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O clássico Amargo Pesadelo, uma das produções mais brutais do cinema americano, chegou ao catálogo brasileiro da HBO Max neste mês de agosto. Lançado em 1972 e dirigido por John Boorman, Deliverance, no título original em inglês, é daqueles filmes que fazem até o espectador mais sereno cravar as unhas no sofá de tanta tensão.
O longa, baseado no romance de James Dickey, apresenta uma trama bastante simples: quatro homens de Atlanta decidem descer o rio Cahulawassee em uma aventura. O que parecia apenas um passeio acaba se tornando um teste implacável de sobrevivência. Em quase duas horas de tela, as cenas mesclam belas paisagens naturais com o mais puro desespero.
O grupo de forasteiros da cidade grande é formado por Burt Reynolds (Lewis), um aventureiro confiante; Jon Voight (Ed), sensível e relutante; Ronny Cox (Drew), gentil e idealista; e Ned Beatty (Bobby), inseguro e frágil. Diferentes perfis unidos por um desafio mortal: enfrentar a hostilidade da natureza e a violência dos moradores locais.
Duelo de cordas clássico
Uma sequência de Amargo Pesadelo entrou para a história ao simbolizar e sintetizar o choque profundo entre o mundo urbano e rural: o duelo musical entre Drew (Ronny Cox) e Lonnie (Billy Redden), garoto do interior. Ao som de Dueling Banjos, Cox dedilha o violão enquanto o menino, misterioso e quase imóvel, responde no banjo.

O momento inquietante tornou-se icônico e inspirou uma onda de referências culturais ao longo dos anos. Curiosamente, Billy Redden não sabia tocar banjo. Para resolver isso, o diretor Boorman recorreu a um truque, ao esconder atrás do garoto um músico local, que passou seu braço pela manga do ator para tocar o instrumento.
Forte impacto cultural
A obra foi sucesso de bilheteria e comercial. Produzido com apenas US$ 2 milhões, o filme arrecadou US$ 46,1 milhões. Recebeu também reconhecimento crítico, com indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. E mais tarde, pela relevância cultural, a produção foi incluída no National Film Registry para ser preservada pela Biblioteca do Congresso dos EUA.
Além do prestígio de público e crítica, Amargo Pesadelo foi responsável por impulsionar a indústria cinematográfica no estado da Geórgia, até então incipiente. Com a trajetória triunfante do filme, o então governador do estado, Jimmy Carter, decidiu criar uma comissão estadual que transformaria a região em polo de filmagens.
Destaque da Nova Hollywood
À época, o longa se inseriu no movimento chamado de Nova Hollywood, grupo de jovens cineastas que nos anos 70 renovou o cinema americano. O período ficou marcado pela ruptura com o sistema clássico de estúdios, abrindo espaço para narrativas mais autorais, ambíguas, violentas e introspectivas.
A Nova Hollywood revelou diretores como Martin Scorsese (Taxi Driver), Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão), Steven Spielberg (Tubarão), William Friedkin (Operação França) e Dennis Hopper (Easy Rider). Em comum a todos, as produções ousadas em tanto na forma como no conteúdo.
Filmado totalmente em locações reais, Amargo Pesadelo aparece como exemplo do movimento quando expõe uma selvageria latente sob a ideia de “civilização”. Nas lentes de Boorman, a brutalidade, o medo e a natureza surgem como uma metáfora de uma sociedade forçada a encarar seus próprios limites morais.
O filme contém sequências intensas de violência física e psicológica, incluindo tortura, assassinato e agressão sexual. Ao abordar a brutalidade humana e a luta pela sobrevivência em condições extremas, a obra pode causar forte impacto emocional em espectadores mais sensíveis.
- Amargo Pesadelo
- 1972
- 109 minutos
- Indicado para maiores de 18 anos
- Disponível na HBO Max, Looke e Netmovies
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