filme A Cura voltou a ser muito procurado por meio dos buscadores da internet. “É o suspense mais longo e agonizante do mundo”, diz o título do texto de Michael O’Sullivan, originalmente publicado no The Washington Post. Quase dez anos depois, o thriller psicológico de Gore Verbinski (que dirigiu filmes tão distintos quanto O Chamado, Rango e os três primeiros Piratas do Caribe) ainda desperta interesse, mesmo não tendo sido uma unanimidade de crítica ou público.
O fato do filme estar disponível na Netflix e no Disney+ facilita para que ele seja encontrado e, consequentemente, gere interrogações na plateia. Ter Mia (Gypsy Mello da Silva) Goth em um de seus primeiros papeis no cinema também contribui para que A Cura entre nas buscas tanto tempo após seu lançamento. A atriz inglesa de ascendência brasileira – ela é neta da veterana Maria Gladys, estrela de novelas como a primeira Vale Tudo – vive um ótimo momento após protagonizar a trilogia de terror composta por X, Pearl e MaXXXine.
A Cura é muito ambicioso. Verbinski e seu parceiro de roteiro Justin Haythe chegaram a dizer que a história era inspirada em A Montanha Mágica, clássico romance de Thomas Mann. O que o espectador encontra é um conto sobre um jovem executivo de Nova York identificado como Lockhart (Dane De Haan), que recebe como missão ir até um spa nos alpes suíços resgatar o colega de empresa Roland Pembroke. Lockhart rapidamente nota que a clínica de reabilitação é muito particular, mas acaba preso nela após sofrer um acidente de carro na rota de acesso.
Com a perna engessada e tomando muita água por recomendação do diretor Dr. Heinrich Volmer (Jason Isaacs), o executivo começa suas investigações e logo se vê fascinado pela figura de Hannah (Mia Goth), uma menina que circula pelo local de bicicleta e destoa do perfil de velhos endinheirados internados ali. A Cura leva quase duas horas e meia para desenrolar esse enredo, que envolve barões e baronesas que fundaram a clínica de bem-estar no castelo, aldeões que não se misturam com a elite da clínica, procedimentos inusitados envolvendo enguias e dentes caindo de podres (quem não gosta de horror corporal faz bem em evitar a experiência).
Furúnculo inchado
Avaliações publicadas à época em veículos conservadores não foram muito simpáticas com a trama amalucada. Uma das resenhas mais equilibradas foi justamente a do The Washington Post traduzida na Gazeta do Povo. “Durante a maior parte do tempo, o belíssimo e perturbador filme de Verbinski se recusa terminantemente a revelar seus segredos, que continuam a se acumular por trás de uma represa de mistério tão enlouquecedoramente impenetrável que é de se admirar que as pessoas não saiam do cinema antes do clímax. O fato de a maioria não sair se deve, muito provavelmente, ao domínio de Verbinski sobre sua técnica: uma mistura híbrida de suspense psicológico e terror corporal. Quando a represa finalmente se rompe, em um último surto de estranheza e transgressão que acontece tão rápido que é difícil de processar, é como um furúnculo inchado vomitando repentinamente seu conteúdo – surpreendente, confuso e doloroso, mas também um enorme alívio”, escreveu Michael O’Sullivan.

A respeitada plataforma católica Movieguide destaca a fortíssima visão de mundo oculta do filme, que integra elementos ambientalistas e rituais demoníacos, incluindo a adoração da água. O Plugged In complementa afirmando que, apesar de uma possível crítica ao materialismo, a história rapidamente fica verdadeiramente louca. A reviravolta ridícula no enredo ao final é vista como uma possível vitória da visão de mundo oculta do vilão, mesmo após sua morte, reforçando a conclusão de que o filme é excessivamente ocultista e moralmente inapropriado.
Ambas as análises convergem na descrição de uma obra que não apenas falha em oferecer entretenimento seguro, mas que também promove uma visão de mundo espiritualmente perigosa e contém material gráfico extremamente perturbador. Por isso, é salutar que quem se interesse pelo filme tenha em mente que pode encontrar imagens e mensagens ofensivas. Talvez o problema maior seja que, como obra de arte, A Cura não mereça esse esforço de quem dá o play no streaming. Afinal, ninguém fica feliz ao descobrir um furúnculo inchado no corpo.
- A Cura
- 2016
- 146 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível na Netflix e Disney+
Este texto compilou dados utilizando a ferramenta Google NotebookLM.
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